Inserindo o metaverso na realidade brasileira

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Metaverso é a palavra do momento para quem se interessa pelo universo da tecnologia. Ele promete revolucionar nossas relações virtuais e, consequentemente, todas as relações de trabalho à distância, e-commerce, entretenimento e por aí vai.

A verdade é que o metaverso não é uma ideia tão nova. O termo, que combina o prefixo "meta", que significa "além", e a palavra universo, foi cunhado pela primeira vez em 1992 na obra "Nevasca", de Neal Stephenson. Na obra, o protagonista, um entregador de pizza na vida real, é um herói no mundo virtual idealizado por Stephenson. Sua missão é enfrentar um vírus de computador que ataca hackers e ameaça provocar o "infocalipse".

Da mesma forma em que a tecnologia em si não era possível na época em que a obra foi escrita e está começando a vir à tona agora, é preciso colocar o pé no chão e considerar quando o Brasil poderá, de fato, usar plenamente o metaverso.

A pandemia de Covid-19 demonstrou o quanto ainda o Brasil necessita de investimento na sua digitalização. Ainda que pesquisas demonstrem que 81% da população já tenha acesso a internet, o que é um grande percentual, a qualidade dessa conexão nem sempre é o suficiente para tarefas básicas como a educação à distância, por exemplo.

Experiências imersivas digitais demandam uma conexão estável de 5G. Isso porque elas simplesmente não podem travar. Ele chegou ao Brasil em 2021, mas o acesso ainda não será difundido para toda a população já em 2022. Ele depende de um espectro de ondas bem maior do que utilizamos hoje em dia e as antenas existentes precisam ser adaptadas.

Ainda vivemos em uma realidade em que milhões de brasileiros só têm acesso ao chip 3G pré-pago das operadoras de celular. Para essas pessoas, muitas das quais não têm acesso nem a saneamento básico, o 5G e, consequentemente, o metaverso estão a uma distância descomunal.

Além disso, o metaverso também demanda equipamento de ponta. Desde computadores com processadores mais potentes do que grande parte da população brasileira tem à mão, até os famosos óculos de VR. Isso tudo além de profissionais extremamente qualificados para produzir as experiências.

Não há dúvida quanto ao imenso potencial transformador do metaverso para as nossas vidas. Quando estiver disponível, poderemos fazer atendimento ao cliente à distância de forma revolucionária. De repente, estaremos aqui no Brasil, comprando um óculos de uma loja no Japão, podendo experimentar no nosso rosto e tendo mais segurança na compra. Teremos a experiência de entrar em um carro digitalmente, um apartamento, um museu, um show.

O próprio setor corporativo poderá usar a tecnologia para processos de onboarding. Contudo, voltamos à discussão anterior. As empresas precisarão garantir o acesso de seus funcionários a todo o equipamento necessário para fazer com que isso funcione. A alternativa seria estreitar os processos seletivos para candidatos que já têm poder aquisitivo o suficiente para arcar com os custos. Não é uma boa ideia.

O metaverso é uma novidade que enche os olhos para o futuro. Mas este futuro por enquanto não será coletivo. Precisamos intensificar ainda mais o investimento, tanto público quanto privado, na democratização da tecnologia. Senão, o acesso restrito a certos recursos aprofundará ainda mais o espaço entre os grupos sociais. Isso aumenta a desigualdade social e, consequentemente, o crescimento econômico.

Passamos por um momento na nossa história em que o Brasil tem recebido um volume expressivo de capital focado no crescimento de nossas startups. A estrutura é realizada pela existência de demanda. Precisamos aproveitar essa ocasião e pensar estrategicamente em como melhor utilizar os recursos que nos são oferecidos e levar nosso país para frente. A hora de investir é agora.

Fabiano Nagamatsu, cofundador da Osten Moove e mentor de negócios no InovAtiva Brasil.

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