O cadastro positivo, criado pelo Governo para reunir informações sobre bons pagadores, está gerando para uma série de outras frentes de serviços para a Quod, birôs de crédito formado com capital dos 5 maiores bancos brasileiros, está oferecendo soluções antifraude, compliance e de inteligência de cobrança.
Segundo Humberto Bocayuva, head de Marketing e Estratégia da Quod, ela é uma empresa interessante, pois ao mesmo tempo tem uma característica de entidade de classe. "A gente recebe dados de todo o mercado, o que nos dá uma visão muito boa do mercado. Tem dados de mais de 200 milhões de pessoas, das quais 130 milhões fazem parte do cadastro positivo."
A empresa recebeu um aporte de R$ 43 milhões dos seus investidores e planeja dobrar sua receita atual para atingir R$ 374 milhões até o fim do ano. Para isso, tem apostado em tecnologias de ponta e na aquisição de novos dados para apoiar a sua estratégia de crescimento orgânico.
"Estamos vendo um movimento silencioso, mas muito impactante no ambiente de crédito. Se por um lado a gente vê que a inadimplência subiu este ano, por outro ela ainda está em níveis controlados, pelo menos as empresas estão conseguindo lidar com isso, porque a análise de crédito mudou de patamar de uma forma muito significativa. O próprio Banco Central apontou que 40% dos consumidores começaram até melhorar sua história de crédito; 33% permaneceram na mesma e 26% tiveram uma queda", explica o executivo.
"O Cadastro Positivo refinou a análise de crédito, pois tem um histórico de 5 anos, mostrando a capacidade de pagamento do mercado em todo esse período. Tem também outro benefício para sistema financeiro. Por exemplo, um cliente que tem um cartão de crédito por muitos anos, se ele atrasa o pagamento eu não vou negativar de imediato, vou colocar na régua de cobrança. Já no cadastro positivo, quando ele manda para negativação depois de 20 dias é que a informação passa a ser exibida para o mercado, ao invés de 30 ou 40 dias depois que a pessoa deixou de pegar. No cadastro positivo, o que acontece é que ele mostra comportamentos, não depende de uma estratégia de cobrança. Se a pessoa deixar de pagar o cartão de crédito, na próxima vez que a instituição financeira reportar o dado, vai aparecer que houve um atraso. Se por acaso a pessoa estiver vivendo um momento econômico muito "desafiado", o que vai acontecer, com bastante antecedência, é que as empresas que consomem o cadastro positivo vão conseguir visualizar que a situação financeira da pessoa está se degradando", diz Bocayuva.
Um estudo do cadastro positivo mostra que 99% das pessoas que tem um atraso tem mais de um. "O que que acontece quando a gente olha só negativação é que se a pessoa tem 5 títulos em atraso e ela paga um, continua com o nome sujo na praça, mesmo pagando mais 4. No cadastro positivo você consegue separar isso, vê que ela está se recuperando. Essa informação é uma riqueza. Imagina uma empresa que tem um apetite para a seguir esse tipo de consumidor, esse tipo de ferramenta é que ela precisa e também para o consumidor é avaliação muito mais justa".
Base de dados
As empresas de telecomunicações estão mandando dados para formar a base de dados do Cadastro Positivo ainda com alguma irregularidade. As empresas de energia estão em entendimentos, mas ainda não começaram. Outras empresas de gás, saneamento e outras utilities de âmbito municipal e estadual envolve uma negociação muito mais ampla e ainda não começara os entendimentos.
O executivo diz que o que acontece por um lado, é que elas já estão se beneficiando das informações financeiras do cadastro positivo. Além disso, a lei não prevê penalidades para que não enviar os dados e as empresas, apesar de não terem um custo financeiro relevante, têm um custo gerencial, colocar uma pessoa para fazer a gestão da qualidade e modelagem dos dados. Elas não têm estímulo da lei. Por exemplo, uma empresa de telecomunicações hoje já não negativa mais, não faz sentido. Quando ela faz a negativação do consumidor de um telefone pós-pago tem que desligar aquela linha, e aí quando isso acontece perde a única alavanca para a manutenção de serviços. "Do no ponto de vista da empresa de telecomunicações negativar é uma fria, ela perde o cliente e ainda tem um custo de mandar a negativação para fazer a cobrança", afirma Bocayuva.
Fraudes
A Quod está avançando para oferecer soluções antifraude e de inteligência de cobrança. A primeira delas permite à empresa avaliar se o endereço que o consumidor está dando no momento da abertura do cadastro é dele mesmo. A Quod tem uma parceria com as empresas de telecom, para detectar por exemplo, se quando uma pessoa solicita on line um cartão de crédito, que mora em São Paulo, está colocando o endereço no Recife, por exemplo. Se for um fraudador, a solução detecta através da antena de celular que nunca houve a presença dele naquela cidade. Isso é uma peneira para barrar a entrada de um fraudador. Um terço das solicitações de cadastro têm problemas dessa natureza.
Outra solução é para compras on line. Quando é inserido o cartão de crédito na hora da compra, a solução antifraude detecta que o número do cartão é valido, mas, no entanto, o nome não está correto. Isso alerta o comerciante de um possível problema. "Uma das empresas que comprou essa solução reduziu em mais de 50% a contestação de transação, a charge back", ressalta Humberto.
A Quod desenvolveu o QuodX, a solução antifraude para o PIX. Ela criou um grupo de trabalho junto com Febraban e Banco Central e foi nomeada como solução oficial de antifraude do PIX. "A gente criou um ecossistema, um conjunto de aplicações que através de um score determina qual o índice de confiança da chave PIX. Ele analisa, por exemplo, se um celular, e-mail, CPF já foram violados ou não. Está sendo criada uma base de chaves comprometidas, para se saber quando uma CPF foi envolvida numa fraude, mesmo quando a pessoa não sabe disso. A solução detectou que 15% das tentativas de fraude com PIX acontecem em mais de uma instituição financeira. No lançamento do serviço, apenas com a consulta na base do QuodX uma instituição financeira consegui diminuir essa mesma proporção de fraude", ressalta.
Bocayuva explica que por isso é muito importante a colaboração do sistema financeiro para popular essa base. A Quod venceu a concorreu do sistema de antifraude do PIX com uma plataforma aberta onde todos podem participar. No futuro novas funcionalidades podem ser acrescentadas. Hoje o PIX depende de CPF, telefone, e-mail e chave aleatória. O Banco Central pode criar, por exemplo, uma nova chave para fazer do PIX um sistema de identificação, vai ter que se buscar novas formas de proteção, motivo pelo qual a plataforma aberta é importante para absorver novas funcionalidades.
Cobrança
Outro serviço implementado pela Quod é uma espécie de "persona de cobrança" pelo qual se consegue calcular qual que é a probabilidade de a pessoa pagar aquilo que ela está devendo. É uma solução de que consegue classificar uma grande base de devedores por tipos. O primeiro, chamado de "desorganizados" são aquelas pessoas que por algum motivo passam por dificuldades não estruturais, tem uma estabilidade, vão fazer o pagamento das dívidas. Outro tipo é aquele que tem como característica uma dívida grande, inclusive bastante longas, porque esse consumidor está negociando para decisivamente sair da situação; e o tercio tipo é aquele estagnado, que tem superendividamento, com uma situação quase fora controle, que passou do ponto de honrar os pagamentos.
Para cada tipo de devedor, as empresas devem estabelecer uma estratégia de cobrança. Para o desorganizado não é necessária uma cobrança ostensiva, apenas mandar uma mensagem; para o segundo caso, promover uma cobrança amigável; e no último caso não adianta gastar dinheiro com cobrança, só vai perder dinheiro.
Ela explica que para chegar a essa avaliação foi usada inteligência analítica de uma base de dados que está sendo construída desde 2019, com dados a partir de 2018, do cadastro positivo. "São mais de 40 meses e um estudo robusto, bem maduro, uma ferramenta de análise de crédito genial", ressalta.
Além disso, a Quod também está com uma iniciativa de analisar a "pegada digital" que faz o acompanhamento daquela pessoa que vende em marktplaces, que mostra um movimento financeiro e uma geração de renda, e por consequência sua capacidade de fazer pagamentos.