É hora de romper o "teto de vidro" e avançar na equidade de gênero

0

Marilyn Loden é uma escritora e consultora de gestão norte-americana. Ganhou notoriedade pela luta que empreendeu a favor da diversidade e é especialmente famosa porque foi ela quem, há 40 anos, cunhou o termo "teto de vidro". A expressão passou a representar uma barreira invisível que impede que um determinado grupo demográfico ultrapasse um certo nível na hierarquia de instituições, sejam elas do setor privado, público ou mesmo em movimentos sociais e políticos.  

Em suas reflexões, Loden abordou todos os obstáculos invisíveis enfrentados pelas mulheres que desejavam progredir profissionalmente. Décadas depois, elas continuam sendo minoria em cargos de alta gerência globalmente – e o Brasil, entre tantos outros países, não tem sido capaz de romper o seu "teto de vidro".  

Por aqui, segundo o relatório Women in Business 2022, da consultoria Grant Thornton, elas ocupam somente 38% dos cargos de liderança. Já de acordo com o levantamento Mulheres em Ações, lançado pela B3 em 2021, a cada 100 empresas com ações negociadas na bolsa de valores no Brasil, apenas seis têm três ou mais mulheres em cargos de direção; 25 têm somente uma; e 61 não registram mulheres entre seus executivos estatutários.  

Basta olhar ao redor para perceber na prática a dimensão desses números. Quantos cargos gerenciais em sua organização são ocupados por mulheres? Quantas delas têm poder de decisão? É preciso dizer com franqueza: no mundo dos negócios, ainda existem preconceitos que atrapalham as mulheres e as privam de oportunidades de desenvolvimento profissional. Apesar de avanços recentes, persiste uma lacuna de gênero muito profunda e há uma longa jornada pela frente para a equidade. 

Nas áreas de Ciência e Tecnologia (C&T), isso é ainda mais evidente e uma questão que precisa ser encarada de frente com urgência considerando que essas atividades são cada vez mais importantes no novo mundo. O estudo Mulheres na Ciência e Tecnologia: como quebrar as paredes de vidro na América Latina, desenvolvido pelo CIPPEC com apoio da Salesforce, identificou que as mulheres ocupam menos de umterço dos empregos nessas áreas e a disparidade salarial média é de 9,4%.  

Para reverter a tendência, o relatório investiga os motivos pelos quais as mulheres não enveredam por esse caminho, bem como as razões pelas quais não encontram trabalho ou não são contratadas. O CIPPEC propôs um plano de ação em três partes, com ações-chave para o setor público, o meio acadêmico e a sociedade civil. Até o momento, esse plano já foi lançado em países como Argentina, Brasil e México e será implementado em breve no Chile e na Colômbia. 

O relatório aponta que a solução passa por empoderar e fomentar o interesse das meninas e jovens pela ciência e tecnologia, uma vez que elas são afastadas dessas áreas desde muito cedo por conta de estereótipos de gênero no ambiente escolar, familiar e nos meios de comunicação. Isso é fundamental para eliminar ideias preestabelecidas pela sociedade desde a infância – como o conceito já comprovadamente equivocado de que "os meninos são melhores do que as meninas em matemáticas e ciências" e de que "as ciências e engenharia são carreiras masculinas".  

Também é preciso fortalecer os mecanismos de transição ao mercado de trabalho, estabelecendo-se um maior vínculo entre o setor educativo e produtivo com programas de formação nas áreas da C&T e práticas profissionais em empresas e instituições de C&T orientadas para as mulheres. Porém, não podemos nos esquecer que não basta que mais mulheres sejam inseridas no mercado – elas precisam permanecer ali e crescer. Para isso, temos que apoiá-las em seus caminhos para que alcancem posições de liderança e, nesse sentido, são fundamentais políticas (no âmbito público e privado) que permitam que elas consigam de fato conciliar a vida familiar e profissional – e que sejam aplicadas da mesma forma para homens e mulheres.  

Pode parecer de menor relevância, mas é crucial, ainda, dar visibilidade a histórias inspiradoras de mulheres que mostrem para as meninas e jovens, e para a sociedade como um todo, a importância da Ciência e da Tecnologia e seu potencial transformador para a sociedade. A área precisa ser apresentada como uma oportunidade para a igualdade de gênero e liberdade econômica para as mulheres.  

É evidente que um conjunto de regras sociais, estereótipos, falta de modelos, políticas públicas e comprometimento do setor privado tem afetado de maneira significativa a confiança das meninas e das mulheres a respeito do que podem ou não fazer, seu ingresso em carreiras de Ciência e Tecnologia, e sua ascensão a posições de liderança nas mais diversas áreas.  

Precisamos inspirar as novas gerações e, por meio de ações concretas, acabar com qualquer preconceito que possa ser enraizado desde os primeiros anos de vida e com as barreiras que elas encaram ao longo de suas vidas. A sub-representação das mulheres é um problema multidimensional e que exige uma abordagem abrangente, levando em conta que os obstáculos que as mulheres enfrentam começam desde pequenas e seguem com elas durante sua formação e sua carreira profissional.  

Vale sempre lembrar que as empresas podem e devem ser plataformas poderosas para a mudança social e que promover a equidade de gênero também é nossa responsabilidade. 

Fernando Antunes Lopes, Gerente de Public Affairs na Salesforce.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.