"Para o próximo ano fiscal esperamos contratar 200 mil novos profissionais de TI , 100 mil estudantes já receberam suas ofertas de emprego." Seria ótimo ouvir esta frase no Brasil, mas ela ocorreu na Índia, país que exporta aproximadamente US$ 120 bilhões em serviços de TI/BPO por ano e gera 11,7 milhões entre empregos diretos e indiretos.
A estimativa da exportação brasileira de serviços de TI/BPO gira em torno de US$ 2,5 Bilhões, a conferir. Tivemos uma razoável evolução nos últimos anos graças ao empenho de empresas nacionais e multinacionais estabelecidas no país, e à organização setorial, por meio de entidades como Brasscom, ABES, Assespro, Fenainfo, Softex, Sucesu, e seus esforços em sensibilizar o governo, que surtiram alguns efeitos, como a desoneração da folha de pagamento.
Não obstante os esforços locais, o Brasil mal alcança 2% da receita de exportação indiana. Quase todos citam a Índia quando o assunto é offshore e, pelo jeito, parece que eles vão se perpetuar como líderes disparados neste setor.
No entanto, o tema é controverso e há grandes oportunidades para o Brasil. Parte significativa das empresas globais, contratantes de serviços offshore, estão pressionando as empresas indianas a encontrarem alternativas regionais ao provimento de seus serviços, principalmente por razões de mitigação de riscos geopolíticos. Aspectos inerentes a alguns serviços que demandam contato em horário comercial com o cliente final, onde o diferencial do fuso horário se faz presente e, ainda, a implantação efetiva de processos "follow the sun", também abrem possibilidades interessantes.
Neste cenário, Brasil e México são, predominantemente, o primeiros países a serem escolhidos para atender estas demandas de mercado, inclusive recomendados expressamente pelos clientes globais, que costumam ter importantes operações na região.
É claro que também competimos com China, Malásia e Filipinas, por exemplo, mas se a variável "fuso horário" está inserida, estes dois países são os primeiros a serem lembrados, o México por fazer parte do NAFTA e América do Norte; e o Brasil por ter o maior contigente de profissionais de TI na América Latina.
Desta demanda, aproximadamente 10% poderiam ser transferidos rapidamente para o Brasil e períodos entre três e sies meses seriam confortavelmente adequados para esta transição, sem sacrificar o nível de serviço prestado aos clientes contratantes. Isso significaria US$ 12 billhões em receitas anuais de serviços e aproximadamente 200 mil novos empregos qualificados.
O que falta para isto acontecer? O de sempre: mão de obra capacitada, redução do custo fiscal, simplificação da burocracia, agilização na aprovação de vistos etc. Destes, assumindo que os demais aspectos poderiam ser rapidamente resolvidos pelo governo, a frente que toma mais tempo é a formação de mão-de-obra. Além da necessidade de termos profissionais capacitados em diversas tecnologias, a fluência em inglês e espanhol são pré-requisitos para a participação competitiva no mercado global.
Como então trazer estes US$ 12 bilhões em novas receitas de exportação de serviços de TI? Como formar 200 mil profissionais capacitados a prover tais serviços em curto espaço de tempo?
Nossa chance está em investir radicalmente em programas de formação de dois anos para atender o mercado global, leia-se TI + idiomas, de preferência apoiado por certificações profissionais independentes, como Brasscom + Nasscom e afins, e compor com o governo indiano, um modelo de incentivo fiscal entre as nações que promovesse a transferência de atuais contratos de provimento de serviços para o Brasil em contrapartida à isenção de impostos de importação, que hoje onera em 40% a importação de serviços. Tal modelo poderia transformar o Brasil em um importante player global.
Por exemplo, poderia se pensar num acordo que para cada US$ 1 de exportação brasileira de TI/BPO haveria US$ 0,70 de isenção para importação de serviços. Desta forma, o volume de profissionais necessários para o Brasil gerar seus US$ 12 bilhões de exportação cairia para 60 mil profissionais, ou aproximadamente 30% de todo o esforço para a entrega dos serviços.
Isso significa que embora nossa própria força de trabalho interna pudesse gerar somente US$ 3,6 bilhões, funcionando como um hub de nearshore, e facilitando a absorção e integração de serviços executados em outras partes do mundo, o Brasil poderia garantir para si uma parcela muito maior deste mercado global e saltaria para as primeiras posições no ranking das nações exportadoras de TI.
Este modelo incentivaria a India a mover parte de sua capacidade de entrega para a operação brasileira e nos daria o tempo suficiente para nos tornarmos, de fato, competitivos neste mercado, confirmando a liderança do Brasil em TI/BPO na América Latina e, ao mesmo tempo, ganhando mais tempo para formar profissionais para atender 100% da demanda de serviços globais.
Comparado com outros setores de nossa economia, o investimento necessário e o tempo para exportarmos serviços de TI será muito menor e o retorno em número de geração de empregos e aprimoramento tecnológico tomará um rumo ascendente e contínuo.
A oportunidade está aí, mas há um prazo de validade. Outro país, como o México, por exemplo, poderia preencher esta lacuna de mercado. Educação e abertura comercial são os pontos-chave para o Brasil se posicionar de forma efetiva e irretratável neste mercado.
Alea jacta est!
Alberto Rosati, CEO da Tech Mahindra no Brasil