Até o ano de 2025, 85% dos aplicativos no mundo estarão em infraestruturas de nuvem, motivo pelo qual ter presença relevante nesse mercado se tornou fundamental para o crescimento da gigante chinesa Huawei, fabricante de equipamentos de redes e telecomunicações. A avaliação é de Ken Hu, rotating CEO da empresa, feita durante a abertura do Huawei Connect 2106, evento que reúne mais de 20 mil clientes, parceiros de negócios e executivos da empresa até esta sexta-feira, 2, em Xangai, na China.
O tema do evento, "Shape the Cloud", é uma abordagem que tem como objetivo moldar a nuvem de acordo com as tendências dessa nova era, que a empresa define como cloud 2.0. De acordo com Ken Hu, que alterna a direção da empresa com dois outros diretores-conselheiros — por isso a qualificação como rotating CEO —, ele será responsável por auxiliar os clientes na transformação digital por meio do desenvolvimento de tecnologias de nuvem.
O executivo considera a Amazon, SalesForce e Google, nascidas há dez anos no mercado de serviços de internet, como empresas da fase cloud 1.0. "As empresas cloud 2.0 devem mudar a forma de pensar sobre o papel das tecnologias da informação e comunicações [TICs]. Devem começar a tratá-las como um sistema de produção, em vez de sistema de apoio. Devem usá-las para redesenhar seus processos de produção."
Ken Hu enfatizou o impacto que a nuvem está exercendo na sociedade, com a quebra de paradigmas e mudando a forma como as pessoas assistem vídeos, se comunicam e realizam suas atividades no dia a dia. "Não são apenas os modelos de tecnologia que estão sofrendo mudanças importantes, mas também os modelos de negócio, em especial, a mentalidade das pessoas."
Para ele, a plataforma de cloud 2.0 deve usar inteligência artificial para que as aplicações sejam desenvolvidas de acordo com o pensamento das pessoas. "As pessoas não devem se adaptar à cloud, mas o contrário, a cloud deve se adaptar a elas. A nuvem deve ser desenvolvida tendo como foco o atendimento aos clientes, a chamada customer centric", explica.
Outra característica da chamada cloud 2.0 apontada pelo CEO é ser aberta e desenvolver mercados verticais, em segmentos como de governo (cidades inteligentes), utilities, manufatura inteligente, finanças, telecomunicações, mídia, em que aplicações e colaboração são compartilhadas em nuvens, quer sejam públicas, privadas ou sejam hibridas, para modelar a inovação desses setores, com tudo conectado, proporcionado a verdadeira transformação digital.
A Huawei resolveu entrar definitivamente no mercado de TI em 2015, após constatar que a computação em nuvem vai moldar o futuro da companhia, podendo explorar mercados de redes virtualizadas (SDN), data center, big data, Internet das Coisas e mobilidade.
Ken Hu acredita que a nuvem será a base das rede móveiss 5G, nas aplicações "rodarão" 50 vezes mais rápidas, com baixa latência, com tudo conectado. Ele cita pesquisas segundo as quais 90% dos dados foram consumidos nos últimos anos através de dispositivos móveis. O executivo ressalta que, para isso acontecer, as empresas terão de fazer uma migração fluída, como a de seus processos, adotando soluções de SaaS, IaaS, PaaS, mercados que se abrem para parceiros relevantes no mercado de TI, como Oracle, SAP e a consultoria global Accenture. Com esta última por sinal, o acordo foi assinado durante o evento, com objetivo de proporcionar aos clientes a redução do investimento de capital em TI e atender aos requisitos de um sistema flexível e escalável através da adoção de nuvem.
Outro ponto importante salientado pelo CEO da Huawei é o papel que o CIO deve adotar diante dos desafios do setor , o que ele rotulou como CI³O, ou seja, um executivo que deve liderar a informática, a inovação e a interconexão, propondo novos modelos operacionais comerciais para as companhias. "A interconexão deve viabilizar a interação entre clientes, parceiros e funcionários", enfatiza.
Operadoras e empresas
O importante mercado de operadoras de telecomunicações, no qual a empresa atua globalmente, também vai ser beneficiar dessa estratégia, pois ela pode ajudar esse segmentos a integrar suas redes e processos fragmentados na nuvem. Pela reestruturação dos processos de negócios e das operações da rede, elas podem viabilizar a transformação digital dos clientes e ao mesmo tempo aumentar sua produtividade.
Thomas Aschenbrenner, diretor de vendas para a área de nuvem e marketing da Deutsche Telekom, em sua palestra no evento, ressaltou que "a nuvem é a força impulsionadora e transformadora de indústrias em sua totalidade. A Deutsche Telekom e a Huawei continuam a inovar juntas para fornecer serviços de nuvem de alta qualidade para empresas através da Open Telekom Cloud".
Já Wang Jingzhong, CEO da China Mobile, disse que a empresa irá fornecer soluções em nuvem ao governo, às empresas, ao serviço público e para projetos de Internet das Coisas, criando assim cidades conectadas e inteligentes.
O CIO do HSBC, Darryl West, disse que o banco está investindo mais de US$ 1,3 bilhão para reformular toda sua plataforma digital para a nuvem. Ele explicou que, associado ao uso de big data, não haverá mais necessidade de cadastrar os dados e características dos clientes, pois a plataforma inteligente se incumbirá de apresentar a melhor proposta a ele com base em suas interações. Além de atender usuários de dispositivos móveis Apple e Android, o banco passou a aceitar transações através do WeChat, rede social muito popular na Ásia.
O executivo disse ainda que o banco será 100% online, sendo que a plataforma mobile em 2015 já representou mais de 50% das transações do banco. Outra aplicação que usa como base a nuvem é a transação e atendimento através de reconhecimento de voz, recurso já utilizado por mais de 20 milhões de correntistas. "No máximo em cinco anos, não vai mais haver necessidade de contra senha para uso do serviços do HSBC", disse West. "Outra estratégia fundamental na transformação digital do banco e a quebra de silos dentro da organização, foi a adoção de desenvolvimento de sistemas usando DevOps."
O canal de TV francês TFI está lançando um novo canal, o LFI, que através do uso de nuvem, conseguiu uma redução de 50% do custo das operações em comparação com o modelo convencional. Os 150 funcionários contratados, em de usarem caras estações de trabalho, acessarão terminais thin clients e dispositivos móveis com capacidade de vídeo e software de especial de edição, o que permitirá aumentar a agilidade das operações em 85%, ter duas vezes mais flexibilidade, entre outros benefícios, revelou Guillaume Lemoine, senior broadcast architect do TF1 Group.
IoT industrial
Segundo análise da Lux Research, em 2020, o mercado global de Internet das Coisas Industrial (IIoT) deve movimentar US$ 151 bilhões. De olho nesse filão, onde a nuvem também terá papel fundamental na escalabilidade das redes de sensores e dispositivos móveis, a Huawei anunciou no evento que firmou um acordo de cooperação com o fabricante de elevadores Schindler para desenvolverem uma plataforma de manutenção aberta, flexível e escalável. O objetivo é proporcionar mais segurança na operação dos elevadores, com uma experiência melhorada para os usuários através de um aplicativo para fazer manutenção preditiva e reduzir os custos operacionais.
A Huawei oferece uma solução batizada de NB-IoT, adotada em projetos de empresas de energia, água, smart cities, manufatura, etc. Juntamente com mais de 400 parceiros globais, como Accenture, SAP, General Electric, T-Systems, Hexágono, Honeywell, Infosys, Siemens e Alston, a plataforma permite aos clientes explorar novos modelos de negócios, aumentar agilidade e eficiência.
A Harley Davidson, fabricantes de motocicletas, por exemplo, conseguiu montar 1,2 mil componentes em apenas 89 segundos; reduziu o tempo de entrega de pedidos de 21 dias para 6 horas.
"As empresas do futuro precisam de uma completa transformação de suas decisões de negócios. Ecossistemas empresariais digitais serão os condutores de novos modelos de lucro, as empresas terão de tornar os seus serviços mais ágeis com APIs abertas, inovação contínua e plataformas em nuvem", enfatizou Yan Lida, presidente da Huawei Enterprise BG (EBG), braço de produtos corporativos do grupo chinês.
*O jornalista viajou a China a convite da empresa.