Através das redes sociais é possível entender a nova geração de trabalhadores. Facebook, Twitter e LinkedIn fazem parte da rotina da maioria das pessoas. De acordo com o IBOPE, somos cerca de 100 milhões de brasileiros conectados. Destes, 90,8% acessam as redes sociais, segundo dados da comScore. Cada vez mais nos comunicamos com os amigos por mensagens, contamos fatos importantes de nossas vidas através do Facebook e comentamos os grandes acontecimentos em tweets. Essa nova ferramenta de comunicação, como tudo na vida, tem pontos positivos e negativos.
Da mesma forma que as novas mídias permitiram que mais pessoas criassem conteúdo e emitissem suas opiniões – o que caracteriza uma comunicação de "muitos para muitos" – elas também podem ser responsabilizadas por diminuir o contato "olho no olho" entre as pessoas e deixar nossos jovens mais impacientes.
As empresas também estão atentas a esta realidade. Mais do que uma ferramenta de marketing, as redes sociais servem também como meio de comunicação com clientes e colaboradores. No campo da educação corporativa, o uso das mídias sociais em treinamentos ainda aparece de forma tímida. Algumas chegam a criar redes próprias, utilizando plataformas como o Ning.com ou o SuaRede.com.br. Estes espaços possibilitam que os funcionários troquem experiências, encaminhem perguntas e comentem suas expectativas em relação aos treinamentos e seu trabalho. A maioria funciona como um grande fórum corporativo, nos quais alguém publica uma dúvida e recebe diversas respostas.
Outras empresas têm optado por utilizar o próprio Twitter como ferramenta de comunicação. Através dos tweets, os responsáveis avisam sobre atualizações de softwares, novos documentos disponibilizados para as equipes, os próximos treinamentos on-line e até mesmo um quizz. Outras utilizam grupos fechados do Facebook ou do LinkedIn. Existem ainda algumas redes menos famosas, específicas para determinados setores, como medicina, agronomia e engenharia.
Através das redes sociais podemos, de certa forma, entender o novo trabalhador. Características como a impaciência, a falta de habilidade para a comunicação verbal e até a dificuldade de concentração refletem perfeitamente o que acontece nas redes.
Hoje vivemos numa comunidade com excesso de informação. Antes apenas algumas pessoas eram capazes de criar seu próprio conteúdo. Hoje, qualquer pessoa com um mínimo conhecimento em informática consegue criar seu próprio blog e postar conteúdos que considere relevante. Estamos na sociedade do conhecimento coletivo, compartilhado. Isso é excelente por permitir que cada vez mais usuários tenham acesso a informações antes restritas para poucos, mas ao mesmo tempo exige uma criticidade maior do seu leitor, pois nem sempre as fontes são confiáveis.
Existem várias discussões acerca da influência destas mídias na educação das crianças e jovens. Em relação ao treinamento corporativo as discussões ainda estão no seu início, mas é possível fazer uma relação entre os pontos positivos e negativos para os dois públicos. Em uma avaliação otimista, podemos citar que as redes sociais incentivam as pessoas a manterem redes de contatos, possibilita o domínio das novas tecnologias e incentiva a criação pessoal.
Já um olhar mais pessimista pode ponderar que as pessoas nem sempre sabem lidar com a grande oferta de informações que temos hoje. Além disso, qualquer excesso pode ser arriscado: alguns internautas passam horas a fio conectados, o que diminui consideravelmente o contato físico e pode prejudicar a capacidade de comunicação das pessoas. A multifuncionalidade dos jovens de hoje também tem dois lados: é bom para conseguir resolver diversos problemas ao mesmo tempo, mas pode levar a uma falta de foco e prejudicar a concentração.
Quem trabalha com relacionamento ao cliente provavelmente já desenvolveu alguma estratégia baseada em redes sociais. Os especialistas na área são categóricos ao afirmar que as redes sozinhas não vendem, mas que é importante estar presente já que seu cliente também está lá. O ideal é ter sempre um site, um ponto de apoio ou uma campanha em outras mídias que sirva de suporte. Tudo isto demanda algum tipo de investimento, cujo retorno pode ser calculado de diferentes maneiras.
Da mesma forma funciona o uso das redes nos treinamentos corporativos: é efetivo, tem um ROI que pode ser calculado, mas só funciona quando utilizado em conjunto com outras ações. Elas são uma ótima ferramenta de endomarketing, principalmente para saber o que os colaboradores estão esperando dos treinamentos, reforçar dados e manter o contato com a equipe de trabalho.
Muitos treinadores ainda subestimam as possibilidades que o uso correto das redes sociais pode trazer para os treinamentos corporativos. Mas eu defendo esta prática pois o novo é sempre muito atrativo ao ser humano. A informalidade presente nesta ferramenta atrai os colaboradores, que já estão saturados de manuais e conteúdos acadêmicos cansativos. Dentre os benefícios que as redes podem incorporar aos treinamentos também podemos citar que as redes estimulam a produção de conhecimento coletivo e dão agilidade às novas informações. Mais do que apenas sentar em uma carteira e ouvir o que o treinador tem a dizer, os alunos ficam muito mais envolvidos quando são capazes de também pesquisar e criar novos conhecimentos. O fluxo de ideias aumenta e a participação passa a ser algo divertido.
Outro ponto que considero extremamente positivo é o fato da rede permitir que pessoas mais conhecidas, referências em determinado assunto ou com mais experiência em alguma função, compartilhem seu conhecimento com todos. Isso elimina possíveis desconfortos que podem acontecer quando funcionários de hierarquias diferentes entram em contato. Na rede todos podem conversar como se estivessem lado a lado.
A combinação de um conhecimento mais estruturado com as trocas informais entre os colaboradores facilita o aprendizado, pois combina a teoria com a prática de quem realmente faz acontecer e está imerso no dia a dia da empresa.
Buscar novas formas de treinar equipes é essencial. As empresas já começaram a entender a importância de ter colaboradores com iniciativa e pleno conhecimento da sua função e da cultura da empresa. Para isso, o RH precisa estar atento ao que aparece de novo na área, às demandas de cada setor e, principalmente, ao que sente o colaborador e o cliente. Estes dois são os verdadeiros protagonistas da revolução que a era da informação trouxe para as empresas.
Ricardo Devai, diretor da élogos Brasil