Crise econômica e a nova geração de prestadores de serviços

0

Em tempos de "vacas magras", os empresários desenvolvem uma aversão aos riscos. Certo? Errado. Os fatos mostram que é justamente nesse período de dificuldades que surge uma geração de novos empreendedores, que recorrem à criatividade e à inovação para dar início a um novo ciclo de crescimento.

É verdade que, após se blindar dos efeitos da crise financeira dos EUA, que eclodiu em 2008 e espalhou seus efeitos sobre a economia mundial em 2009, o Brasil vem amargando um longo período de estagnação e recessão, iniciado em 2014, e sem data marcada para terminar. A onda de pessimismo e desconfiança no mercado, ampliada com o anúncio do ajuste fiscal pelo governo federal no início deste ano, é acompanhada por um duplo movimento recessivo: de um lado, o alto empresariado freia seus investimentos; do outro, a demanda retrai seu consumo em um ambiente de insegurança no mercado de trabalho, preços em alta e crédito restrito.

No entanto, mesmo considerado esse panorama de incertezas que rondam a economia brasileira, o empreendedorismo no país avança a passos firmes. Os números falam por si só: por conta também da queda no ritmo de geração de emprego no mercado tradicional e pela busca de novas oportunidades, mais de 800 mil empresas foram abertas no país entre janeiro e maio deste ano, segundo dados do Serasa Experian. O número é 69% superior ao verificado em 2010, ano de maior crescimento econômico do país desde o início da crise, quando foram criadas aproximadamente 575 mil empresas no mesmo período.

Em 2010, o PIB brasileiro atingiu o pico de 7,5%, puxado principalmente pelo aquecimento do consumo e do crédito. Agora, mesmo com o recuo do PIB em 0,2% no primeiro trimestre, após um ano de economia com crescimento próximo do zero, e considerado o cenário adverso de consumo retraído e juros apertados, o país assiste ao surgimento de mais empresas do que nos "tempos de bonança". Isso quer dizer que, na prática, a oscilação do PIB pouco tem a ver com o nascimento de novos negócios no Brasil e que, mesmo em cenários de crise, o brasileiro tende a investir no seu próprio negócio.

Ainda segundo o estudo da Serasa, de janeiro a maio deste ano o número de empresas abertas no Brasil foi 3,4% a mais que no ano passado em relação ao mesmo período, e, somente nesses cinco primeiros meses, já foram criadas 44% das empresas que nasceram durante todo o ano de 2014. Novamente, as perspectivas negativas sobre a economia não parecem assustar os novos empreendedores.

Serviços.

Os dados acima expostos reforçam a genética empreendedora do brasileiro, com atenção especial para o setor de serviços, que cresceu 19% nos últimos anos. A chamada "economia de serviços" tem assumido o protagonismo do mercado com inovação tecnológica, potencial de crescimento rápido, alta flexibilidade e geração de emprego. Hoje, o setor é responsável por 75% dos empregos formais no país e representa mais de 60% do PIB nacional (em 2010, representava 53,10%), acompanhando uma tendência mundial onde o setor terciário é fundamental para movimentar a engrenagem econômica como um todo.

A ascensão do setor é reforçada pelos dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP). Segundo levantamento recente, o setor de serviços é um dos que mais crescem no país. Só no Estado de São Paulo, cerca de 900 mil negócios atuam nessa área. Até 2020, o segmento deve ter quase 1,3 milhão de empresas.

Estudos internos da Contabilizei apontam para um rápido desenvolvimento do setor de Tecnologia da Informação (TI), representando 48% das empresas prestadoras de serviços abertas em um ano. Num mundo cada vez mais digitalizado e automatizado, o serviço de TI é considerado imprescindível nas estratégias de negócios das empresas.

O setor de serviços mais aquecido após o de TI, segundo a Contabilizei, é o de serviços administrativos, como gestão e consultoria. Em um ano, representaram 13% das novas empresas abertas pelo escritório de contabilidade online.

Uma área cujo crescimento interno coincide com a média de crescimento nacional é a publicidade, representando 8% dos novos negócios. Serviços de engenharia, design e arquitetura somam 4% das firmas abertas pela empresa.

Como se vê, a economia apresenta uma dinâmica interna muito mais complexa e contraditória do que quando observada na sua totalidade, de um ponto de vista macroeconômico. São as iniciativas empresariais de diversos setores não menos importantes para mover a locomotiva econômica de um país que apontam para uma recuperação do ambiente de negócios como um todo.

Vitor Torres, fundador da Contabilizei.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.