Enquanto o serviço de pagamentos móveis Apple Pay não chega ao Brasil, a concorrência pode acabar se antecipando. Essa é a opinião do diretor sênior e head de produtos digitais do Cone Sul da América Latina para a MasterCard, Marcelo Theodoro, que vê maior oportunidade para a fabricante sul-coreana Samsung por conta de sua maior presença no mercado brasileiro. "O Brasil tem grande potencial. A Apple está olhando para cá, mas provavelmente a Samsung olha ainda mais porque é dona de 85% a 90% do mercado", disse ele após debate de empreendedorismo no auditório da Faculdade de Informática e Administração Paulista (FIAP) nesta sexta-feira, 10.
Theodoro explica que o Brasil já é um mercado grande para pagamentos sem contato direto (contactless), como é o caso desses recursos de smartphones com NFC, já que as máquinas de POS possuem essa tecnologia e estão difundidas no País. Segundo o diretor da MasterCard, há uma presença maior dessas máquinas entre pequenos comerciantes, mas já há projetos com grandes varejistas, como o Carrefour (com a solução PinPad), para implantar pagamentos contactless também. "Estamos trabalhando para que isso funcione com mobile, não apenas no Brasil, mas no mundo".
O vice-presidente sênior para pagamentos emergentes da MasterCard, Daniel Cohen, explica que a empresa tem trabalhado "há muitos anos" para implantar na América Latina a tecnologia de contactless. "Nisso, o Brasil é um dos mercados líderes não apenas na região, mas no mundo. Essa é a infraestrutura, a fundação que nos permite introduzir esses pagamentos por celulares, desde que garantido que (a transação passe) por um elemento seguro", destaca.
A MasterCard, que é uma das parceiras da Apple na implantação do Apple Pay e que, no Brasil, tem a joint venture com a Telefônica (a Zuum) para pagamentos móveis com inclusão bancária; vai promover um hackaton em São Paulo neste sábado, 11. De acordo com Cohen, serão liberadas as 16 APIs da MasterCard para o evento. Além disso, a bandeira de cartões de crédito também trabalha com o Facebook para permitir o envio de dinheiro entre usuários por meio do aplicativo Messenger. "O negócio é reduzir a fricção", explica o executivo norte-americano. "Temos uma rede que conecta contas de bancos. O que fizemos (com o Facebook) foi conectar pessoas diretamente com essa rede", diz.
Barreiras
Para o diretor de marketing da Ericsson, Jesper Rhode, o maior desafio para emplacar o pagamento móvel no Brasil não é a tecnologia. "O maior obstáculo somos nós, a nossa cultura. Tem que reprogramar a cabeça. A tecnologia está lá, a penetração de smartphones é alta, às vezes nem precisa que seja um smartphone. O que precisamos é mudar o hábito", declara.
O CEO e fundador da iZettle, Jacob de Geer, acredita que 2015 será o ano em que o mobile payment finalmente vai deslanchar no mundo, graças à facilidade na usabilidade da plataforma da Apple. Segundo ele, o total de negócios com pagamentos móveis em 2014 foi de US$ 507 bilhões, e a previsão é de que haja 450 milhões de usuários dessas plataformas nos próximos três anos. "É uma 'guerra das carteiras 2.0', todo mundo tentou nos EUA, mas o problema é que não funcionava em todo canto. O Apple Pay é que vai nos dar momento, porque entrega uma ótima experiência para o consumidor, e acho que será o mesmo com o Samsung Pay", declara.
A iZettle tem atualmente 160 mil usuários cadastrados no Brasil, com crescimento de 10 mil por mês, e alcance de 31% do mercado de mobile POS. Para atacar nessa frente, a empresa sueca está lançando no final de maio um minileitor de cartões para ser conectado ao smartphone via entrada p2 (de fone de ouvido), o que o torna compatível tanto com Android quanto iPhone. Lançado na Europa há cerca de um mês e oferecido de graça por lá, o acessório pode ter outra estratégia no mercado brasileiro. "Não sabemos se será de graça, vai depender do modelo de negócios", diz de Geer.