Empresas irão lucrar cada vez menos com a internet, diz diretor da Wikipedia

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Os modelos de negócio na internet estão passando por grandes transformações e o número de empresas que terão lucro na web será cada vez menor. A afirmação é de Kul Wadhwa, diretor de mobilidade e desenvolvimento de negócios da Wikimedia Foundation, organização responsável pela manutenção da enciclopédia digital Wikipedia. Ele veio ao país para participar da Campus Party 2012, que acontece esta semana em São Paulo. Segundo ele,  a ideia de obter receita em cima de conhecimento e educação não é adequada.

Wadhwa fala de cátedra. A enciclopédia online, com sede em San Francisco, que completou dez anos no início de janeiro e conta com 410 milhões de usuários individuais por mês — quinto maior número do mundo — não tem a monetização como estratégia, embora o potencial seja enorme. Ele defende o objetivo maior da fundação, que opera com um orçamento anual de cerca de US$ 20 milhões, arrecadados em grande parte através de doações, que é a quebra de barreiras ao acesso do conhecimento.

Segundo ele, as companhias que historicamente lucraram com a produção de conteúdo enfrentam forte oposição dos internautas ao tentarem aplicar as leis de propriedade intelectual no ambiente da internet. A consequência disso foram os protestos contra os polêmicos projetos de lei antipirataria Stop Online Piracy Act (SOPA) e Protect IP Act (PIPA), que tramitavam na Câmara de Representantes e no Senado americanos, que contaram com adesão de milhares de sites em todo o mundo. A enciclopédia virtual foi uma das precursoras desse movimento.

Apesar do discurso a favor do usuário e das comunidades virtuais, ele reconhece o peso de empresas, como o Google e o Facebook, na ação que acabou barrando a votação dos projetos de lei. "Claro que qualquer modelo de negócio implica em lucro, por isso as companhias não são totalmente abertas", afirma Wadhwa. Para ele, entretanto, cada vez mais os produtores de conteúdo devem atuar como empreendedores para ter uma fonte de renda.

Contraditoriamente, Wadhwa assume ser fã da Apple, empresa que controla todo tipo de conteúdo, de aplicativos a e-books, desenvolvido para iPad, iPhone ou iPod, que reverte para si uma porcentagem da arrecadação com sua venda de conteúdos no iTunes. Ainda assim, o executivo defende a liberdade online. "A tecnologia está mudando a maneira de pensar da sociedade, por isso ela deve ser mais discutida antes do estabelecimento de leis totalmente restritivas como a SOPA e a PIPA. Empresas e governo não podem controlar a internet que, por si só, nasceu livre”, explica Wadhwa.

Ele critica a falta de engajamento dos cidadãos, especialmente dos brasileiros, nessas questões. Mesmo com uma taxa de engajamento abaixo da média mundial na Wikipedia, Wadhwa revelou que o site irá abrir um escritório no país. "Primeiro estamos em busca de um diretor nacional, mas outras pessoas serão contratadas. Não temos um prazo para isso, mas o Brasil é uma das duas nossas principais prioridades", explicou. O site funciona por meio de doações porque, segundo a filosofia da fundação, não é adequado gerar lucro ou cobrar dos usuários pelo acesso ao conhecimento.

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