Brasil tem mais cientistas, mas só 23% estão na indústria, diz estudo

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Além de o Estado de São Paulo ter a maior produção científica da América Latina, nos Estados Unidos não há nenhuma universidade que forme mais doutores por ano do que a Universidade de São Paulo (USP) ou a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A comparação foi feita por Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, durante o seminário ?O Desafio da Inovação no Brasil?, realizado na quinta-feira (8/11), em São Paulo.

Ele observou, no entanto, que, apesar de o Brasil ter capacidade de produzir conhecimento altamente competitivo mundialmente, o que seria suficiente para inovar mais, o foco da inovação deve estar nas empresas. ?Há um forte desequilíbrio no aproveitamento dessa capacidade científica pela indústria nacional?, disse.

O cientista ilustrou sua afirmação com um ranking do número de doutores formados por ano em universidades paulistas e norte-americanas. A USP aparece em primeiro lugar por formar, todos os anos, cerca de 2 mil doutores, seguida da Unicamp, com cerca de 870. Em terceiro aparece a Universidade da Califórnia, em Berkeley, com média de 769, seguida da Universidade do Texas, em Austin, com 702, e da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, com 664 doutores formados anualmente.

Uma das causas do desequilíbrio, segundo Brito Cruz, é que, do total de cientistas brasileiros, apenas 23% (menos de 20 mil) desenvolvem pesquisas em laboratórios industriais, enquanto que na Coréia do Sul e nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 54% (94 mil) e 80% (790 mil) dos cientistas, respectivamente, estão empregados nas indústrias para o desenvolvimento de produtos e processos inovadores.

Ele apresentou outros dados que ilustram a relação entre a capacidade da indústria em ter idéias relevantes que podem gerar patentes e o número de cientistas trabalhando em seus laboratórios. ?Na Espanha, país cujas condições de trabalho se aproximam das brasileiras e que também não tem nenhuma universidade que forma mais doutores que a USP, Unicamp ou Unesp [Universidade Estadual Paulista], as indústrias têm muito mais capacidade de trabalhar com conhecimento científico do que as paulistas. Naquele país, pouco menos de 60% dos cientistas trabalham na indústria?, destacou.

De acordo com a Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec 2005), do IBGE, um terço das empresas industriais brasileiras, pouco mais de 30 mil, diz fazer algum tipo de inovação, seja em produtos ou processos. O Estado de São Paulo reúne 35,3% das empresas industriais inovadoras e, do total do gasto industrial em inovação em todo o país, mais da metade (55,6%) foi efetuada pelas empresas paulistas.

Além da falta de cientistas na indústria, Brito Cruz afirmou que a desconfiança institucional dos empresários pode ser outra causa potencial da baixa atividade inovativa da indústria brasileira. Ao citar a Lei da Inovação e a chamada Lei do Bem, o diretor científico da Fapesp ressaltou que, ?como as estratégias de inovação das empresas são feitas para durar uma ou duas décadas, a falta de confiança na continuidade dos recursos concedidos por meio dos marcos regulatórios é também um grande problema a ser analisado.?

Carlos Américo Pacheco, secretário-adjunto da Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo, também presente no encontro, complementou dizendo que a atividade de inovação no Brasil pode ser comparada com um copo meio cheio ou meio vazio. ?Não tenho dúvida de que fizemos razoáveis progressos nos últimos anos, a começar pela explícita inserção do tema inovação na agenda das instituições públicas e privadas. Mas, por outro lado, nosso desempenho ainda é frágil devido à complexidade das políticas brasileiras de estímulo à inovação?, afirmou.

O seminário foi promovido pelo Woodrow Wilson International Center for Scholars, instituto voltado ao debate de políticas públicas sediado em Washington, nos Estados Unidos, e pela Prospectiva Consultoria Brasileira de Assuntos Internacionais.

Com informações da Agência Fapesp.

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