O paradoxo da produtividade

0

Mesmo as iniciativas mais bem-intencionadas podem ter consequências inesperadas. A mudança para escritórios no formato open space e os investimentos em novas tecnologias deveriam trazer apenas resultados positivos, com trabalhadores livres para se deslocarem no local de trabalho, conversar facilmente com os colegas, compartilhar ideias, e se comunicar melhor com os clientes por meio de uma variedade de plataformas inteligentes e eficazes.

Divulgada recentemente pela multinacional dinamarquesa Jabra, a pesquisa "The Technology Paradox: C-suite perspectives on the productivity puzzle", realizada com mais de 700 executivos seniores das principais economias do mundo, revela dados contraditórios e aponta que ainda existe uma enorme discrepância entre o que pensam os chefes e o desejo dos seus funcionários.

O estudo revela que executivos de nível C – CEOs, COOs e CFOs – são  entusiastas dos escritórios com plantas abertas, com quase dois terços (61%) afirmando que este tipo de ambiente beneficia o conhecimento e a produtividade dos trabalhadores. A mesma proporção (60%) acredita que esses funcionários trabalham melhor no escritório do que em casa. Se cruzarmos os dados com a pesquisa "Knowledge Worker Survey", realizada pela mesma empresa com os trabalhadores do conhecimento – termo criado por Peter Drucker para definir quem trabalha primariamente com a informação, ou quem desenvolve e usa conhecimento no trabalho – o paradoxo fica claro. Para esses profissionais, o escritório aberto é o lugar menos produtivo para se trabalhar.

Escritórios abertos são de longe os ambientes de trabalho mais comuns para os knowledge workers – 37% dos entrevistados trabalham em open spaces. Enquanto isso, a proporção de funcionários que trabalham em cubículos caiu de 20% em 2012 para apenas 10% hoje. Mas o que os trabalhadores pensam concretamente? Os experts do conhecimento são claros sobre o que consideram os maiores vilãos da produtividade: altos níveis de ruído no escritório, citados por 45% e interrupções de colegas (35%).

Entendam que aqui não se trata de argumentar a favor do retorno dos locais fechados, afinal hoje sabemos que o local de trabalho aberto é um recurso inestimável, muito mais adequado para comunicação e colaboração do que telefonemas ou email. No entanto, quando um trabalhador do conhecimento precisa se concentrar em uma tarefa, o ambiente precisa estar livre de qualquer distração.

Não por acaso alguns setores de tecnologia e comunicação investem milhões anualmente no desenvolvimento de inovações capazes de bloquear ruídos ao redor e inteligentes o suficiente para avisar quando o colega está ocupado. Há também quem defenda que trabalhar em casa é a saída perfeita, já que a pessoa se concentra melhor longe de distrações, como ruídos ou colegas.  Mesmo nestes casos, a tecnologia é a chave do sucesso, com dispositivos de áudio e vídeo capazes de manter o trabalhador remoto conectado à empresa.

No passado, os grandes capitães da indústria se orgulhavam por estarem presentes constantemente nos corredores das suas facções, em contato com a equipe da produção, afinal eles forneciam informações valiosas sobre como seus negócios operavam e ajudavam a identificar possíveis problemas ou qualquer descontentamento, tanto no produto final quanto na mão de obra.

Hoje, na chamada economia do conhecimento, o escritório substitui o chão de fábrica – mas será que os CEOs reservam tempo para circular e perguntar aos seus colaboradores o que os ajudam a trabalhar melhor? Eis a questão!

Carlos de Souza, country manager da Jabra no Brasil.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.