O potencial crescimento do mercado de Teste de Software no Brasil

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Em 2008, o mercado global de serviços de TI movimentou cerca de 1,23 trilhões de dólares com um crescimento médio de 3% ao ano. Deste montante, cerca de 755 bilhões correspondem aos gastos com o Outsourcing de TI, segmento que vem crescendo 6% ao ano. Já o mercado de TI voltado ao Offshore de Outsourcing (terceirização para fora do país de origem), aparece com um crescimento médio de 40% ao ano, e movimentando cerca de 70 bilhões de dólares.

O mercado de TI no Brasil cresce a cada ano. O volume de negócios em nosso país superou a marca de 20,6 bilhões de dólares em 2007, sendo 9 bilhões na área de serviços. Este volume corresponde a 1,4% do PIB. Comparado aos Estados Unidos, onde o mercado de TI corresponde a 3% do PIB norte-americano e à Índia, onde corresponde a 8% do PIB indiano, podemos constatar que o mercado interno de TI no Brasil tem um grande potencial de crescimento.

Analisando o mercado de Offshore Outsourcing, temos a Índia, que ganhou destaque entre os países do BRIC, como grande player, com uma participação de 70% do mercado global, o que corresponde a uma receita de 49 bilhões de dólares em 2008. Neste mesmo ano, o Brasil arrecadou cerca de 840 milhões neste segmento, correspondendo a 1,2% do mercado global. Os números são realmente impressionantes, mas a Índia já começa a apresentar sinais de dificuldades e é fato que, até 2010, 10 entre 10 CIOs de empresas de todo o mundo buscarão outras alternativas, devido a fatores como a elevada taxa de turnover, em torno de 50%, e aumento no custo da mão-de-obra, entre outros.

Embora não existam dados específicos quanto ao mercado de teste de software no Brasil, estima-se que gire em torno dos 250 milhões de dólares (outsourced e in-house), muito pouco se compararmos ao total movimentado pelo setor de serviços de TI no país, ou ao mercado indiano, que movimentou cerca de 1 bilhão de dólares.

Ao considerarmos o mercado global de teste de software, percebemos que, neste último ano, houve uma movimentação de cerca de 13 bilhões de dólares, sendo 8 bilhões destinados ao mercado de Offshore Outsourcing Testing (OOT). A Índia, que domina este segmento, com uma participação de 70%, precisará de aproximadamente 18 mil profissionais de teste anualmente, nos próximos 3 anos, para suprir toda a demanda do mercado, segundo o Gartner.

O setor de OOT vem crescendo mais de 50% a cada ano e se continuar nesse ritmo o Brasil passará a configurar como um forte player, pois o país apresenta importantes vantagens quando comparado aos seus concorrentes, tais como cultura e conhecimento de negócios, mão-de-obra qualificada, mercado interno de TI forte e diversificado, fuso horário e ausência de desastres naturais.

Em novembro de 2008, foi realizada pela Softex e Apex-Brasil uma missão comercial ao Japão, que teve como pauta, entre outros assuntos, o seminário "A capacidade brasileira em testes de software – Um diferencial competitivo para outsourcing". Esta é uma importante iniciativa para o crescimento do mercado de teste de software no Brasil, pois o Japão representa a segunda maior economia do mundo, além de configurar-se como um grande comprador de TI. O Brasil possui profissionais altamente especializados em desenvolvimento de software, mas também tem grande expertise na área de teste, o que significa que podemos nos destacar internacionalmente nestes dois segmentos.

A oportunidade existe, mas para o Brasil se tornar um dos grandes players do mercado global de TI, será preciso um grande esforço do governo, que deverá atuar fortemente nas áreas de educação (criando uma grande quantidade de mão-de-obra qualificada e com proficiência na língua Inglesa), tributária (reduzindo a carga tributária das empresas), trabalhista (reformulando a CLT) e financeira (aumentando a quantidade e facilidade de créditos para as empresas e reduzindo a taxa de juros). Certamente, o governo não será o único responsável. As empresas, as instituições financeiras e bancárias, as universidades e a população (sim, de que adiantaria todo esse esforço, se não houver interesse das pessoas em atuar nessa área?), todos precisam fazer a sua parte.

Diante da crise econômica mundial, há uma expectativa de redução de 3 pontos percentuais no mercado global de TI, o que diante das proporções nas grandes potências (principais compradores de serviços), não chega a ser tão ruim. As medidas para conter a crise são tomadas e aos poucos o mercado começa a dar sinais de recuperação, mas não podemos nos enganar, a recuperação será lenta e exigirá muita cautela.

No entanto, não existem apenas problemas e preocupações relacionados à crise financeira. Novas oportunidades também se apresentam diante deste cenário. Talvez nunca tenha se falado tanto em redução de custos. E, trazendo isto para a área de TI e, em especial, para o desenvolvimento de software, percebemos a importância do setor e o potencial de crescimento deste mercado. Um processo sólido e estruturado de teste de software pode reduzir drasticamente os custos com retrabalho, aprimorando a qualidade dos produtos, reduzindo os riscos para o negócio e agregando valor.

Um defeito encontrado durante a fase de produção pode custar 1000 vezes mais caro para ser corrigido, do que se tivesse sido encontrado no levantamento de requisitos, por exemplo. Quanto antes identificarmos os defeitos, mais barato será para corrigi-los. O Departamento de Comércio dos Estados Unidos estima que os bugs nos softwares custem 59,5 bilhões de dólares anualmente à economia norte-americana (NIST 2002).

O mercado brasileiro de teste de software ainda pode ser considerado como relativamente pequeno quando comparado ao indiano ou ao norte-americano, porém já destaca-se pelo seu potencial de crescimento. Um exemplo desse potencial encontra-se na iniciativa da criação de uma associação sem fins lucrativos comprometida a fomentar melhores práticas para a área, a ALATS (Associação Latino-Americana de Teste de Software), que além de contribuir para o desenvolvimento do mercado de teste de software no Brasil e na América Latina, vem desde 2002 trabalhando para a disseminação da cultura em teste de software.

Outro forte indicador do crescimento do mercado de teste de software no Brasil é a crescente demanda por certificações e cursos (extensão e especialização) nesta área. Em 2006, a ALATS lançou a CBTS (Certificação Brasileira de Teste de Software) e logo depois chegaram as certificações internacionais, para ampliar o leque de opções. Mais de 500 profissionais já prestaram o exame para a CBTS e a quantidade de interessados aumenta a cada ano, o que denota um amadurecimento e aumento deste mercado.

Para que este mercado cresça na velocidade e volume necessários, no entanto, é preciso que as empresas tenham cultura em teste. Atualmente, em muitas empresas, o teste ainda é considerado apenas como parte do processo de desenvolvimento e é preciso que esta mentalidade seja transformada para que o mercado possa expandir.

Mas para que isto seja possível, será necessário investir, seja através da criação de uma área de testes segregada, com políticas, metodologia, processos estruturados, bem definidos e institucionalizados e profissionais capacitados em teste de software, ou por meio da terceirização para empresas especializadas.

* Aderson Bastos é diretor de projetos da ALATS.

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