A 11ª edição do Fórum Saúde Digital, realizada de forma virtual, nesta quarta-feira, 2, discutiu como as tecnologias e novos modelos de negócios trouxeram mudanças relevantes, para toda a cadeia de saúde. O primeiro painel teve como tema a Telemedicina e seu impacto na cadeia de prestação de serviço no período pós-covid.
Para Jean Schulz, Chief Process Officer e sócio fundador da Mobile Saúde, a principal mudança, antes mesmo da telemedicina, é a digitalização acelerada pela Pandemia. " Mesmo aqueles modelos que vinham sendo ensaiados anteriormente ganharam todas as frentes e a pandemia veio como um acelerador dos processos de saúde digitais, como um verdadeiro divisor de águas", disse.
Ana Elisa, sócia presidente da GSC Integradora, grupo Dasa, evidenciou que a partir da pandemia o home care ganhou novo delineamento. "Com a pandemia em toda parte, a navegação digital com alto volume de dados, passa a ser normal, com prontuários eletrônicos, exames , imagens entre outros dados clínicos e assim como as teleconsultas andaram a passos largos mas isso em momento algum precarizou a relação médico-paciente", lembrou a executiva.
Segundo ela, as barreiras que haviam para uso da telemedicina foram rompidas e a relação entre o médico e o paciente continuou, somente com outros meios. De acordo com a experiência da Dasa, Ana Elisa contabiliza que mais de 30 mil consultas feitas e cerca de 1 milhão de vidas estiveram sob os cuidados de equipes de saúde via plataformas digitais, que permitiu este acesso mesmo em tempos de isolamento social, para casos não graves e que dessa forma ajudou a não sobrecarregar o sistema do SUS.
"Esta experiência nos leva a tendência em manter a continuidade do uso da telemedicina, e principalmente, nos casos de tratamentos continuados na atenção primária do paciente". disse.
"A pandemia nos tornou phygital. Isso quer dizer que a demarcação entre o que é físico e o que é digital está se apagando em prol de ofertar uma experiência única para o consumidor. Além disso, houve um engajamento muito grande mesmo dos maiores de 60 anos que não podiam sair de seus lares, assim como também dos analfabetos, houve uma aderência grande à tecnologia associada à saúde. A tecnologia neste sentido veio dar acesso, por distâncias físicas grandes ou outras demandas daqueles que necessitam ser atendidos", reforçou.
Wilson Pollara, superintendente do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo (Iamspe), ressaltou que o problema da teleconsulta está no primeiro atendimento, já que a tecnologia não pode ser utilizada para a industrialização dos atendimentos e consequentemente a sua precarização. "A telemedicina é mais ampla e envolve robotização, diagnósticos a distância, auxílio em cirurgias, segundas opinião etc. Nada em nenhum momento pode tirar o impacto do profissional ao avaliar seu paciente. A interação humana é essencial", reiterou o executivo.
"Vamos notar que o Brasil em suas características continentais possui realidades diferentes tanto epidemiologicamente quanto em situações cotidianas. é claro que o contato pessoal não pode ser subestimado, mesmo com esta possibilidade, mas é preciso notar que nem todo lugar possui um rol de especialidades para atender a todas as demandas. Assim, a telemedicina ganha ares mais importantes ao levar a lugares longínquos especialidades acelerando decisões e outros procedimentos", disse.
Pollara ainda lembrou que que mesmo a tecnologia de telemedicina, prontuários eletrônicos e os protocolos de atendimento precisam de treinamento, capacitações que irão evoluir após a pandemia.
"Com a experiência de já trabalhar junto às políticas de governo na área de saúde, sabemos que a telemedicina pode ajudar, por exemplo, na triagem dos casos e depois dar prosseguimento digital não será nenhum problema, mas vamos evoluir com estes procedimentos. A tecnologia viabilizou esta necessidade latente no campo da saúde, veio resolver muitos problemas, mas precisa ganhar economia de escala para se tornar cada vez mais viável para todos, principalmente para a administração pública. É mais uma ferramenta de trabalho, vai ajudar no apoio clínico e facilitar as decisões dos gestores de saúde". argumentou Pollara.
Perguntados se impacto da tecnologia acelerada pela pandemia irá permanecer no período de recuperação, os executivos foram unânimes em dizer que sim.
Jean Schulz afirmou que a saúde é um grande mercado no Brasil e o caminho da digitalização quebrou barreiras e certamente instituirá novos modelos de negócios na assistência à saúde.
"Inicialmente o consumidor ficou satisfeito e foi atendido com facilidade mas agora o desafio será manter esta confiança nos novos ciclos que se iniciaram ", salientou.
"São vários desafios culturais e socioeconômicos que a tecnologia já venceu. Mas, uma coisa são as barreiras e outra são as perspectivas. Nosso objetivo é gerar acesso a saúde. a telemedicina é uma oportunidade desse acesso. Mas tudo isso, está envolto na observações da legislação (LGPD), nos cuidados com os dados dos pacientes, nos treinamentos, no envolvimento de equipes multidisciplinares, enfim em toda a cadeia de atendimento do primário ao terciário", observou Ana Elisa.
"Embora em Medicina nada é definitivo ou previsível, temos que trabalhar com a perspectiva que temos uma ferramenta espetacular ao nosso dispor. Como modelo de negócios o tempo dirá, o que é mais caro ou acessível, mas não existe telemedicina sem prontuário eletrônico e o atendimento a distância não é para todos os casos tudo vai depender da aplicabilidade e adequação dos casos", disse Pollara.
Jean Schulz lembrou também que no pós pandemia a tecnologia será muito importante, no encurtamento de filas de atendimento, por exemplo, mas também na continuidade do tratamento e no engajamento dos pacientes ainda num ambiente híbrido, físico e digital durante muito tempo.
Ana Elisa ressaltou também que os dados sobre doenças, tipos de atendimento e outros mais apurados, garantida a privacidade do indivíduo, levará informações preciosas para gestão pública de saúde, garantindo que o SUS volte a seus princípios originais. Pollara, concluiu dizendo que as ferramentas estão à disposição para melhorar o atendimento, referendando que a gestão da saúde está acima de todos os benefícios que a tecnologia proporciona.