MIAMI — Nos próximos anos, haverá uma grande transformação na estratégia de negócios da SAP, uma das maiores fabricantes mundiais de software de gestão empresarial (ERP). E essa mudança atende pelo nome de cloud computing. O novo direcionamento, anunciado há duas semanas, foi o mantra repetido no Americas Partner Summit, evento que terminou nesta terça-feira, 30, em Miami, nos EUA, e que reuniu os parceiros de negócios da empresa das três regiões das Américas.
Segundo o presidente de vendas mundial da SAP, Robert Elsin, alguns números já mostram o resultado em relação à nova estratégia, que já soma 30 milhões de usuários dos softwares na nuvem da companhia e respondem por US$ 460 bilhões em transações de negócios. A empresa aposta suas fichas no mercado de big data (predictive analytics), gestão e aplicativos em dispositivos móveis e soluções em cloud computing, todos rodando na plataforma SAP Hana, tecnologia em memória para gestão de negócios.
A maior parte deste montante ainda é de novas aplicações de empresas adquiridas nos últimos anos pela SAP, como a Business Object, Sucess Factor, Sybase e Ariba, que oferecem softwares mais facilmente parametrizados, como de recursos humanos, gerenciamento de dispositivos móveis, CRM, e-procurement, análise preditiva etc., todos operando na plataforma SAP Hana na nuvem. Essas soluções, somadas, representam cerca de 70% da receita mundial da SAP, que até bem pouco tempo estava concentrada em sistema de gestão empresarial.
O brasileiro Rodolpho Cardenuto, presidente da SAP Américas, ressaltou que essa é uma oportunidade para os parceiros de vendas, pois o modelo negócio baseado em cloud (Opex versus Capex) não exige investimento em infraestrutura e equipes especializadas. Ele explicou que a região, que engloba os três continentes, é responsável por 40% das vendas globais, e cresce acima das taxas de mercado e da própria corporação. "As pequenas e médias empresas são uma grande oportunidade para adoção de cloud, pois elas querem usar o investimento no próprio negócio, não em criar uma infraestrutura de TI", enfatizou.
"Ainda neste ano, cerca de 2 mil a 2,5 mil empresas norte-americanas, usuárias da Oracle, devem decidir a migração para a plataforma Fusion, o que nos oferece uma oportunidade de negócios, pois eles podem escolher outra plataforma em cloud, como a nossa, que já está preparada", observou Cardenuto. A solução Business Suíte em Hana está operando em 288 clientes mundialmente, em diferentes segmentos de mercado.
Perspectivas para o Brasil
No Brasil, a empresa também está otimista, pois no segundo trimestre fiscal a operação local cresceu 46% em relação ao mesmo período do ano anterior. E mesmo o fraco desempenho da economia brasileira e a alta dólar não devem afetar os objetivos subsidiária brasileira, segundo Diego Dozdan, presidente da SAP Brasil e responsável pelos países do Sul do continente. Segundo ele, o mercado ainda vai conviver com as soluções de gestão empresarial on premises (venda de licenças) e na nuvem.
"O que deve migrar para a nuvem são soluções menos críticas, como o software de human capital Sucess Factor, por exemplo. Mas vamos mesmo assim continuar crescendo dois dígitos nos próximos meses, pois conseguimos configurar novas ofertas consistentes do core de segmentos como de seguro, bancos e agronegócios, onde não tínhamos forte presença", diz Dozdan.
A empresa também espera grande expansão no potencial das 400 mil empresas de pequeno e médio porte que podem aderir à nuvem, e também nas parcerias com grandes empresas que tenham um grande números de clientes, como operadoras de telecomunicações, distribuidoras, seguradoras, financeiras, empresas de cosméticos etc., a maioria delas entre as quinhentas maiores empresas do país e clientes da SAP.
Sandra Vaz, vice-presidente de vendas para canais da SAP Brasil, diz que foi elaborado o Programa Private Cloud, onde cerca de 250 parceiros de negócios podem levar essa estratégia ao mercado, que consiste em conquistar parte desse grande número de empresas que queriam adotar uma solução de ERP da SAP, mas não tinham recursos. "Com o Business One na nuvem, o cliente pode pagar a partir de R$ 400 ao mês por usuário."
A SAP também está promovendo um oferta competitiva tendo como alvo os clientes da Totvs. De acordo com a executiva, um cliente da concorrência que migrar para o Business One na nuvem pode somar o que gasta regularmente com custo de software e hardware e abater das mensalidades da nova solução, o que significa prestações menores. O prospect pode ainda fazer um "trial" de um mês gratuitamente, para testar o Business One.
Com isso, ela pretende eliminar obstáculos que se antepõem a decisão dos clientes, acelerando a geração de valor e aproveitando as oportunidades para reduzir o custo total de propriedade, ao mesmo tempo ajuda a proteger os investimentos e a explorar alternativas na nuvem, deixando ao critério do cliente o ritmo em que avançará no processo de adoção. Ela explicou ainda que já estão conversando com 50 grandes empresas no Brasil, para replicar um modelo adota com a operadora America Móvil, no México, que comercializa para sua base de clientes o Business One na Nuvem, e dessa forma podem fidelizar seus clientes, obter maior volume de transações e conquistar novos clientes, evitando também a troca de operadoras, cujo índice hoje se situa na casa 20% da base de assinantes. .
"Estamos conversando com operadoras brasileiras, financeiras, empresas de cosméticos com grande número de franqueados, empresas de convênios médicos. Conversamos, por exemplo, com a Petrobras que tem a rede Petronet, e com a Citrosuco, que reúne um grande número de pequenos produtores rurais que transacionam com a sede da empresa", explica
Mas as iniciativas na nuvem não param por aí. A SAP está começando a oferecer soluções de mobilidade, como gerenciamento de dispositivos (MDM) e aplicações como emissão de pedidos e field services hosteadas na nuvem.
Vendas indiretas
Em relação às vendas, a SAP diz que os negócios indiretos, feitos por meio de canais, na América Latina e no Caribe tiveram um aumento de 54%, representando 42% do total das vendas da companhia na região, em relação ao segundo trimestre de 2012. Os números indicam que os parceiros de negócio devem somar 40% das vendas mundiais até 2015, número, portanto, já superado. Entre os países com os melhores resultados estão o Brasil (263%), o Chile (76%) e o México (15%). Os dados correspondem ao segundo trimestre de 2013, na comparação com o mesmo período no ano anterior, e foram divulgados no SAP Americas Partner Leadership Summit.
No ano passado, 10% do total de vendas na região vieram da modalidade de nuvem gerenciada como serviço. Entre os clientes no Brasil que já estão utilizando esse modelo estão EngineBR, ITST, MC1, Ramo Sistemas, Resource, SQL Tech, T-Systems e a Vert.
Sandra completa dizendo que já existem 50 empresas que fizeram acordo de OEM, batizado de Powered by SAP Business One, onde embarcam o Business One na nuvem junto com suas próprios soluções, como de gestão fiscal, por exemplo.
O jornalista viajou a Miami a convite da empresa.