O FBI está testando o método usado para quebrar o software de criptografia do iPhone de um dos atiradores que mataram 14 pessoas de San Bernardino, na Califórnia, em dezembro do ano passado, para avaliar quantas outras versões do smartphone da Apple a técnica poderia desbloquear, informa o The Wall Street Journal
A batalha judicial travada entre a Apple e o FBI para o desbloqueio do iPhone do terrorista Syed Rizwan Farook foi encerrada nesta semana com a retirada da ação judicial pelo Departamento de Justiça (DoJ) dos Estados Unidos, que exigia que a Apple colaborasse com o FBI para a quebra do código do software de criptografia do iPhone do atirador.
O órgão do governo havia dito que um "colaborador externo" demonstrou um caminho para que a polícia federal americana desbloqueasse o smartphone. Depois foi revelado que o colaborador era a empresa israelense Cellebrite, fornecedora de soluções de segurança e gerenciamento do ciclo de vida de dispositivos móveis. A empresa colaborou, inclusive, com a Polícia Federal do Brasil no fornecimento de uma solução para auxiliar nas investigações da operação Lava Jato.
O FBI não revela a técnica nem tampouco o que foi encontrado no telefone de Farook. A Apple não identificou a falha de segurança que permitiu o acesso do FBI ao iPhone 5C do atirador e de outros modelos do smartphone. O 5C não foi um modelo campeão de vendas para a Apple, portanto o método de desbloqueio ainda precisa ser testado em outros modelos do smartphone. Mesmo assim, o desbloqueio do aparelho deve acirrar o debate entre Washington e as empresa do Vale do Silício, na Califórnia, sobre criptografia, privacidade e segurança.
A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) criticou os esforços do FBI para forçar a Apple para ajudar a desbloquear o smartphone do terrorista. Na quinta-feira, 30 de março, o principal tecnólogo da ONG, Chris Soghoian, disse ao jornal americano que quanto mais tempo o FBI mantiver a falha de segurança em segredo, mais aumentam os riscos de quebra de privacidade dos usuários, já que os eventos se sucedem rapidamente. De fato, as agências de inteligência costumam levar meses para decidir se e como revelar o processo usado para fechar a lacuna de segurança.
A Casa Branca supervisiona as deliberações sobre se a falha de segurança no iPhone 5C recém-descoberta deve decidir na semana que vem se divulga ao público ou se mantém em segredo para que os agentes federais possam continuar investigando outros suspeitos. Caso o governo forneça detalhes da falha de segurança, a empresa pode atualizar seu software para fechar o acesso.
Em entrevista, Robert Anderson, ex-funcionário graduado do FBI e que é agora um executivo da Navigant Consulting, disse que mais iPhones podem ter a criptografia quebrada com a técnica, mais ele acha que o mais provável é que o governo revele a falha à Apple. "Eu não acho que eles iriam escondê-la e pôr em risco a segurança e privacidade de milhões de pessoas," concluiu.