Cerca de 160 milhões de brasileiros, ou 84% de toda população do Brasil, vivem em cidades, segundo o último censo do IBGE (2010). Um número impressionante que só tende a crescer, devendo chegar a 91,3% em 2030 (segundo projeção do Governo Federal). Esses índices colocam em destaque a importância das cidades para o Brasil, pois além de moradia da maior parte dos brasileiros, funcionam como plataformas catalisadoras de interações econômicas e sociais.
Mas qual será o rumo que as cidades tomarão nos próximos anos, diante da rápida evolução e acessibilidade a recursos tecnológicos? Muitos apostam nas "smart cities" como a forma da cidade do futuro. E esse será o tema da nossa viagem tecnológica de hoje: Smart Cities! Vamos começar pelos fatores que criam o substrato para o florescimento das smart cities, olhar para o cenário atual do Brasil e discutir formas para nossas cidades evoluírem na direção dessa nova forma de inteligência urbana.
Como é feita uma smart city?
A forma mais simples de se definir uma "smart city" é: "uma cidade que possui estrutura e cultura tais, que viabilizam soluções de seus problemas com inovação e tecnologia". Mas quais são os componentes que transformam uma cidade em uma smart city? Muitos estudiosos consideram que os principais ingredientes, ou fatores-chave para se produzir as inovações que alimentam uma smart city são:
- Uma infraestrutura tecnológica robusta, preparada para processar grande quantidade de dados, permitindo às pessoas estarem totalmente conectadas.
- Um empresariado com vigoroso viés empreendedor.
- Instituições capazes de gerar grande quantidade de conhecimentos técnicos e acadêmicos.
A intersecção desses três elementos transforma as smart cities em verdadeiras plataformas de geração de inovação. Elas encontram nos próprios problemas do cotidiano urbano matéria para produzir novos serviços e tecnologias, completando o ciclo e criando soluções para os problemas que as geraram. Ou seja, além de tecnologia – fator que muitos consideram erroneamente como o único importante – é necessário haver pessoas dispostas e condições de extrair novas respostas para as questões urbanas.
O Brasil e as smart cities
O Brasil, infelizmente, ainda se posiciona como um país relativamente passivo quando falamos em geração de tecnologia e inovação, com poucas requisições de patentes por ano. Por outro lado, a população brasileira absorve de maneira extremamente rápida a tecnologia. Basta ver que entre os anos de 1990 e 2010, o número de aparelhos celulares cresceu de 667 para 202.944.033, segundo dados do Teleco.
Só para ilustrar, vamos contar um pouco de alguns casos de rápida absorção e uso de tecnologia. Começo retomando um caso que já abordei no artigo Phygital: um link entre o físico e o digital: o uso de gôndolas virtuais. Basicamente a ideia, já tirada do papel por uma rede de supermercados, é colocar imagens que simulam prateleiras de supermercado em estações de Metrô e permitir que os usuários escolham produtos e realizem o pedido através de seus celulares (veja mais aqui). Prático e inovador, não? Outro caso interessante é o Waze, um GPS colaborativo que já encontra no Brasil o segundo país com maior número de usuários – mais de 1,5 milhão em São Paulo e cerca de 500 mil no Rio de Janeiro – segundo matéria da Exame. Para os interessados por aplicativos de melhoria dos transportes por meio de colaboração social, também vale a pena conferir o Moovit, aplicativo similar ao Waze, mas voltado aos usuários do transporte público.
Também é importante notar que o Estado brasileiro já caminha rumo à digitalização, inclusive abolindo alguns documentos físicos para dar lugar a seus equivalentes digitais, como o CPF, certidão de quitação eleitoral, comprovantes e etc. Essa movimentação, no sentido de digitalizar os serviços ofertados para o cidadão brasileiro, tem muito mais força nas esferas federal e estadual do que na municipal. Não cabe aqui entrar em todas as causas desta assimetria, mas a explicação encontra-se no fato de que os municípios são bastante desiguais, tanto em tamanho, quanto em recursos socioeconômicos. Existem municípios, no entanto, que fogem um pouco à regra como é o caso de São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas, por exemplo.
Pensando em tudo que discutimos neste tópico, podemos concluir que:
- O Brasil, como todos costumam dizer, ainda está atrasado em termos tecnológicos.
- Apesar do atraso, temos uma enorme capacidade para absorver e aplicar novas tecnologias.
- Mais do que nunca, é hora de esquecer o "país do futuro", vivendo eternamente do seu potencial, para ser grandioso e focar na construção do futuro propriamente dito. Ou seja, em como fazer esse futuro acontecer.
Mas como chegar ao tão sonhado nirvana tecnológico?
A geração de novas tecnologias e produtos com certeza é importante, mas será que apenas a tecnologia é suficiente para diminuir ou erradicar problemas de transporte, saúde, educação e sociais? Certamente não. Problemas antigos requerem novas tecnologias e novas abordagens para serem resolvidos. É necessário um esforço diferente, que vai além da capacidade de criar novas ferramentas trazendo, através do dialogo e da multidisciplinaridade, novos conhecimentos e pontos de vista para a equação. Um ponto extremamente positivo nesse sentido é que temos uma geração de profissionais que tende cada vez mais à interdependência e interdisciplinaridade. São jovens que não se prendem apenas a sua área de conhecimento, mas sabem buscar, através do estudo e de suas redes sociais, os conhecimentos para colocarem suas ideias em prática. A questão é como agregar os outros fatores da receita para viabilizar o nascimento de ideias inovadores que melhorem as cidades.
A tarefa começa, repito, apenas COMEÇA, com o setor público, que detém poder e recursos para criar mecanismos de estímulo e suporte ao empreendedorismo e desenvolvimento desta nova forma de pensar. A sociedade e os profissionais em geral devem atuar como pontos de criação, disseminação e consolidação de conhecimentos, analisando o ambiente que os cerca para entender a essência dos principais problemas de sua cidade. Feito isso, entra em cena a iniciativa privada, a qual cabe aliar-se tanto aos profissionais empreendedores quanto ao setor público, provendo os recursos e experiência necessários para gerar soluções realmente sustentáveis em todos os âmbitos, especialmente o ecológico, o financeiro e o social. E você, como acha que podemos fazer nossas cidades evoluírem? Use o espaço abaixo para comentar com ideias, casos, sugestões e críticas!
Alexandre Kulpel, executivo de Negócios da Unear.