A economia digital é maior do que imaginamos e seus impactos ultrapassam qualquer tipo de tela. Alguns a chamam de a Segunda Era das Máquinas. A última edição do Fórum Econômico Mundial, em Davos, coroou-a como a 4ª Revolução Industrial. Ninguém está minimizando o impacto futuro do digital, mas há o risco de que muitos estejam subestimando sua supremacia.
Uma pesquisa recente da Accenture revela que a economia digital representa um terço da economia dos EUA, o equivalente a 5,9 trilhões de dólares. A proporção é semelhante no Reino Unido e na Austrália, mas cai para cerca de um quarto na França e na Alemanha, e na China representa menos de 15% do PIB atual.
Estes dados são bastante representativos. Muitas empresas e organizações assumem que irão vivenciar a transformação digital; acreditam que as startups impulsionadas pela tecnologia irão revolucionar seus modelos de negócios tradicionais e, desta forma, ameaçar sua posição competitiva. Isso até pode ser verdade, mas a amplitude dos ativos e das habilidades digitais constitui uma melhor base para que as organizações se desenvolvam, além de significar que elas podem ser mais agressivas e proativas em revolucionar os mercados.
A maioria das estimativas da economia digital contam predominantemente com custos relativos à Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC). A medida da pesquisa mencionada é mais abrangente: analisa a proporção de profissões e empregos que têm competências digitais importantes para esses trabalhos. Por exemplo, 43% dos postos de trabalho nos EUA podem ser considerados digitais. Isso inclui como software e hardware estão proporcionando valor a toda a economia. A pesquisa também estima que 26% do estoque de capital acumulado nos EUA pode ser considerado digital.
Isso não significa que tornar um negócio digital irá exigir menos esforço do que pensávamos, mas nos dá certa confiança de que a base é mais forte em muitos países do que se presumia. Como investidores e empresas avaliam seus próximos passos para a transformação digital? É importante avaliar três mitos:
Mito 1: Uma economia digital maior significa maior crescimento econômico
Da mesma forma que o tamanho do setor manufatureiro de um país não garante uma taxa de crescimento específica, a economia digital também não. Uma fatia digital maior do bolo não aumenta automaticamente o tamanho dele. O que interessa é a aplicação de investimentos digitais e como ela pode gerar maior produtividade e crescimento.
O estudo estima, por exemplo, que as organizações norte-americanas poderiam coletivamente adicionar mais de 421 bilhões de dólares ao PIB dos EUA até 2020, o equivalente a um aumento de 2,1%, se elas combinassem três alavancas de crescimento: habilidades digitais (aptidão da força de trabalho para utilizar e se adaptar a novas tecnologias), tecnologias digitais (conectividade e infraestrutura) e outros fatores de aceleração digital (inclui vários parâmetros, tais como utilização efetiva de Computação em Nuvem e disponibilidade de recursos financeiros no mercado).
Mito 2: Tudo o que precisamos é de um maior investimento em tecnologia
Para converter investimentos digitais existentes em taxas mais elevadas de crescimento, devemos lembrar que as organizações e as economias estão em pontos diferentes de maturidade. Para os EUA alcançarem um aumento de 2,1% no PIB, por exemplo, o estudo sugere que apenas 10% de seu esforço extra deva ser dedicado à tecnologia digital. Em vez disso, cerca de 60% destas melhorias deveriam ser destinadas às habilidades digitais.
No caso do Brasil, seria o inverso. O estudo estima que a economia local poderia ter um impulso de 6,6% no PIB até 2020 se o país utilizar as alavancas digitais adequadas. Para isso, 70% deste esforço extra deve ser dirigido à melhoria das tecnologias digitais e aos fatores de sua aceleração.
Mito 3: Os gigantes on-line irão continuar a dominar a economia digital
Amazon, Google e Facebook – estas marcas redefiniram vários mercados. Elas conseguiram isso dominando a chamada economia de plataforma, na qual utilizam a rede para reunir fornecedores, clientes e parceiros para oferecer novas formas de valor. As quinze maiores empresas beneficiadas por essa plataforma possuem um total coletivo de mercado de 2,6 trilhões de dólares. Os legisladores europeus já têm manifestado preocupação com relação a esse domínio.
Mas agora vemos a oportunidade das tradicionais empresas analógicas se beneficiarem das plataformas digitais de maneira semelhante. Por meio da geração de dados de suas redes de produtos e parceiros, essas empresas podem passar a oferecer novos e ricos serviços. A liderança da Europa em engenharia, saúde e produtos farmacêuticos, por exemplo, proporciona a oportunidade perfeita para transformar seus negócios tradicionais em agentes da plataforma digital com influência global.
Expor esses mitos é importante se quisermos mobilizar os diversos setores que ainda precisam ser revolucionados pela nova economia digital e garantir que legisladores os apoiem, canalizando investimentos da maneira certa. O tamanho da economia digital subjacente é significativo e não há argumentos para o seu atraso.
Paulo Ossamu, diretor executivo da Accenture Technology Strategy.