O setor eletroeletrônico terá crescimento nominal médio de 14% em relação ao ano passado, elevando o faturamento para R$ 106 bilhões. Este valor corresponde a 5,1% do PIB nacional, segundo dados apresentados nesta quinta-feira pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). O resultado, segundo a entidade, é muito próximo do que se previa no início deste ano, porém, decorreu de motivos diferentes do que se esperava.
No final do ano passado, avaliava-se que 2006 seria propenso ao crescimento, já que, por um lado, os fundamentos macroeconômicos do país eram favoráveis, com a inflação controlada, o superávit primário sendo alcançado conforme a meta do governo, o balanço de pagamento positivo, o aumento da oferta de crédito e da renda e emprego, e, por outro, a realização das eleições, que normalmente dinamizam os investimentos em infra-estrutura e serviços, mais a Copa do Mundo de futebol completavam um cenário otimista.
No entanto, o rigoroso controle monetário realizado pelo Banco Central, com extrema cautela na redução das taxas de juros, não só inibiu o crescimento econômico como manteve o real valorizado em relação ao dólar, colocando o setor produtivo em desvantagem em relação à concorrência estrangeira, tanto no mercado interno como no mercado internacional. Os investimentos públicos também ficaram aquém do esperado e as vendas decorrentes da Copa do Mundo não representaram incremento expressivo no mercado.
Neste ano, os segmentos que efetivamente puxaram o faturamento da indústria eletroeletrônica para cima foram o de informática e o de transmissão e distribuição de energia elétrica. O faturamento da área de informática deverá crescer 22% em comparação com 2005, resultado do aumento das vendas de desktops, notebooks e impressoras. As vendas das impressoras cresceram 44%, impulsionadas pelo mercado de computadores e pelo reconhecimento da posição fiscal das multifuncionais como bem de informática, no início do segundo semestre, o que motivou a oferta da produção nacional para o mercado.
Esses equipamentos representam hoje mais de 50% do total do mercado de impressoras. Além disso, a MP do Bem, que reduziu a carga tributária de computadores pessoais e notebooks, e criou condições favoráveis para o financiamento de computadores de pequeno porte para a população de baixa renda, foi responsável pelo aquecimento das vendas. De janeiro a setembro de 2006, na comparação com igual período do ano anterior, as vendas de desktops cresceram 41% e as de notebooks 113%. O mercado de PCs neste ano deve atingir 8,3 milhões de unidades, 47% acima do ano anterior. A participação do mercado formal, que no fim de 2004 era da ordem de 27% passou para mais de 50% em setembro de 2006.
O faturamento da área de equipamentos para transmissão de energia elétrica, por sua vez, continua sendo suportado pelos investimentos decorrentes dos leilões realizados a partir de 2002, e da ampliação do número de subestações. Quanto à área de distribuição de energia, o programa Luz Para Todos tem sido o principal gerador de negócios, além da realização de alguns investimentos em função do crescimento do consumo de energia. Os negócios desses segmentos da indústria elétrica compensaram o baixo volume de encomendas de equipamentos para geração de energia, que só foram retomadas em outubro com o leilão de energia nova ocorrido naquele mês.
As demais áreas do setor eletroeletrônico tiveram comportamento compatível com o crescimento moderado da economia brasileira. No segmento de telecomunicações, a telefonia celular manteve o mesmo patamar elevado dos negócios do ano de 2005. A base instalada de terminais celulares passou de 86 milhões, no fim de 2005, para a faixa próxima de 100 milhões neste ano. As vendas no mercado de reposição e substituição por produtos com novos recursos foram as principais razões para o crescimento desse setor, além das exportações que deverão aumentar 22%, em dólar, com expectativa de atingir US$ 2,9 bilhões em aparelhos celulares exportados em 2006.A telefonia fixa continua com os negócios concentrados na expansão da banda larga, decorrentes de novas tecnologias, como voz sobre IP.
Finalmente, o faturamento da indústria de componentes elétricos e eletrônicos deverá crescer 7% neste ano frente a 2005, sendo que os componentes elétricos aumentarão em 8% e os eletrônicos deverão recuar em 1%. É notória a perda de representatividade da indústria de componentes eletrônicos no mercado interno, uma vez que os principais segmentos a que se destinam (indústria de bens de consumo, informática e telecomunicações) tiveram comportamento significativamente acima do seu.
As exportações de produtos elétricos e eletrônicos deverão alcançar US$ 9,2 bilhões neste ano, 18% acima do ano passado (US$ 7,8 bilhões). Esse desempenho, segundo a Abinee, reflete o esforço das empresas para se manterem no mercado internacional, considerando a valorização do real frente ao dólar, que deverá situar-se em 12% neste ano. Em nossa moeda, o crescimento das exportações será da ordem de 5%. O principal produto exportado pelo setor foi telefone celular, com US$ 2,9 bilhões, superando em 22% o montante exportado no ano de 2005.
Quanto às importações de produtos eletroeletrônicos, o volume deve crescer 24% neste ano, atingindo o montante de US$ 18,7 bilhões. Os componentes eletroeletrônicos continuam como os produtos mais significativos na pauta de importações do setor, com uma representatividade de 64%. Os semicondutores serão, novamente, os componentes mais importados, totalizando US$ 3,4 bilhões. Os produtos das demais áreas também deverão ter crescimentos significativos, variando de 8%, para telecomunicações, até 41%, para geração, transmissão e distribuição de energia elétrica.
Com esses resultados, o déficit da balança comercial de produtos eletroeletrônicos deverá atingir US$ 9,5 bilhões, 30% acima do observado em 2005 (US$ 7,4 bilhões). Para 2007, conforme projeções das indústrias, o faturamento do setor eletroeletrônico deverá crescer 15% em relação a 2006. As áreas com maior crescimento serão automação industrial, equipamentos industriais, GTD, informática e material elétrico de instalação.
As exportações deverão atingir US$ 10 bilhões em 2007, 9% acima de 2006, enquanto as importações deverão chegar a US$ 22,3 bilhões, um crescimento de 19%. Com esse resultado, o déficit da balança comercial do setor será de US$ 12,3 bilhões, 29% maior do que o verificado em 2006.