O Conselho de Comunicação Social do Congresso realizou nesta segunda-feira (3/4) audiência pública sobre TV digital. Participam do debate o engenheiro e integrante do conselho Fernando Mattoso Bittencourt Filho, também diretor da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão e de Telecomunicações (SET); o presidente da Câmara de Conteúdo do Conselho Consultivo do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), Alexandre Kieling; o diretor de Tecnologia e Pesquisa da Philips do Brasil, Walter Duran; e o pesquisador-sênior da Diretoria de TV Digital do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), Giovanni Moura de Holanda.
O pesquisador do CPqD apoiou a proposta de multiprogramação dos canais de TV digital, com o objetivo de aumentar a oferta de conteúdo para a população, com a possibilidade de alta definição. O modelo de referência para a TV digital, proposto pelo CPqD, inclui ainda a interatividade com canal de retorno e o uso facultativo do compartilhamento de rede pelas emissoras. Segundo Holanda, a TV digital também deve apresentar condições de mobilidade (qualidade de recepção em TVs móveis) e portabilidade (celulares e agendas eletrônicas).
O centro de pesquisa propõe que as emissoras transmitam o mesmo programa em definição padrão e em alta definição. Para isso, é preciso que haja no mercado dois tipos de caixa de conversão entre TV analógica e digital, o chamado set-top box. Um, a custo mais baixo, seria capaz de receber a definição padrão e outro, mais caro, decodificaria o sinal em alta definição.
Na transição do modelo analógico para o digital, Holanda ressalta que inicialmente a programação também deveria ser transmitida no modo atual. O pesquisador enfatizou que esse é o cenário proposto para dar maior flexibilidade e sustentabilidade ao modelo digital, minimizando os riscos no processo de adoção. O cenário, segundo ele, atende também aos propósitos de inclusão social, de flexibilização na composição do modelo de exploração e de desenvolvimento sustentável para uma transição tranqüila.
FONTES DE FINANCIAMENTO
Durante o debate, o diretor-técnico da Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU), jornalista Alexandre Kieling, sugeriu que o modelo de negócios da TV digital seja definido antes do padrão técnico. Para ele, é necessário criar outras fontes de financiamento da produção de conteúdo, além da publicidade.
O jornalista pediu para o Congresso considerar, no debate sobre o marco regulatório da TV digital, não apenas as possibilidades tecnológicas, mas também as perspectivas sociais e econômicas. "A TV digital oferece a diversidade e a inclusão, com a possibilidade de novos serviços e negócios", apontou. Kieling, defendeu também a diversificação de conteúdo dos canais com a adoção da TV digital.
Para ele, que preside a Câmara de Conteúdo do Conselho Consultivo do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), a multicanalização deve democratizar a TV brasileira com a possibilidade de incluir atores que hoje estão fora dos sistemas convencionais de produção de conteúdo. ?É preciso nos prepararmos para uma situação de divisão do poder na TV brasileira. Seremos atropelados pela tecnologia e pela globalização", prevê. Kieling também defendeu a previsão de canais públicos de TV digital e uma política industrial de médio e longo prazo.
Anteriormente, o diretor da SET, Fernando Mattoso Bittencourt Filho, disse que considera inviável a transmissão de vários programas em um só canal, por causa das limitações do mercado publicitário e da diminuição da qualidade de alta definição. Ele ponderou que experiências na Europa com transmissões fora do modelo convencional de transmissão gratuita, financiado pela publicidade, foram um "fiasco".
Bittencourt Filho defendeu a adoção de um padrão de TV digital no Brasil que utilize a modulação do sistema japonês, com algumas adaptações. Entre elas estariam o desenvolvimento de aplicativos e middleware (responsável pela interface entre aplicativos de software para permitir, por exemplo, a transmissão de programas de TV pelo celular).
O engenheiro defendeu ainda a troca do sistema MPEG-2 de compressão de imagem pelo MPEG-4, que duplica a capacidade de transmissão em alta definição. Bittencourt Filho explicou que os padrões de TV digital são formados por diversos componentes. O que diferencia basicamente os padrões europeu, japonês e norte-americano é a modulação.
O conselheiro lembrou que o padrão norte-americano atende basicamente a transmissão fixa de alta qualidade. O europeu também permite a recepção fixa de alta definição, mas com qualidade um pouco inferior. Também é possível transmitir para recepção móvel, para aparelhos de TV em veículos e barcos, com qualidade bem menor.
Já o sistema japonês, defendido pelo engenheiro, foi desenvolvido mais recentemente. Para Bittencourt Filho, o modelo introduziu ganhos tecnológicos que o tornam mais robusto, permitindo a transmissão com mesma qualidade para aparelhos de TV fixos e móveis, além da transmissão para portáteis, como celulares e agendas eletrônicas, pelo mesmo canal.
Alta definição
O engenheiro considera a TV de alta definição uma tendência mundial. Bittencourt Filho reconhece que é tecnicamente possível um só canal transmitir vários programas de definição padrão, no lugar de alta definição. No entanto, ele considera esse modelo inviável.
O principal argumento apontado pelo engenheiro contra a transmissão múltipla em um só canal é a publicidade. "O mercado publicitário permanecerá o mesmo e, portanto, haverá menos recursos para cada um produzir seus programas", teme. Bittencourt Filho também avalia que essas transmissões iriam gerar produtos de "segunda categoria". Ele observa que a diferença entre a definição padrão e a de alta definição é maior do que a de uma TV em preto e branco para a colorida. "A TV aberta digital tem de ser capaz de transmitir em alta definição, sem prejudicar as empresas de comunicação e o consumidor que não puder pagar para ter qualidade maior."
Já o diretor de Tecnologia e Pesquisa da Philips do Brasil, Walter Duran, defendeu adoção do sistema europeu de TV digital, conhecido como DVB-H. Ele observou que o modelo beneficia a livre concorrência. "Todos os fabricantes têm hoje produtos adaptados para esse sistema. Com maior liberdade de ação, o governo e o cidadão sairão beneficiados."
O representante da Philips observa que o sistema europeu é seguido por mais de 40 países. "É o único a permitir que o país associado faça modificações no modelo para adaptá-lo às próprias necessidades", sustentou. "Depois que surgiu o modelo europeu, nenhum país escolheu outro."
Com informações da Agência Câmara.