Três anos após chegar no Brasil, a portuguesa Outsystems tem planos ambiciosos para a subsidiária no país — fazer com que a operação local dobre de tamanho já neste ano, tanto em número de parceiros de negócios e clientes quanto em volume de vendas, e se torne referência no mercado de tecnologia. Essa meta, na realidade, faz parte da estratégia global da companhia que é transformar a sua plataforma de desenvolvimento e gerenciamento de aplicações corporativas, a OutSystems Platform, num ícone internacional, numa marca tecnológica com projeção mundial.
Hoje, com operações em 25 países dos cinco continentes e atuação em diferentes indústrias, a Outsystems elegeu alguns mercados com grande potencial de crescimento, entre eles o brasileiro, nos quais vai concentrar o foco nos próximos anos, operando por meio de escritórios próprios ou de parceiros de negócios. Além de forte presença na Europa — onde mantém escritórios em Portugal, Holanda e Reino Unido — e nos Estados Unidos, a empresa tem filiais no Oriente Médio, África, África, Ásia, Oceânia e América do Sul, por meio do Brasil.
Segundo Paulo Rosado, executivo-chefe e um dos fundadores da companhia, a OutSystems tem investido muito nos últimos anos na expansão para outros países, como o Brasil e a Austrália. Isso porque, apesar de os EUA representarem o mercado de maior crescimento — onde a empresa registra o maior volume de negócios —, ele também é o mais competitivo, observa. "A Holanda, onde já estamos presentes há algum tempo, continua a ser um mercado em crescimento e o Brasil e Austrália apresentam-se como mercados emergentes e com forte potencial", explica ele.
O CEO da Outsystems diz que o Brasil é um mercado mundial estratégico, no qual a empresa tem registrado crescimento expressivo desde que chegou ao país. Na opinião dele, essa expansão talvez se explique em razão de a Outsystems ter uma proposta focada em apoiar o negócio das empresas através da otimização do processo de desenvolvimento de software. "O CIO brasileiro é bastante pragmático e nossa plataforma permite aos departamentos de TI responderem de forma rápida às exigências do negócio."
O CEO da Outsystems Brasil, Lázaro Pinheiro, conta que o primeiro ano de trabalho foi um aprendizado sobre como funciona o mercado brasileiro. "Já no ano seguinte conseguimos adaptar o modelo de comercialização para ser mais aderente ao mercado e conquistamos um número de clientes muito bom para um início de operação" destaca.
Otimista com o crescimento da companhia no país, Pinheiro diz que pretende dobrar o número de clientes neste ano — atualmente são 35 empresas, de diversos setores — e elevar o número de parceiros de negócios, formados basicamente por integradores, de 12 para 25. Ainda neste ano, a Outsystems também deve abrir mais uma filial, agora no Rio de Janeiro, considerado um estado em potencial para os negócios e onde já possui grandes clientes. Atualmente, a empresa, que atua em todo o Brasil através de parceiros certificados, está presente em São Paulo e Recife com estrutura própria.
Saúde financeira e expansão
Mas, embora esteja atenta às oportunidades que vão surgindo em vários pontos do globo, a Outsystems não tem como meta a expansão em larga escala. "Nós já temos um pool de mercado muito grande e não temos como objetivo imediato ampliar nossa presença de forma exponencial. Queremos ter o controle das regiões onde entramos e nos concentrarmos no apoio aos parceiros de negócios nas regiões onde fizemos apostas estratégicas", ressalta Rosado.
O CEO da Outsystems também afirma que não faz parte dos planos adquirir outras empresas nem tampouco de abrir o capital (IPO). "Essas possibilidades sempre estão na mesa, mas não temos planos." Mesmo a compra de uma startup que possa complementar o seu portfólio está descartada. "Temos uma tecnologia bastante singular e não creio que haja empresa que tenha algo que possa complementar nossa plataforma", diz Rosado. A preocupação, segundo ele, é com a qualidade de maneira geral, daí o cuidado de crescer de forma controlada, investir na massificação do treinamento e na simplificação do processo de entrada das empresas no uso da plataforma.
O foco, ao menos por enquanto, é manter o crescimento de maneira orgânica, de acordo com o vice-presidente de operações internacionais, Carlos Alves. Com 12 anos de atividades no mercado, a Outsystems, segundo ele, vem registrando uma taxa de crescimento anual entre 20% e 30% nos últimos anos — a empresa não revela cifras de vendas e de receita —, impulsionada principalmente por um crescimento orgânico. O executivo acrescenta que não existe também nenhum plano de aumento de capital da companhia.
O capital da Outsystems hoje está dividido entre os quatro fundadores e os fundos de capital de risco Espírito Santo Ventures, do Grupo Espírito Santo, que tem como foco empresas de base tecnológica e projetos de negócios inovadores, e o Portugal Ventures, braço de capital de risco e private equity do governo português, que também concentra seus investimentos em empresas inovadoras, científicas e de base tecnológica, entre outras. Somente o Espírito Santo Venture fez um aporte de 2,4 milhões de euros na empresa, em 2007 — o fundo Portugal Ventures não revela o valor do investimento.
De acordo com o VP de operações internacionais, o crescimento orgânico vem sendo mantido pelos contratos de subscrição de software. Embora a plataforma seja modular, Alves diz que a Outsystems decidiu comercializá-la por meio da subscrição mensal ou anual, o que tem lhe garantido uma forte posição financeira. A subscrição, diz ele, inclui todos os componentes do software, sendo que o preço varia de acordo com a modalidade de contrato, ou seja, se o cliente tiver a ferramenta instalada em seu próprio data center, o custo é um, ou se estiver hospedada no site da Outsystems, o valor é outro.
Atualmente, a Outsystems tem em sua carteira de clientes 350 empresas globais, na qual figuram nomes como os holandeses Ing Bank e a empresa de RH RandStad, o Itaú BBA, para suas operações na Europa, a Liberty Seguros, a Cable Vision, Warner Brothers e o Exército dos Estados Unidos, além da TAP e Portugal Telecom. Recentemente, ela ampliou suas operações para o Oriente Médio, com a abertura de uma filial em Dubai; para a África, com a instalação de um escritório na África do Sul; Ásia, com uma unidade no Japão e outra em Cingapura; e a Oceania, com criação de uma filial na Austrália.
Plataforma ampliada
Nesta semana, a Outsystems também deu mais um passo na estratégia para reforçar sua marca e aproveitou a 10ª edição do NextStep, seu evento anual que reúne clientes, parceiros de negócios e a comunidade de desenvolvedores, para anunciar a versão 9 de sua plataforma. Durante a abertura do evento, Rosado destacou a importância que o momento tem para a empresa, ressaltando que ela estava muito à frente do mercado há alguns anos, visão que agora está se concretizando.
Embora a OutSystems Platform seja uma plataforma como serviço (PaaS) disponível tanto no modelo de cloud, on-premises (nas instalações do cliente) ou como solução híbrida, ele conta que ela já surgiu como cloud. "Contudo, em 2002 esse não era ainda um modelo viável e demorou mais tempo para se consolidar. Imaginávamos que iria explodir dois anos depois, mas só a partir de 2009 começou a se tornar realidade."
Rosado destacou quatro níveis de melhoria na Outsystems Platform 9, cuja versão beta estará disponível a partir do dia 31 de julho. O primeiro está relacionado à integração, já que, por exemplo, a plataforma passa a ter suporte para mais bases de dados — DB2 e MySQL juntam-se a Oracle e Microsoft SQL Server. O segundo nível diz respeito à comunidade, visto que a estratégia da Outsystems para o futuro é que os componentes e as aplicações sejam free e open source.
O terceiro aspecto é a inclusão de uma ferramenta que permite a manipulação de dados através de um dashboard mais visual. E, por fim, o mobile, com a disponibilidade uma aplicação híbrida que se adapta a smartphones e tablets Android e Apple, que utiliza HTML5 e se comporta como se fosse uma aplicação nativa. A versão comercial da plataforma está prevista para chegar ao mercado até o fim do terceiro trimestre.
* O jornalista viajou a Lisboa a convite da empresa.