A novidade da reunião entre os responsáveis pelo padrão japonês de televisão digital, ISDB, e o governo brasileiro na tarde desta quinta-feira, 2/2, é a indefinição por parte dos japoneses em relação ao valor que poderão oferecer aos brasileiros para financiar a transição para a TV digital.
O problema surgiu porque, de acordo com o embaixador do Japão no Brasil, Takahiko Horimura, também presente à reunião no Palácio do Planalto, o Japan Bank tem um limite para financiamentos no estrangeiro e em um único país.
No caso do Brasil, já há financiamentos de cerca de US$ 1 bilhão. De qualquer forma, o embaixador afirmou que não faltaria dinheiro para financiar as necessidades de investimento em tecnologia digital no Brasil.
Satisfação
Após a reunião com os japoneses, o ministro Hélio Costa se disse satisfeito com os compromissos assumidos pelos responsáveis pelo sistema japonês em relação ao governo brasileiro. Resumidamente, os compromissos são com financiamento, incorporação no ISDB dos avanços conseguidos pelos pesquisadores brasileiros, inclusive o Mpeg 4-10 desenvolvido pelos pesquisadores da PUC/RJ na compressão de vídeo, não cobrança de royalties e garantia de presença de técnicos brasileiros no comitê de desenvolvimento do sistema ISDB.
O ministro das Comunicações afirmou ainda que seus colegas dos outros ministérios que compõe o grupo de trabalho puderam esclarecer todas as dúvidas técnicas e comerciais.
Os japoneses, de forma discreta, como convém, manifestam sua satisfação com a preferência explícita do ministro Hélio Costa pelo seu sistema. "Estamos confiantes na decisão do governo brasileiro", disse o embaixador do Japão.
Divergências
Hélio Costa afirmou que, "de ontem para hoje", o Ministério das Comunicações fez um contato com Taiwan, onde, segundo os responsáveis pelo DVB, está sendo implantado um sistema de televisão digital com base naquele padrão com o desenho idêntico ao que pretende o governo brasileiro.
De acordo com o ministro, as informações são divergentes em relação ao que foi dito pelo DVB: "Apenas durante as transmissões de HDTV é possível fazer a transmissão dos outros elementos previstos pelo sistema, vale dizer, da mobilidade, portabilidade e interatividade, dentro da faixa de 6 MHz", afirmou.
Falta clareza
Há pelo menos dois pontos pouco claros na proposta dos japoneses. Em primeiro lugar os representantes do ISDB afirmam que disponibilizariam financiamento e tecnologia para que o Brasil fabricasse de imediato os set top boxes necessários ao início das transmissões.
Ao mesmo tempo, as mesmas pessoas afirmam que o Japão poderia ceder peças para a montagem dos set top boxes. De qualquer forma, sem cobrança de royalties. Uma segunda questão se refere à possibilidade de entrada dos televisores produzidos no Brasil no mercado japonês.
Os representantes do ISDB não deixam claro, mas aparentemente não há espaço para isso pois o Japão produz todos os televisores digitais que necessita. O mercado é semelhante ao brasileiro (cerca de 10 milhões de novos aparelhos por ano). Nos dois últimos anos, o Japão produziu e vendeu 8 milhões de aparelhos digitais.
Segundo o embaixador Horimura, o grande mercado para os televisores produzidos no Brasil será a América Latina, se os demais países latino americanos acompanharem a decisão brasileira. Este não é um diferencial que deva contar pontos para a escolha do padrão japonês. Ao contrário. Os grandes mercados mundiais estão ocupados pelo DVB e pelo ATSC.