A 27ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 27), realizada entre os dias 6 e 18 de novembro no Egito, trouxe uma importante temática no que tange aos novos rumos do agronegócio: a segurança alimentar, que tem no Brasil um papel estratégico, sobretudo por sua geopolítica e pela nova consciência que está se formando e teme o impacto dos negócios de curto prazo na natureza.
Diante deste cenário, o agro brasileiro, que há mais de 40 anos vinha sendo trabalhado com uma visão puramente comercial, desconsiderando as pautas ambientalistas e climáticas, o que reduziu drasticamente o potencial produtivo dos solos, terá de readaptar sua agenda tendo em vista aspectos como as novas gerações, a agricultura familiar, os riscos climáticos e a descarbonização.
Uma sociedade mais competitiva na agricultura, que continue a produzir alimentos, precisa mirar num modelo regenerativo, que envolva a segurança climática e alimentar. Não adiantará seguir uma agricultura que foi modelada há anos. Continuar com o extrativismo aumentará a improdutividade da terra e, consequentemente, a necessidade de mais desmate.
Nessa nova fase do agronegócio, o solo precisa ser melhor gerido no que tange à irrigação, ao manejo sustentável do gado e ao uso de produtos químicos. Num primeiro momento há a desvantagem desse formato sustentável gerar o aumento do preço dos alimentos. Mas, para equilibrar essa equação, uma saída é o repasse dos custos às exportações para que parte desse valor remunere o ecossistema de segurança alimentar. Ou seja, o Brasil não precisa ficar atrelado ao preço das commodities internacionais.
Nesta visão de mudança para uma agricultura mais sustentável, é importante considerar o tamanho do produtor e quais incentivos ele precisa para virar essa chave. Um grande agricultor precisará de menos apoio, ou seja, com alguns incentivos é possível modificar seu modelo. Porém, o pequeno produtor terá mais necessidade de assistência técnica e apoio financeiro para apostar num novo manejo. Aqui, é preciso encontrar um caminho para prover ferramentas e recursos financeiros se quisermos modificar esse modelo.
Além dessa visão direcionada, temos que considerar que a agenda climática é uma questão central nesta equação de uma agricultura sustentável no mundo. Todos os assuntos correlatos, como a segurança alimentar, estão relacionados à atenção climática. Durante a COP 27, gigantes do agro anunciaram uma declaração de comprometimento coletivo para garantir a limitação do aquecimento global. Empresas como Amaggi, Bunge, Cargill, Cofco, JBS e Marfrig, entre outros, lançaram um roteiro considerando que o sistema alimentar mundial contribui com um terço do total líquido das emissões de gases-estufa. E esse total, para termos a chance de conter o aquecimento global em, no máximo, 1,5°C, precisa diminuir em mais de 80% até 2050.
Ainda não sabemos se esse compromisso terá transparência e rastreabilidade para que seja eficiente em relação ao seu objetivo. De toda forma, o Brasil se configura como um País que detém papel estratégico na agenda da segurança climática e alimentar. Na missão de aproveitar a terra de forma eficiente para preservar os recursos naturais, uma das apostas está na tecnologia, e por aqui temos um celeiro de startups e, mais precisamente, agtechs, que são fundamentais para tornar esse caminho possível. Não há mais como pensar no agronegócio sem considerar a redução dos impactos ambientais, visando a construção de um contexto mais favorável à preservação. O Brasil precisa seguir sua rota rumo ao desenvolvimento sustentável!
Phelipe Spielmann, fundador e CEO da Bluebell.