Empresas que avançam na adoção de novas tecnologias, em muitos casos, se deparam com um paradoxo: quanto mais tecnologia utilizam, mais ela se torna necessária para solucionar problemas do dia a dia. O setor financeiro é um grande exemplo dessa questão. Ainda que tenha avançado na transformação digital, o volume de dados gerados também cresceu, e com mudanças progressivamente mais rápidas. Para complicar a equação, a contratação ou formação de profissionais de tecnologia é um desafio para todos os segmentos. Diante desse cenário, a oferta tecnológica precisou encontrar caminhos para solucionar problemas sem criar novos – e essa resposta está vindo por meio das plataformas low e no-code.
Para ilustrar esse dilema e desenvolver meu posicionamento em relação ao uso do no-code, vou me ater à oferta de tecnologia para o setor financeiro, área a qual me dedico há 8 anos. Na Dattos, algumas das informações que usamos para guiar nossas ações e explicar a motivação do nosso produto são: nos departamentos financeiros, o volume de dados cresce 63% ao mês e 66% dos profissionais de finanças acreditam que a incapacidade de lidar com o volume de novos dados é uma ameaça para a função financeira, de acordo com o estudo The future of finance function. Diante disso, não há dúvidas de que esses profissionais precisam ter suas tarefas automatizadas, para ter maior segurança no dia a dia e gastar menos tempo com retrabalho.
O bem-estar dos funcionários e a sua alocação para tarefas mais estratégicas é uma das principais demandas dos c-levels atualmente. Porém, isso não significa que a solução é automatizar e pronto. A escolha por adotar uma nova ferramenta demanda capacitação das equipes, contratação e estruturação de times de T.I, além de um acompanhamento constante para ter certeza de que a solução está funcionando corretamente. Assim, os executivos se deparam com o paradoxo da tecnologia que comentei anteriormente. Em muitos casos, chegamos a ver situações em que empresas preferem não avançar em algum aspecto da transformação digital por ter receio das implicações que a decisão acarreta.
É nesse momento que as empresas que se dedicam a pensar em soluções tecnológicas para diferentes áreas precisam lembrar que os esforços para o uso da tecnologia devem sempre ser no sentido da redução de atritos. Por isso, o desenvolvimento de soluções no-code tem se tornado uma medida tão atrativa. O conceito tem sido uma diretriz importante na maneira como as soluções são criadas e gerenciadas. Assim como a evolução nos processos de engenharia de software levou à adoção de metodologias ágeis, plataformas no-code mudam a maneira como as empresas pensam em criações e gerenciamento de soluções de negócios.
No setor financeiro, por exemplo, a programação sem código permite compilar diferentes fontes e formatos de dados no estilo "arrasta e solta" ("drag and drop"), filtros para visualização rápida dos dados, criar preparações de dados mais eficientes, sem perder horas a fio preenchendo planilhas, bem como visualizações de dados tabulares para facilitar as análises. Ou seja, os usuários conseguem criar soluções personalizadas sem depender de desenvolvedores especializados e, assim, responder rapidamente às mudanças nas necessidades do negócio.
Essa capacidade rápida de adaptação se tornou ainda mais relevante depois da pandemia de Covid-19, e muitos executivos implementaram, acertadamente, mudanças na cultura da empresa para que os funcionários pudessem desenvolver essa soft skill. Acredito que o que o crescimento de plataformas sem código vai fazer é estimular esse aspecto também na parte mais operacional do trabalho, tão impactada pelo alto volume de dados gerados diariamente.
A adoção de uma nova plataforma nunca é uma tarefa fácil, pois envolve mudanças processuais e até mesmo de mindset. Entretanto, num cenário complexo e dinâmico, apoiar-se em soluções consolidadas é, sem dúvida, uma alternativa melhor do que depender de outras áreas — ou simplesmente aceitar que nada pode ser feito. Fatores como velocidade, facilidade de uso e a flexibilidade são tão importantes para o negócio quanto a meta que se deseja alcançar e a utilização de uma plataforma no-code é, com certeza, uma das chaves para o empoderamento de profissionais. Ao meu ver, estamos em um momento em que há uma oportunidade ímpar para os setores financeiros se tornarem líderes desse movimento.
Sergio Aschar, Diretor de Tecnologia na Dattos.