Num mercado global cada vez mais competitivo, mão de obra qualificada é um bem valioso que faz muita falta ao Brasil. Um estudo realizado pela empresa de recrutamento ManpowerGroup e divulgado no fim de 2014 não apenas confirmou isso, mas deu uma ideia do tamanho do problema: a taxa de escassez de talentos por aqui é quase o dobro da média mundial.
Na indústria brasileira de software e serviços de TI, com faturamento anual na casa dos R$ 100 bilhões e crescimento em torno de 8% ao ano, a situação é ainda mais dramática. No estudo Mercado de Trabalho e Formação de Mão de Obra em TI, a Softex estima um déficit de 408 mil profissionais de TI em 2022.
O modelo hoje adotado de treinamento e capacitação de recursos humanos em TI, além de não resolver o problema da escassez de talentos, custa caro para o país. Segundo o estudo da Softex, no período 2012 a 2022, a perda de negócios pela falta de profissionais qualificados pode chegar a R$ 167 bilhões.
A grande questão é: como fazer para acelerar a formação de mão de obra no país? A experiência do programa Brasil Mais TI mostra que a adoção de novas tecnologias é fundamental neste processo. Criado pelos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação e da Educação e gerido pela Softex, o programa Brasil Mais TI já é uma das maiores plataformas de educação virtual do mundo conhecidas como Moocs (cursos on-line abertos em massa, na sigla em inglês).
Longe de ser um modismo, o Mooc Brasil Mais TI tem números que falam por si: 155,5 mil estudantes cadastrados de 90 países e 292 mil cursos concluídos desde 2011. Hoje, qualquer pessoa, do Oiapoque ao Chuí, pode escolher um dos 29 cursos oferecidos e ter acesso a mais de 1,5 mil horas de aula. As opções vão de treinamentos certificados pelo Ministério da Educação em COBOL (360 horas) ou Java (260 horas) a um curso de livre de 256 horas de inglês – a falta de domínio do idioma é um grande entrave para recrutar numa indústria cada vez mais internacionalizada.
Este novo modelo de ensino traz algumas grandes vantagens. Em primeiro lugar, a um custo baixíssimo, é capaz de democratizar o conhecimento num país das dimensões do Brasil, onde as melhores universidades e oportunidades estão concentradas nos grandes centros.
Conteúdos de curta duração, com recursos audiovisuais e foco nas demandas de mercado estimulam os estudantes a irem até o fim. Atualmente, aponta estudo da Brasscom, apenas dois de cada dez alunos matriculados em faculdades de tecnologia concluem o curso.
O Mooc Brasil Mais TI também reduz o enorme descompasso entre o que os próprios universitários aprendem nas salas de aula e a necessidade das empresas. Não é à toa que 30% dos estudantes do Brasil Mais TI são graduandos: complementar a formação é fundamental num setor em que as inovações ditam as regras e o conteúdo precisa ser rapidamente atualizado.
Para os estudantes, a qualificação representa mais oportunidades de emprego e salários melhores. A possibilidade criar as próprias regras de aprendizagem (com horários flexíveis, cursos rápidos ferramentas de estudo on-line) e contar com bons professores contribuirá para o surgimento de uma nova geração de empreendedores, capaz de transformar o Brasil, definitivamente, em um player global.
Ney Leal, vice-presidente da Softex.