Muitos assumem que economias emergentes, como a do Brasil, não estão preparadas para aproveitar o poder dos dados. No entanto, isso não poderia ser uma impressão mais errada. Milhões de pessoas em países em desenvolvimento já estão vivenciando o impacto extraordinário que os dados estão causando em suas comunidades. Atualmente, mais de 90% das ONGs instaladas nesses locais acreditam que a análise de dados é a chave para fortalecer a capacidade de crescimento da região. Cientistas, pesquisadores, engenheiros de software e desenvolvedores estão criando softwares e tecnologias sob medida para países em desenvolvimento, especialmente em áreas como agricultura, saúde e gestão de recursos.
Práticas agrícolas mais inteligentes estão ganhando espaço no mundo emergente por meio do uso de sensores de identificação por radiofrequência. Esses coletores de dados em tempo real estão levando a práticas de cultivo mais sustentáveis e ao aumento da capacidade de produção de alimentos para grandes populações. No Brasil, o agrobusiness está usando softwares e analisando dados para aperfeiçoar técnicas de controle de pestes, reduzir custos e impulsionar a produtividade.
O impacto tem sido especialmente significativo no setor de saúde. Hospitais brasileiros estão usando etiquetas de identificação de radiofrequência em macas, cadeiras de rodas e outros equipamentos médicos, o que permite que suas localizações sejam mapeadas em tempo real, facilitando a gestão do inventário e evitando a aquisição desnecessária de novos equipamentos. Na África, a impressão de próteses está melhorando drasticamente a qualidade de vida de pessoas que tiveram membros amputados, pois modelos 3D podem ser gerados com rapidez e por uma fração do custo de próteses tradicionais. No Quênia, cientistas estão usando dados celulares para localizar pontos focais de transmissão de malária. Epidemiologistas descobriram que dados de torres de celular poderiam rastrear os padrões de viagem da população em torno de fontes de malária como o Lago Vitória. Com esses dados, o governo queniano foi capaz de detectar novos surtos e realizar esforços mais eficientes para a erradicação da doença.
A ciência dos dados também está mudando a forma como recursos são gerenciados. Nas Filipinas, cientistas de dados da IBM estão monitorando o uso de água para distribuir melhor o recurso entre comunidades. Sensores em poços subterrâneos são usados para transmitir informações imediatas sobre a quantidade de água, criando um sistema para mapear e analisar as condições do suprimento. Dados em tempo real também conseguem indicar quando uma bomba está prestes a falhar, permitindo que engenheiros tratem do problema antes que a distribuição de água para a comunidade seja interrompida.
A partir desses exemplos, não é de se espantar que as economias emergentes estejam crescendo mais do que você imagina em termos de dados tecnológicos e inovação. Segundo o IDC, essas economias, incluindo o Brasil, vão ultrapassar os países desenvolvidos como os principais produtores de dados até 2020. Nesta era de mudanças rápidas, como podemos contribuir para ajudar as pessoas em países em desenvolvimento a usar dados para melhorar suas vidas?
Empresas e governos no mundo todo precisam incentivar investimentos em inovação de software e apoiar políticas que protejam a movimentação de dados ao cruzar fronteiras. Países que restringem o compartilhamento de dados podem limitar, ou até mesmo eliminar, oportunidades e soluções que seriam usufruídas pelo mundo inteiro, aumentando a qualidade de vida de todos. É necessário que dados possam se mover entre países e continentes. Para isso, legisladores no mundo todo devem apoiar ações que fortaleçam o compartilhamento de dados.
Softwares e a análise de dados já estão aumentando drasticamente o bem-estar de pessoas nessas regiões e impulsionando suas economias, mas o progresso só vai se acelerar se trabalharmos de forma coletiva para tornar a revolução digital realmente global.
Antonio Eduardo Mendes da Silva (Pitanga), country manager da BSA para o Brasil.