Diálogo entre competidores do 5G como essencial para a interoperabilidade

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Por que o diálogo entre competidores é fundamental se cada empresa poderia guardar os seus segredos tecnológicos e desenvolver seu próprio 5G? A resposta está no conceito de interoperabilidade. Empresas como a Ericsson são especializadas em desenvolver equipamentos de infraestrutura – a que será adquirida pelos operadores de rede 5G, com as antenas que podemos observar espalhadas pelo mundo – e tal equipamento precisa se comunicar com smartphones desenvolvidos por outras empresas.

Smartphones e estações rádio base precisam se entender. É como se os equipamentos envolvidos precisassem aprender uma mesma língua e, por não terem as mesmas habilidades de abstração dos seres humanos, é preciso definir com precisão tal linguagem. São definidas quais tipos de mensagens devem ser transmitidas, como os tipos de mensagem da rede devem ser processados, interpretados e quais ações devem ser tomadas.

O 3GPP tem 700 membros individuais, incluindo não apenas as principais operadoras de telecomunicações e fornecedores de equipamentos, mas também uma ampla representação de vários setores verticais, universidades, institutos de pesquisa e agências governamentais. Durante o processo de escrita das especificações, todas as empresas membros do fórum submetem documentos descrevendo suas soluções tecnológicas para serem discutidas em reuniões entre seus delegados, que são engenheiros e pesquisadores. O grupo é predominantemente técnico, composto por profissionais qualificados de toda a indústria global, de várias nacionalidades e competências.

O processo de decisão é baseado em consenso, e não por meio de contagem de votos, o que torna as decisões mais robustas, uma vez que é preciso que competidores se convençam sobre a melhor solução para o sistema. Uma vez que tais especificações são escritas, não existe nelas o 5G da empresa A, B ou C do país X, ou continente Y, mas apenas o sistema 5G, global e estandardizado, no que concerne à comunicação entre os dispositivos e a infraestrutura de rede. Para que as empresas possam dialogar no 3GPP de forma eficiente e seus engenheiros possam formar um consenso sobre quais soluções farão parte das especificações, é preciso que as ideias nascidas em cada centro de pesquisa sejam apresentadas de forma clara e objetiva.

A princípio, as patentes são usadas como uma forma das organizações protegerem seus investimentos em P&D e, caso a tecnologia seja adotada, elas são devidamente compensadas por isso. Ou seja, antes de propor algo em um documento para os membros do 3GPP, uma patente contendo a ideia é depositada. Embora pareça contraintuitivo que cada empresa abrir mão de defender sempre sua ideia como a melhor solução, é mais vantajoso convergir para que a conclusão das especificações ocorra atendendo aos prazos.

Ícaro Leonardo da Silva, diretor de Patentes da Ericsson, atuando no desenvolvimento e negociações de licenciamento do portfólio de Patentes Essenciais do Padrão 5G. Ícaro representou a Ericsson durante o processo de padronização do 5G junto ao 3GPP, coordenando a escrita de parte das especificações. Ele é reconhecido como um dos inventores do 5G, tendo contribuído com as soluções de mobilidade e controle de conexão. Em 2019, Ícaro passou a integrar o hall dos mais prestigiados inventores da Ericsson, tendo sido premiado como Inventor do Ano em 2019 por suas contribuições ao 5G. Ele é inventor em mais centenas de patentes depositadas no mundo e continua atuando como inventor na evolução do 5G e no 6G, sendo um dos inventores mais prolíficos da Ericsson dos últimos anos. Brasileiro, natural de Fortaleza/CE, concluiu mestrado e bacharelado em Engenharia Elétrica na Universidade Federal do Ceará (com parte da graduação na École Centrale de Lyon – França).

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