Há 13 anos, ouve-se falar em Documentos Fiscais Eletrônicos (DFe), um projeto do governo que contou com apoio fundamental da iniciativa privada. Os DFes padronizaram e digitalizaram os documentos usados nas tramitações fiscais entre empresas. Mas mais que isso, trouxeram oportunidades de inovação para todos.
O projeto DFe evoluiu muito nesses 13 anos, mas ainda vejo muitas empresas olharem apenas como custo e burocracia. Se observarmos apenas com o viés da obrigatoriedade, nossa visão ficará miope, pois os DFes vão muito além disso. Talvez você até esteja pensando: "a Nota Fiscal eletrônica veio apenas para ajudar o governo na fiscalização das empresas, atrapalhar minha vida e não consigo ver nenhum benefício nisso".
Preciso discordar de você. É certo que eles estão ajudando o governo a fiscalizar. Porém, são também uma fonte rica de dados capaz de trazer inteligência e diferencial competitivo para diversas áreas de empresas de todos os setores e segmentos do país. Ouso dizer que o DFe é o sangue que irriga todo o ecossistema de uma empresa e seu relacionamento com fornecedores e clientes. Através da emissão de um único documento fiscal, inúmeras conexões são feitas.
Para dar mais clareza sobre o que estou falando, quero trazer alguns exemplos práticos, de como uma nota fiscal pode ir muito além da área fiscal. Vamos a eles:
1) Redução de Ruptura e sugestão de reposição de estoque: empresas compram e vendem produtos. Baseando nesse fluxo, é possível identificar tendências, em tempo real, monitorando os documentos emitidos e recebidos. Por exemplo: a partir dos dados das Notas Fiscais de Consumidor eletrônicas (NFCe) emitidas, como código do produto e horário da emissão, uma empresa poderia identificar que um pacote de arroz é vendido, em média, a cada 30 minutos. Se a área de estoque identificar que faz mais de 1 hora que não há saída de nenhuma unidade desse produto, já será um alerta. Falta arroz no estoque? É preciso acionar o repositor? Falta sempre nesse mesmo dia da semana? Não seria necessário antecipar a compra de arroz?
2) Gestão de campanhas promocionais: por meio do fluxo de notas fiscais, uma empresa pode acompanhar os resultados de campanhas promocionais, em tempo real, monitorando a saída dos produtos em oferta através da NFC-e emitida. E o principal, isso dá agilidade para analisar o desempenho e mudar a estratégia com velocidade, caso seja preciso. Também é possível clusterizar lojas para identificar tendências em determinadas regiões, cidades e até bairros. Mais uma facilidade, é identificar produtos que alavancam a venda de outros analisando o conjunto de produtos em um mesmo DF-e. Por meio desse cruzamento, é possível saber o que mais uma pessoa compra quando ela leva um determinado produto e impulsionar vendas de forma indireta.
3) Otimização de processo logísticos: sabia que é possível acompanhar todo o processo de entrega ou recebimento da mercadoria com DF-e? Para isso, existem os eventos fiscais do DF-e, que são registros parciais das etapas, desde a emissão de um documento, até a chegada da mercadoria comercializada ao cliente, seja um consumidor final ou outra empresa. Com esses eventos, é possível rastrear a carga, saber se passou em postos fiscais, o tempo médio para a entrega de determinados produtos, trechos ou regiões que o percurso é mais demorado, a hora de preparar o recebimento de carga, se a entrega de fato chegou ao cliente e muitas outras informações. Isso ajuda na melhor gestão do processo logístico, com maior controle sobre a circulação de compras e vendas.
4) Cruzamento comercial com redes sociais: já pensou em cruzar as campanhas que sua empresa está fazendo nos canais digitais com a venda dos seus produtos? Quem nunca recebeu um anúncio de um produto que está pesquisando ou até mesmo que falou numa roda de conversas com o amigo? E quem nunca continuou recebendo o anúncio após a compra? Os anúncios digitais não costumam ter acesso ao último clique, isto é, que já foi realizada a compra daquele produto que está sendo anunciado. Mas se cruzarmos as informações do anúncio com a da venda por meio do DFe, você poderá economizar, parando de exibir o anúncio para um cliente que já comprou, e até anunciar um produto complementar ao que você já vendeu.
5) Gestão da cadeia de suprimentos – Dois dos grandes desafios da cadeia de suprimentos são a complexidade da cadeia e o monitoramento de resultados. Como todas as empresas do país usam os DFes como modelo único para comercialização dos seus produtos, ele também reduz a complexidade em conectar com os parceiros da cadeira, por não exigir integração entre sistemas. Além disso, permite escalar conexões com todos esses parceiros, facilitando o monitoramento das ações comerciais.
Essas são apenas algumas das possibilidades que os documentos fiscais podem proporcionar às empresas. Com uma base de informações rica, padronizada, que conecta uniformemente mais de 4 milhões de empresas, com mais de 1 bilhão de DFes transacionados no país por mês, é possível ir muito além da área fiscal.
Hugo Ramos, CEO da Oobj.