O mercado mundial de tecnologia está bastante aquecido e muitas oportunidades têm surgido para que o Brasil se destaque com a exportação de serviços e software, gerando empregos e trazendo divisas ao País.
Em 2006, o mercado de serviços de TI faturou cerca de US$ 1,2 trilhão em todo o mundo. Desse valor, pouco mais da metade, aproximadamente US$ 650 bilhões, foram terceirizados para fornecedores locais, contra US$ 36 bilhões anuais que foram distribuídos para fornecedores de fora dos países de origem.
A oferta de offshore outsourcing, ou seja, a terceirização dos serviços de TI para fornecedores de nações onde existam competência e mão-de-obra mais barata, foi desenvolvida pela Índia, que hoje detém mais de 80% do mercado global. No entanto, apesar da Índia continuar sendo vista como o destino preferido para a terceirização offshore, o mundo busca alternativas para entregar suas tarefas de tecnologia, evitando colocar ?todos os ovos dentro de uma mesma cesta? e, conseqüentemente, minimizando riscos.
A expectativa é que o Brasil aproveite o potencial de crescimento de 40% a 50% ao ano do global sourcing e se estabeleça entre os cinco maiores deste mercado até 2010, gerando US$ 5 bilhões/ano em exportações de software e serviços de TI. Diante disso, há diversos aspectos que apontam para o País como a principal alternativa à absorção da demanda internacional.
Possuímos um dos maiores mercados internos do mundo, somos líderes globais em uso de TI em bancos de varejo e um dos mais sofisticados e eficientes na criação de soluções de automação bancária, principalmente em compensação de cheques e documentos. Nosso Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), por exemplo, é apontado como um dos mais eficientes sistemas financeiros do mundo, através da rede que interliga as instituições financeiras ao Banco Central. Somos a nação mais avançada em uso do Internet banking, com 14% da população utilizando-o assiduamente.
Além disso, o Brasil é o terceiro no mundo em volume de emissão de cartões de crédito, sendo que terminará este ano com 390 milhões de unidades em circulação no mercado (crédito, débito e outros) ? um crescimento de 15% em relação a 2005, de acordo com a ABECS (Associação Brasileira de Empresas de Cartões de Crédito e Serviços).
Entre as razões de tal excelência brasileira em tecnologia financeira, está o histórico da economia instável do País: na época da inflação e da alta variação do câmbio, os bancos precisaram investir em tecnologia e inteligência para o comando das operações financeiras, sujeitas a mudanças rápidas. E isso concedeu profundo conhecimento da indústria bancária ao nosso profissional de TI.
Além da primazia no segmento financeiro, o Brasil ainda conta com um sistema eleitoral totalmente informatizado, que é tido como referência em todo o mundo. Diferentemente de outras nações, há alguns anos já realizamos nossas eleições por meio de urnas eletrônicas, o que possibilita a divulgação dos resultados em menos de 24 horas.
Também trabalhamos num fuso horário similar ao dos clientes internacionais localizados no lado ocidental, possuímos uma cultura semelhante e ainda contamos com profissionais criativos e flexíveis.
Porém, ainda temos algumas barreiras a serem superadas. Para que o Brasil seja reconhecido como um dos maiores exportadores de serviços de TI do mundo, é preciso que sociedade civil, governo e iniciativa privada se unam em prol do desenvolvimento tecnológico da nação.
Inicialmente, existe a necessidade latente da formação de mão de obra especializada em tecnologia e, em especial, com domínio da língua inglesa. Há iniciativas neste sentido envolvendo Governo e empresas mas, é preciso mais para capacitar profissionais brasileiros para o atendimento a clientes globais.
A discussão sobre encargos tributários, fiscais e trabalhistas também é importante – pois podemos perder competitividade frente aos nossos concorrentes.
Existe ainda a necessidade da criação da ?Marca Brasil de TI? no mercado externo, visando projetar globalmente a imagem do País ao buscar o reconhecimento da nossa capacidade. Para isso, é preciso que também haja a consolidação deste conceito em âmbito local, com a ampliação do debate sobre TI nas várias esferas da sociedade.
A exemplo do que foi feito na Índia, o debate sobre tecnologia deve ser disseminado e estar presente no cotidiano das famílias e jovens trabalhadores brasileiros, de forma a sedimentar a TI na cultura brasileira.
Tal medida promoverá um ciclo benéfico ao País ? com o incentivo aos estudos, a formação de mão-de-obra qualificada à criação de empregos e ao fortalecimento das empresas nacionais, seremos capazes de atrair mais investidores externos, gerando oportunidades e divisas para o País. Nesse caso, todos ganham, afinal, temos muito mais do que samba e futebol.
* Antonio Carlos Rego Gil é presidente da CPM, uma das maiores empresas de tecnologia do País, e do Conselho Deliberativo da Brasscom – Associação Brasileira de Empresas de Software e Serviços para Exportação.