O ciclo virtuoso de produtividade no Vale do Silício

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Exaltar o ecossistema de inovação, a cultura empreendedora e a coletividade do Vale do Silício, Costa Leste dos Estados Unidos, é chover no molhado. A região se tornou símbolo de sucesso e conquistou credibilidade no mercado reunindo excelentes instituições de ensino, centros de pesquisa, atraindo mão de obra especializada e virou lar de grandes empresas inovadoras.

Da imersão que fiz por lá durante quase dois meses este ano, foi possível notar detalhes que com certeza são determinantes para forjar esta aura produtiva que tanto exaltamos – e queremos incorporar em nossas empresas no Brasil. A diferença cultural do profissional em relação ao que nos deparamos aqui é muito grande e percebemos as discrepâncias como o trabalho é por lá encarado.

Primeiramente, nas empresas por onde transitei (pequenas, médias, grandes, de tecnologia, serviços, varejo e outros diversos segmentos) dificilmente ouvia-se falar em produtividade, faturamento, resultados ou estes temas mais, digamos, "chatos" que não cansamos de tocar. A impressão que se tem é que eles já conseguiram transcender isso, que eles estão em outro nível.

A impressão que temos é a de que o nosso pessoal trabalha muito mais horas que o de lá, mas no Vale do Silício o profissional é muito mais produtivo. O ambiente é mais flexível, bem como os horários, onde as pessoas, se quiserem, podem chegar tarde no local de trabalho, mas produzir por 10h, 12h, até mesmo 15h ininterruptas, se assim desejarem. Soma-se a isso uma legislação trabalhista adequada às práticas comuns de mercado – diferente da engessada regulação que temos no Brasil – e uma mentalidade empresarial inovadora que estimula a produtividade.

É nítido como as pessoas estão tão focadas nas suas atividades e no cumprimento de suas demandas. Elas removem qualquer tipo de interrupção e tem programados cada hora de seu dia e, com certeza, vão entregar o que se comprometeram no dia anterior. É uma mistura de foco com flexibilidade: todos estão prestando atenção em seus afazeres, mas, complementarmente, com seus radares ligados para qualquer novidade ou oportunidade que possa aparecer.

Sabemos que o Brasil é um dos piores colocados no ranking de produtividade e competitividade global. Hoje ocupamos o 75º lugar na lista do Fórum Econômico Mundial, e estamos atrás de mercados pouco proeminentes como México, Índia, África do Sul e Rússia, e de economias menores, como Uruguai, Peru, Vietnã, Hungria e, pasmem, Ruanda.

E não são somente as redes sociais – que considero muito importantes para o desenvolvimento profissional – que nos atrapalham. Um bom exemplo do que defendo é a forma como utilizamos o e-mail, que é uma das principais ferramentas de comunicação na grande maioria das empresas. Enviamos comunicados, relatórios, documentos, agendamos reuniões, contatamos fornecedores… é muita informação que nos desvia do foco principal de nossas demandas e acaba sendo nocivo ao processo, em vez de auxiliar.

Há alguns anos, a Intel instituiu o "Dia sem E-mail". Os gestores da companhia suspeitaram que os funcionários estavam muito dependentes do correio eletrônico e que isso estava prejudicando a produtividade dos funcionários. A iniciativa já rendeu frutos quatro meses após implantação, quando a empresa divulgou que a campanha havia sido um sucesso: melhorou o trabalho em equipe, a satisfação dos clientes e aumentado a rapidez na resolução de problemas.

Será que o tempo no Vale do Silício é mais curto do que no Brasil? Claro que não. O que eles possuem, de fato, é uma metodologia que implementa cronogramas rigorosos para atendimentos às suas demandas, enquanto aqui ainda temos muitas distrações que nos desviam do objetivo final. Estamos entre as dez maiores economias do planeta e, com certeza, este é um dos principais pontos que temos que melhorar se quisermos nos desenvolver ainda mais e instituir um "ciclo virtuoso de produtividade no Brasil".

Daniel Pozza,  Business Development do Cake ERP e gerente de Produto da NL Informática.

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