Uma das principais responsáveis pela popularização da computação em nuvem, a Amazon.com surpreendeu investidores na quinta-feira, 23, ao revelar pela primeira vez que sua divisão de nuvem, a Amazon Web Services (AWS), obteve receita de US$ 1,57 bilhão e lucro operacional de US$ 265 milhões no primeiro trimestre deste ano.
A divulgação do que até então era um segredo guardado a sete chaves, além de mostrar que a empresa — conhecida principalmente como varejista online — tem uma enorme vantagem sobre os rivais, deve colocar pressão para que estes também abram os números do desempenho financeiro de seus negócios de nuvem aos acionistas.
Até agora, as empresas que atuam nesse mercado, como Microsoft e Google, têm adotado a postura de não revelar cifras, deixando investidores com mais perguntas do que respostas. A Microsoft, por exemplo, a rival mais próxima da Amazom, alardeou em seu informe de resultados do terceiro trimestre do ano fiscal de 2015, encerrado em 31 de março, que o negócio de nuvem vem crescendo rapidamente, mas não revelou números importantes.
Talvez, mais até do que divulgar números convincentes, a grande dificuldade dos concorrentes da Amazon é justificar como a empresa, com menos recursos do que a maioria dos gigantes que atuam nesse segmento, detém uma participação no mercado de serviços de infraestrutura de nuvem tão superior, conforme revelam os dados do Synergy Research Group. O levantamento do instituto de pesquisas mostra a Amazon com 28% de market share em 2014, muito à frente da Microsoft, a segunda colocada, que possui 10% de participação (veja gráfico abaixo).
Mas é difícil comparar precisamente as duas empresas por causa de como a Microsoft divulga seus resultados do negócio de nuvem. A Microsoft informou na quinta-feira que a receita anual de seu negócio de nuvem gira em torno de US$ 6,3 bilhões. Já a Amazon disse que a receita anual da operação Amazon Web Services — que vende capacidade de processamento, armazenamento e outros serviços em seus próprios servidores — é de US$ 5,16 bilhões.
A diferença de cifras se explica. A Microsoft inclui na receita, além do obtido com sua plataforma de computação em nuvem Azure, diferentes aplicações oferecidas online, como os programas Office 365 e Dynamics. Recentemente, o Deutsche Bank estimou a receita do Azure como pouco mais que um décimo da gerada pela AWS.
"A Microsoft é uma competidora de peso", disse Lydia Leong, analista do Gartner, ao The New York Times. Mas, acrescentou, a "Amazon é a plataforma mais comum entre startups e pequenas empresas".
Pioneira entre as startups
A criação da AWS, que começou há cerca de uma década fornecendo infraestrutura de computação para várias divisões da Amazon, corrobora a visão da analista do Gartner. A operação funcionou tão bem internamente que a Amazon começou a oferecer os serviços para startups. Hoje, com um crescimento anual de cerca de 40%, muitos analistas de Wall Street acreditam que será inevitável a realização de um spin-off (separação) da divisão em breve.
Executivos da Amazon observam, inclusive, que AWS cada vez mais vem direcionando o foco para o segmento de empresas de maior porte. Essa movimentação é também uma estratégia de defesa, já que, no ano passado, o serviço de cloud do Google exerceu forte pressão sobre a AWS, com preços mais agressivos, o que prejudicou de certa forma a sua rentabilidade. Amazon chegou a reduzir os preços dezenas de vezes, o que ameaçou o crescimento da receita.
A Amazon tem empreendido uma verdadeira corrida para conquistar o segmento de grandes empresas por meio da diversificação de serviços, incluindo software de banco de dados, análise e gerenciamento e até mesmo a operação remota de desktops. Ela também aumentou sua rede de revendedores, na esperança de rivalizar com o tipo de estratégia empregado pela Microsoft para promover o Windows junto às grandes corporações.
Apesar do gigantismo da Microsoft, seu negócio de nuvem ainda é menor do que o da Amazon, embora venha crescendo rapidamente e tenha mais do que duplicando no ano passado. Analistas acreditam, inclusive, que a fabricante de software tem mais condições de convencer as grandes empresas que já utilizam seus softwares a adotar seus serviços de nuvem. De todo modo, segundo eles, a disputa entre as duas empresas será bastante acirrada.