O Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP concluiu mais uma fase do projeto OnAIR, programa que trabalha na associação entre arte e ciências da computação para facilitar o acesso a dados contidos numa gravação em vídeo. O projeto vem sendo conduzido por Paula Braga, com formação em ciências da computação pelo IME e artes plásticas.
Paula, que trabalhou em museus nos Estados Unido, observou, em uma exposição, um projeto de interação do público com material em vídeo. Ela resolveu mostrar a idéia para Renata Wassermann, professora do IME, que, à época, iniciou o projeto Busca Inteligente Baseada em Ontologias (Bibo), financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a fim de estudar o desenvolvimento de ferramentas de busca.
A partir daí, a parceria tomou forma. Paula pediu a uma artista plástica, Ana Teixeira, que concedesse uma entrevista para ser usada como base do projeto. Foram seis horas de gravação, condensadas em três horas de material a ser utilizado no OnAIR. A computação entra na construção de ontologias, definidas pelas pesquisadoras como ?fixação de conceitos de um domínio para se fazer consultas ou aplicações inteligentes?, que, no caso, tem como propósito entender perguntas e relacioná-las com o trabalho da artista.
De acordo com Paula, com o programa, é possível digitar uma questão e localizar o trecho da gravação que corresponda à resposta desejada. A arte, campo determinado para a experiência inicial do projeto, possui campos como ?atuação?, ?cultura?, ?disciplina? e ?instituição?. ?Dentro de instituição podemos achar outras palavras como, por exemplo, centro cultural, empresa e galeria, o que enriquece a ontologia e facilita o uso da ferramenta, que ?engorda? de acordo com seu uso.?
Segundo ela, a idéia nasceu da constatação de que, apesar de a evolução das mídias possibilitar que o uso de informações em vídeo seja cada vez mais freqüente, as ferramentas de busca atuais não satisfazem as necessidades de quem quer consultar apenas um trecho de um arquivo audiovisual.
Após a experiência bem-sucedida com as artes, o projeto se estendeu ao contexto educacional. Dois alunos, um de mestrado e outro de doutorado, fizeram a ontologia de um curso de oito horas sobre programação orientada a objeto, assunto da área de computação. O mesmo arcabouço, ou seja, o programa desenvolvido no início do projeto, foi usado para o que a professora Renata chama de versão didática do OnAIR.
A formulação de uma versão didática foi impulsionada pela necessidade de saber se o programa funcionava em diferentes domínios, de acordo com Paula. Outra ferramenta desenvolvida no OnAIR é a sobreposição de imagens durante determinado trecho do vídeo. Na entrevista, quando uma obra é citada pela artista, a figura aparece e a voz se mantém ao fundo, propiciando melhor compreensão sobre o que é falado. No entanto, esse mecanismo ainda funciona por meio de marcações de instante, e não pelo uso de ontologias, como é o caso da seleção de trechos.
O projeto obteve repercussão apenas no meio acadêmico, com publicações de artigos em uma conferência de ontologia e em uma revista de computação. Agora, Renata e Paula pretendem retomá-lo em dezembro e uma sessão de entrevistas com outra artista já está marcada.
Elas destacam a evolução tecnológica da geração de ontologias e a experiência adquirida em entrevistar e na modelagem dos sistemas ontológicos como fatores de expectativa para um trabalho mais refinado. Sobre a importância crescente de um projeto que lida com a pesquisa em meios audiovisuais, Paula diz que o filme é uma mídia em expansão e não há ferramentas de acesso a trechos, de busca em vídeo.