A crescente demanda por aplicações de negócios baseadas em nuvem, que podem ser acessadas remotamente, proveniente dos mais variados departamentos das organizações, tais como marketing e vendas, vem impulsionando a adoção de plataforma como serviço (PaaS). A razão disso é que as empresas têm buscado cada vez mais soluções simples e ágeis para o desenvolvimento de aplicativos sob medida, o que tem dado margem também para o crescimento do fenômeno do DYOA (do inglês, develop your own application, ou desenvolva seu próprio aplicativo).
"Desenvolver o próprio aplicativo segue a mesma tendência verificada com o BYOD [bring your own device, ou traga seu próprio dispositivo], que é a adoção de dispositivos pessoais no local de trabalho. São dois fenômenos que estão remodelando a forma como as empresas trabalham", resume Matthew Gharegozlou, vice-presidente para a América Latina e Caribe da Progress, empresa que vem encabeçando a disseminação desse conceito no mercado.
A fabricante de software, que fornece ferramentas de desenvolvimento, implantação e gerenciamento de aplicações de negócios, tanto no modelo on-premise (tradicional de venda de licenças) quanto na nuvem, tem enfatizado que o uso de PaaS dentro do conceito de DYOA não só diminui o tempo de desenvolvimento e implementação de aplicativos, como também reduz custos. "Além disso, desenvolver um aplicativo ficou mais fácil. No futuro não precisaremos mais de programadores", antevê Gharegozlou, acrescentando que isso dá mais capacidade de inovação às organizações.
É o que a Progress denomina de a "era do desenvolvedor cidadão". A premissa na qual se baseia o slogan é que os negócios estão exigindo cada vez mais e a consumerização de TI elevou as expectativas do usuário, fazendo emergir os desenvolvedores cidadãos ou a geração BYOA — usuários que entendem do negócio e têm experiência técnica suficiente para criar aplicativos ou para participar efetivamente do processo de desenvolvimento. O BYOA é uma das cinco grandes tendências que se devem consolidar na área de tecnologia no próximo ano, apresentadas pela Progress durante sua conferência para analistas, parceiros de negócio e clientes, que acontece até esta quarta-feira, 8, na cidade de Orlando, nos EUA.
Na opinião de Gharegozlou, a migração do desenvolvimento e entrega de aplicações para nuvem é irreversível, embora ela ainda esteja no seu começo, já que isso requer uma mudança profunda no modelo de desenvolvimento de aplicações corporativas.
Nova estrutura organizacional
Para reforçar a estratégia de PaaS, a Progress fez algumas mudanças em sua estrutura organizacional. Desde 1º de setembro, ela começou a operar como três unidades distintas de negócios: OpenEdge, que é a sua plataforma de desenvolvimento de aplicações de negócios; desenvolvimento de aplicações e implantação; e conectividade de dados e integração — cada uma delas com uma equipe de vendas dedicada, gerenciamento e marketing de produtos. O objetivo da reorganização foi dar maior foco e agilidade na entrega de desenvolvimento de aplicações, seja no modelo on-premise ou na nuvem, bem como na conectividade de dados e integração.
A reestruturação visa também fortalecer a estratégia da Progress no mercado de mobilidade. "Desenhar e implantar aplicativos móveis se tornaram prementes no mercado corporativo, pois mobilidade é hoje uma necessidade para qualquer tipo de negócio", enfatiza Gharegozlou, ao observar que, com a mobilidade, o mundo dos negócios se tornou mais acelerado. E esse ambiente em constante mudança, segundo ele, significa que as empresas devem responder rapidamente às condições do mercado e às demandas dos clientes, ao mesmo tempo que precisam de aplicações de alto desempenho e ultra confiáveis para atender essas demandas.
Embora 80% da receita da Progress ainda sejam provenientes da venda de licenças de software, o vice-presidente regional observa que todos os clientes da empresa, inclusive na América Latina, já utilizam alguma tecnologia de PaaS para o desenvolvimento de aplicações ou planejam adotá-lo no futuro. "Cada um dos nossos clientes já tem um projeto ou está pensado em implantar o PaaS", afirma Gharegozlou. A motivação para essa adesão é, em boa parte, de cunho econômico, reconhece ele. A redução de custos oferecida pela nuvem é incomparavelmente menor. Além da economia com toda a estrutura computacional, que fica alocada em servidores virtuais, a empresa paga somente por aquilo que for usado.
No caso específico do serviço de PaaS da Progress, o cliente paga uma taxa mensal de US$ 40 por usuário. Esse custo, segundo o executivo, abre oportunidade para que as micro, pequenas e médias empresas invistam em PaaS. A vantagem é que, na nuvem, elas podem contar com os mesmos recursos que dispõe uma grande corporação.
Foco nas PMEs
Para alcançar essas empresas, a Progress está expandindo a sua rede de parceiros de negócios, principalmente no mercado latino-americano, que concentra um grande número de PMEs. Trata-se de um mercado com potencial tremendo. Somente no Brasil há 7,4 milhões de PMEs formais, que são 99% do total, de acordo com dados de 2013 da Confederação Nacional das Micro e Pequenas Empresas e Empreendedores Individuais (Conampi).
É um universo capaz de gerar novas fontes de receita para a Progress, que atualmente tem uma carteira de cerca de 7 mil clientes na América Latina. A intenção, diz Gharegozlou, é atrair para a nuvem novas empresas, além da base atual de clientes que precisa modernizar seus sistemas.
O último balanço divulgado pela Progress, relativo ao terceiro trimestre fiscal, mostra que a região latino-americana é hoje o terceiro maior mercado da empresa, à frente da Ásia-Pacífico, que reúne gigantes como China e Índia. Além disso, a região responde hoje por mais de 7% da receita mundial da companhia, ao contrário do que ocorre para a maioria dos fabricantes de software, cuja representatividade chega a, no máximo, 4%.
Atualmente, a Progress possui 100 parceiros de negócios na América Latina, sendo 60 deles somente no Brasil, que, junto com o México, representa os dois maiores mercados da região. A vice-presidente de SaaS e cloud da Progress Corporation, Colleen Smith, avalia que tanto a América Latina quanto a América do Sul oferecem grandes oportunidades para as ofertas de PaaS, até porque o legado de aplicações é muito antigo. "Se pegarmos o Brasil, por exemplo, você verifica que a maioria das aplicações foram criadas há 15 anos."
A executiva explica que uma das estratégias adotadas na região é o trabalho conjunto com os parceiros de negócios, até porque eles hoje enfrentam uma pressão crescente para se diferenciar da concorrência. "Para ajudar nossos parceiros, nós desenvolvemos o Progress Patner+ Program, que, além de estratégia de go to market, também os ajuda a projetar, desenvolver e entregar SaaS", diz Colleen.
Também de opinião que o conceito de desenvolver seu próprio aplicativo é uma tendência irreversível, Colleen diz que isso não significa a morte do modelo on-premise. Ela avalia que as aplicações relacionadas ao core business das empresas continuarão a ser desenvolvidas nesse modelo, muitas até por questões estratégicas.
Para o gerente técnico de marketing da Progress Corporation, Gary Calcott, o modelo on-premise adotado pela maioria dos fornecedores de software ainda está longe da obsolescência. Como indicativo disso, ele cita o caso da própria companhia. "Nossos clientes de OpenEdge continuam investindo nos dois modelos. Muitos utilizam PaaS para o desenvolvimento e o gerenciamento de aplicativos móveis e de web na nuvem, e outros, que precisam desenvolver sistemas que estejam em compliance com as regulamentações vigentes, como o PCI [padrão de segurança de dados para a indústria de cartões de pagamento], adotam o modelo on-premise", explica ele. "Os dois modelos ainda conviverão bastante", diz Calcott, sem arriscar por quanto tempo. "Até porque essa questão do tempo é relativa."
*O jornalista viajou a Orlando (EUA) a convite da empresa.