De olho nas exportãções de TI

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A crise da economia mundial e outros acontecimentos recentes ocorridos na indústria indiana de serviços de TI criaram oportunidades para diversos mercados emergentes, mais conhecidos como novos destinos offshore/nearshore. As principais empresas brasileiras do setor poderão transformar em realidade todo o planejamento e investimento feitos ao longo dos últimos anos. Para alguns especialistas, o Brasil estaria no topo da lista de "beneficiados" com o novo cenário mundial que se desenha, principalmente pela qualidade de seus serviços e maturidade de sua oferta. No entanto, até que ponto o País está preparado para assumir uma posição de destaque mundial?
Em primeiro lugar, cabe uma análise objetiva sobre a atual situação das empresas indianas. Mesmo com os recentes tropeços de algumas companhias gigantes, a força do mercado indiano ainda é inquestionável, sobretudo por sua tradição. A India domina esse mercado com participação de US$41 bilhões contra US$ 5,7 bilhões da Russia, US$ 3 bilhões da China, US$ 2,9 bilhões do México e US$ 1,3 bilhão do Brasil, segundo pesquisa da ATKearney referente ao período 2007/8. Afinal, foram os indianos que consolidaram o conceito de Outsourcing de TI há nove anos, quando souberam aproveitar as demandas surgidas a partir do pânico em torno do Bug do Milênio.
Seus baixos custos são muito difíceis de serem igualados. Exigem dos concorrentes diferenciais estratégicos que sirvam de argumento para exaltar a relação custo x benefício das outras indústrias fora da Índia. Isso se torna um desafio ainda maior quando consideramos que os preços indianos não são apenas baixos, mas também que eles entregam serviços de qualidade – combinação bastante atraente em tempos de crise econômica mundial.
Mas, se os indianos são imbatíveis como parecem, o que resta para o Brasil? É verdade que a Índia ainda reinará por muito tempo no mercado de outsourcing de TI, mas existem fatores que tornam as perspectivas locais bastante otimistas.
A primeira delas é a certeza de que, independentemente da situação econômica global, o segmento de tecnologia da informação sempre crescerá. Já é uma característica histórica a taxa de crescimento do mercado de TI superar o crescimento econômico mundial devido à crescente demanda por tecnologia e automação.
A crise econômica pode servir como mola propulsora para o Brasil, uma vez que a pressão natural pela competitividade cria novos mercados de terceirização. Apesar da evidente queda nos investimentos para crescimento de receita, a contrapartida é uma busca obrigatória por inovação e redução de custos, ambos suportados pela tecnologia. Nesta corrida não existe um segundo colocado.
Outro ponto é a posição geográfica privilegiada do Brasil. Por estarem localizadas em fuso horário intermediário entre Europa e América do Norte, as empresas brasileiras podem prestar serviços remotos em horários mais adequados às operações do cliente do que os fornecedores indianos, que acabam tendo de disponibilizar equipes 24 horas por dia. Esse fator, combinado à maior proximidade cultural, faz das fornecedoras brasileiras opção bastante atraente para a terceirização dos serviços mais estratégicos.
O brasileiro tem a habilidade nata para o bom relacionamento humano. Quando pensamos em outsourcing de TI, por meio do qual diversos serviços podem ser executados remotamente, tão importante quanto "o que" falar para o cliente é saber "como" falar. Hoje em dia, o relacionamento é peça-chave para o sucesso da interação fornecedor-cliente e precisa ser reforçado dia a dia.
Com tantos fatores positivos, será que a indústria brasileira está madura o suficiente para aproveitar as oportunidades que surgirão? As empresas de serviços de TI no Brasil cresceram a partir dos trabalhos realizados no mercado interno, cuja demanda sempre foi enorme. Entretanto, essa característica também acaba apontando deficiência, uma vez que é impossível identificar qualquer companhia local que tenha feito full outsourcing.
As empresas brasileiras têm um longo caminho a percorrer. Será preciso adotar as melhores práticas globais da indústria; implementar governanças corporativas com a transparência e auditagens típicas do mercado, desonerar os custos do capital e da mão de obra, além de investir massivamente em qualificação profissional de TI e na adoção da língua inglesa como a primaria nas equipes globais. O País precisa definir o que espera de sua indústria de TI – um segmento forte e perene ou uma indústria frágil, que será vista daqui a alguns anos apenas como o sonho de alguns poucos visionários?
Nenhuma indústria transformou uma realidade social com tanta velocidade como a de serviços de TI fez na Índia durante a última década. Para que o mesmo fenômeno ocorra no Brasil, o principal foco deverá ser o investimento em educação. Tudo o mais, como telecomunicações, energia e infra-estrutura predial, já esta disponível com a mesma qualidade e custos competitivos encontrados no resto do mundo.
E como não podia deixar de ser, nenhuma atividade econômica traz renda com menor impacto no meio ambiente do que os serviços de TI. Só nos falta refletir sobre o que estamos esperando. Quem souber aproveitar os desafios e oportunidades neste período de crise, assumirá um papel bem maior ao final desse período.
*Alex Jacobs é diretor de global services da CPM Braxis

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