Apesar da pressão cada vez maior da União Europeia sobre as empresas norte-americanas que fornecem serviços de computação em nuvem para que mantenham dados de clientes corporativos em data centers na região, os negócios dos fornecedores baseados em EUA que operam na Europa vão de vento em popa. Levantamento recente publicado pela IDC mostra que apenas quatro empresas — Amazon, Microsoft, Alphabet/Google e IBM — detêm, juntas, 40% do mercado europeu. Segundo o estudo, a receita combinada com a oferta de infraestrutura de nuvem das quatro empresas quase triplicou no período de três anos, totalizando mais de US$ 2 bilhões.
Esse crescimento, segundo analistas, tem sido impulsionado principalmente pela migração das grandes empresas europeias de suas infraestruturas e sistemas de computação para fornecedores externos, em especial para empresas americanas, devido ao fato de possuírem escala, preços baixos e serem rápidas na implantação de novos serviços e atualizações.
Outro aspecto que tem favorecido os fornecedores americanos é que a maioria deles tem priorizado a construção de novos data centers na Europa, para tranquilizar os clientes de que suas informações estão a salvo dos olhares indiscretos do governo americano. Isso também tem reduzido a vantagem dos concorrentes europeus e ajudando convencer as empresas europeias que os fornecedores dos EUA podem manter seus dados seguros.
As denúncias sobre o programa de espionagem dos Estados Unidos feitas pelo ex-colaborador da Agência de Segurança Nacional (NSA), Edward Snowden, em 2013, e do potencial envolvimento de empresas de tecnologia, desencadearam uma reação na Europa e levaram os órgãos de defesa da privacidade a pedir normas mais rígidas para proteger os dados de companhias e cidadãos europeus.
Por isso, a participação crescente dos fornecedores americanos no negócio de infraestrutura de nuvem na Europa não deixa de ser uma surpresa. Após as denúncias de Snowden, analistas previram que as perdas para as empresas dos EUA que fornecem produtos e serviços de nuvem somariam entre US$ 21,5 bilhões e US $ 35 bilhões globalmente, em três anos.
Inicialmente, as empresas europeias pareciam que iriam tirar proveito da situação e usariam a vigilância do governo dos EUA como marketing contra as fornecedoras americanas. Mesmo assim, muitas empresas europeias utilizam serviços de nuvem norte-americanos, incluindo a francesa Schneider Electric, BMW e Spotify. "Em teoria, as empresas europeias deveriam tirar partido desse crescimento. Mas elas são menos ágeis", disse Jonathan Atkin, analista sênior para a RBC Capital Markets, ao The Wall Street Journal. Para o diretor sênior de nuvem da consultoria Accenture, Jack Sepple, tudo se resume a escala, economia e a automação desses grandes players. "As empresas locais têm dificuldade manter-se nesse patamar."
Desde 2013, a IBM, por exemplo, dobrou o número de data centers na Europa, para 12 sites. No final de 2014, a Amazon abriu um novo conjunto de data centers em Frankfurt, na Alemanha, e outro conjunto em Dublin, na Irlanda. A Microsoft, por sua vez, abriu três novos data centers, e no ano passado anunciou um acordo para permitir que clientes na Alemanha designem a Deutsche Telecom como responsável pelo armazenamento de seus dados.
O Google adotou uma estratégia diferente e não pretende manter os dados de clientes europeus somente na União Europeia, já que a empresa acredita que essa localização pode ser ineficiente. Mesmo assim, o Google tem expandido seus data centers na Bélgica, Finlândia e Irlanda, e está abrindo um novo na Holanda.