A insegurança das estradas brasileiras, não é de hoje, continua entre os principais desafios das empresas do setor de transporte e logística, que seguem contabilizando perdas decorrentes das ações de criminosos. Segundo estudo realizado pelo Grupo Tracker em 2020, a taxa de roubos e furtos de caminhões oscilou bastante ao longo do primeiro semestre do ano passado, terminando o ano com uma pequena redução de 1 p.p. Apesar do volume de cargas roubadas no Brasil ter decrescido desde 2017 acima dos dois dígitos percentuais ano a ano, o prejuízo estimado ainda supera a marca de R$1,5 bilhão anuais. O 'osso' é atraente demais para os mal-intencionados o largarem.
Apesar do risco inerente, o Relatório Anual FreteBras, publicado em janeiro, mostrou que a quantidade de fretes rodoviários aumentou 62% em 2020 em comparação com o ano anterior. Enquanto a demanda segue crescendo, o setor vem buscando caminhos para reduzir os índices de criminalidade e tem encontrado na tecnologia uma grande aliada.
A Confederação Nacional do Transporte identificou que 98% dos caminhoneiros utilizam a internet via celular. Já as transportadoras e embarcadores têm em seu menu de parceiros tecnológicos, só no Brasil, quase 300 startups de logística para ajudá-los a fazer uma gestão mais eficiente e segura do negócio. Só no ano passado, as empresas de tecnologia focadas no mercado logístico faturaram mais de R$100 bilhões, segundo estudo da Fundação Dom Cabral.
Assim como ocorreu em outras indústrias, como bancos e e-commerce, as empresas do setor logístico também seguirão a tendência de implementar tecnologia de ponta para uma melhor gestão de riscos, como soluções de controle dos fretes através do rastreamento de veículos e cargas. Outras ferramentas irão trazer maior transparência nas transações entre empresas e caminhoneiros, incluindo sistemas de avaliação já presentes em serviços como Airbnb, Uber, Google e Tripadvisor. Além destas, as soluções de pagamento on-line, como as carteiras digitais, irão também garantir um maior nível de segurança entre as partes envolvidas, já que uma instituição capta e assegura a transação financeira.
Atualmente muitas transportadoras já pedem referências a outras antes de contratar ou não um caminhoneiro. Algumas possuem até equipes dedicadas a fazer verificações proativamente. Já os caminhoneiros confiam nas indicações de seus colegas e até visitam locais de carga antes de aceitar uma oferta de trabalho. Todo este custo enorme para o ecossistema pode ser totalmente eliminado com a tecnologia.
Ora, se existem tantas soluções à disposição do mercado, o que falta então para que haja mais segurança?
Compartilho aqui 4 recomendações essenciais:
- Ajude a educar o setor, principalmente empresas e caminhoneiros, para que todos entendam que cada um tem papel fundamental na segurança da cadeia. As ferramentas, por si só, já auxiliam, mas sozinhas não podem proteger totalmente o ecossistema.
- Utilize o poder informativo da internet para dobrar a vigilância, confirmando dados e buscando sempre o maior número de informações possível sobre o motorista ou a empresa.
- Conecte-se com o mercado, divulgue as fraudes e denuncie. A comunicação entre as empresas do setor também deve ser frequente, já que os criminosos estão cada dia mais criativos e se dedicam diariamente a encontrar brechas em todos os sistemas, não apenas na logística. Portanto, todos os participantes do mercado devem compartilhar informações constantemente para divulgar as velhas e novas fraudes e denunciar os fraudadores.
- Se a esmola é muita, desconfie tanto ou mais que o santo. Para o caminhoneiro, isso significa, por exemplo, duvidar do "fretão", que oferece um preço muito acima do mercado. Do lado da transportadora, é também preciso ficar atento às fichas de profissionais que parecem limpas demais.
Para outros atores da indústria, reforço a necessidade de investirmos em segurança para proteger o ecossistema. Aqui na FreteBras, por exemplo, investiremos este ano R$30 milhões em segurança com o objetivo de proteger o ecossistema.
Com este montante, vamos triplicar nosso time de ouvidoria e prevenção à fraude e lançar novas funcionalidades, como o "Alerta de Frete Suspeito", usando algoritmos para detectar em tempo real cargas suspeitas na plataforma, e o "Frete Privado", que aumenta a segurança das empresas ao permitir que os fretes sejam vistos apenas por caminhoneiros logados.
Vamos lançar também a "Ferramenta de Avaliação" entre os usuários, permitindo que empresas e caminhoneiros atribuam notas e tenham visibilidade sobre o histórico desse usuário antes de tomar uma decisão sobre carregar ou não.
Nem todo dinheiro do mundo é páreo para habilidade dos mal-intencionados. Não há outra rota. Devemos somar todas as nossas forças para investir em tecnologias e soluções mais criativas e eficientes que as dos golpistas e, assim, reduzir de fato a insegurança que há décadas impacta negativamente o setor de transporte rodoviário de cargas no Brasil.
Vamos embarcar nessa juntos?
Bruno Hacad, diretor de Operações da FreteBras.