Você chega em casa após um longo dia de trabalho e o voicebot te dá boas-vindas informando, em alto e bom som, as principais notícias do dia. Depois, sugere que vá tomar um banho relaxante enquanto encomenda aquele prato preferido que não saboreia há algum tempo. Terminado o jantar, ele te lembra que ainda não pagou a conta do cartão e pede autorização para conversar com o bot do banco para liquidar a fatura. Antes de dormir, você quer escutar uma música relaxante ou assistir uma série e pede uma sugestão ao device, que conhece seu gênero predileto e busca no Spotify ou no Netflix alguma novidade.
Sim, caro leitor, sua vida nunca mais será a mesma depois que levar para casa seu primeiro voicebot (ou voice assistant), um gadget que os especialistas em branding apontam como a nova grande mudança desde a invenção do smartphone.
Na disputa por sua voz já estão algumas das maiores empresas de tecnologia do Vale do Silício – a Amazon com o Echo, a Alphabet com o Google Home, a Microsoft com o Cortana, a Samsung com o Bixby e a Apple com o HomePod.
Por que estas gigantes querem te escutar? É simples.
Com milhares de apps disponíveis, os equipamentos comandados por voz estão rapidamente se tornando a primeira opção dos usuários para acessar a Internet e serviços na nuvem, seja para saber a previsão do tempo, fazer compras, estudar, pesquisar ou automatizar a casa, entre outros inúmeros recursos.
E os números confirmam a rápida adoção.
Segundo levantamento do eMarketer, o crescimento do uso destes equipamentos entre os americanos será de 130% este ano, sendo que a Amazon lidera em market share, com 70,6% dos assistentes usados ao menos uma vez por mês, seguida pelo Google, com 23,8%.
A Business Intelligence, serviço de pesquisa da Business Insider, aponta em outro estudo que 51% dos entrevistados entre 14 e 17 anos já utilizam ou começaram a utilizar recentemente um voicebot, 38% entre 18 e 34 anos, 27% entre 25 e 55 anos e 15% entre os acima de 55 anos.
Por isso, muitos profissionais de marketing já ligaram o radar para o novo canal.
Em uma pesquisa realizada pela Criteo com 100 executivos, 57% disseram que deverão trabalhar nos próximos dois anos com voice assistants, como o Amazon Alexa, o Apple Siri e o Microsoft Cortana, e 55% com equipamentos domésticos acionados por voz, como o Amazon Echo e o Google Home.
Com a voz falando mais alto, surge agora um novo desafio para as marcas.
Como se fazer ouvir sem ser intrusivo? Se a busca é feita na caixa de texto do Google, o consumidor pode receber a sugestão de milhares de links, mas e se preferir pesquisar falando ao invés de teclando? A resposta precisará ser muito mais assertiva e objetiva.
De que forma então estabelecer uma conversa com os consumidores que gere engajamento e aumente a geração de leads e a conversão em vendas? Que estratégias de marketing de performance e retarget deverei adotar para não parecer que meu anúncio está berrando nos ouvidos do meu cliente e sim seja uma oferta matadora, irrecusável?
Como bem sublinhou Guarav Sharma, da Atlantis Capital, "quanto mais os voice assistants forem utilizados para comprar, pesquisar e transacionar, maiores serão as chances de que os consumidores sejam agnósticos a marcas e aceitem o que o Alexa sugerir com um bom preço".
Assim, conseguir chamar a atenção em meio a tamanho burburinho exigirá realizar investimentos em sistemas de inteligência artificial e algoritmos que consigam assimilar e interpretar os desejos expressos pelas vozes dos consumidores e ofereçam produtos no momento certo, com as características esperadas e preço competitivo.
É o conversational commerce, já ouviu falar?
Como toda tendência tecnológica, as vendas fechadas por voz a partir de uma conversa do consumidor com a máquina se tornará uma realidade dominante em muito pouco tempo. No carro, em casa, na rua ou no trabalho, as pessoas já descobriram o conforto de comandar seus devices falando com eles ao invés de escrever.
Qual o impacto no comércio? No mínimo, alarmante.
O eMarketer também informa que 21,7% dos consumidores entre 18 e 34 anos fizeram menos compras através de web browsers depois que começaram a usar um assistente virtual e 11,2% concluíram mais transações através dos assistentes.
Então não tem conversa. Seu negócio, seja lá qual for, terá que se adaptar rapidamente aos novos tempos de uma sociedade conectada que dá cada vez mais voz ao consumidor. Mais do que nunca, agora é ele quem manda (e não pede).
Nesta briga, não ganhará quem gritar mais alto. Ao menos que queira fechar os ouvidos ao seu cliente e perdê-lo para concorrência, é bom começar a ensinar sua marca a falar.
Alessander Firmino, diretor da Criteo para América Latina e Brasil.