Há vinte anos, quando entrávamos em uma grande empresa ou em um grande banco era impensado encontrar alguém que não estivesse bem-vestido — pelo menos para os padrões da época: terno, camisa social e gravata. Esse "código" valia para todo mundo. Desde o finado escriturário até o presidente da empresa, todos estavam obrigatoriamente "uniformizados".
Para as mulheres, era mandatório o uso de saia, camisas com pouca cor e cabelos necessariamente bem penteados e, de preferência, presos. Maquiagem somente em raras ocasiões e desde que bem discretas.
Para os homens a gravata era um item obrigatório e a exigência era levada ao extremo. Em uma época onde até a gravata de crochê era moda, chegou-se ao ridículo de ser usada até com camisa polo. Alguém que aparecesse de jeans e camiseta era tratado como pessoa de nível inferior.
O ditado que o tempo é o senhor da razão também se mostrou presente neste caso. Com a enorme banalização do terno e da gravata, além do aumento assustador de ladrões utilizando este tipo de vestimenta, ocorreu a mudança do conceito de estar bem-vestido. O casual foi ganhando espaço e hoje, em muitas empresas e até em alguns bancos (o último reduto da obrigatoriedade do social clássico), é considerado mais estranho encontrar alguém de terno e gravata do que de calça jeans e camiseta.
A chegada da geração Y ao mercado de trabalho, com muita propriedade e bom humor, está aposentando definitivamente o conceito de que estar vestido de maneira formal é pré-requisito de seriedade ou profissionalismo.
Mas aqueles que acreditam que não existe mais discriminação em relação a vestimenta estão enganados. Infelizmente, o preconceito não acabou. É fácil encontrar pessoas que torcem o nariz quando se deparam, em uma reunião com um grupo de profissionais vestidos de jeans e camiseta. E ainda confundem a pouca idade e informalidade ao se vestir com falta de profissionalismo e, mais chocante ainda: falta de dinheiro.
Situações que podem ser chamadas de cômicas (para não dizer trágicas) repetem-se diariamente, principalmente nas empresas de tecnologia. Os "preconceituosos profissionais" mudam radicalmente sua postura quando descobrem que aquela pessoa, que segundo ele, não está adequadamente vestida para uma reunião, aparentando ser mais um pobre coitado do que um investidor. Na verdade, esse pobre coitado é o cliente que poderá fechar o contrato que irá ajuda-lo a bater suas metas e trazer o projeto que mudará a situação financeira da companhia.
Contudo, por mais que as mudanças aconteçam numa velocidade grande, muitas até carregadas de exageros que vêm transformando tudo em politicamente incorreto, elas tem um lado positivo: é melhor estas oscilações e exageros do que a possibilidade, por mais remota que seja, da falta de liberdade de opinião e expressão.
O que é certo em todas estas mudanças é que todos devem respeitar as pessoas, seus costumes e suas preferências, e que isso não deve, em hipótese alguma, servir de desculpa para justificar uma falta de competência, profissionalismo ou comprometimento.
O respeito ao próximo deve ser tanto para os garotos que chegam ao mercado de trabalho vestindo suas calças jeans, como para o pessoal que já está na estrada há um bom tempo e que, mesmo despidos de preconceitos, continuam a curtir um bom terno e gravata.
O fato é que todos estão aprendendo com o mundo colaborativo. Quanto mais conectados estivermos, melhores serão os resultados para todos e em todos os sentidos. Dessa maneira, o ideal é extrair o melhor de cada um. Não há dúvida que o pessoal de calça jeans é criativo e inovador, mas não se pode descartar a experiência e a habilidade de quem carrega a história de fazer bem feito, por longo tempo, projetos de sucesso.
*Alberto Marcelo Parada é formado em administração de empresas e análise de sistemas, com especializações em gestão de projetos pela FIAP. Já atuou em empresas como IBM, CPM-Braxis, Fidelity, Banespa, entre outras. Atualmente integra o quadro docente nos cursos de MBA da FIAP, além de ser diretor de projetos sustentáveis da Sucesu-SP.