Um relatório publicado pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais nos EUA (CSIS, na sigla em inglês), em conjunto com a McAfee, revela que o prejuízo anual com ciberataques no mundo soma US$ 445 bilhões, podendo chegar a US$ 1 trilhão neste ano, quase o PIB do México e mais que a soma do que movimentam o tráfico de drogas e o tráfico de armas. O documento alerta que o risco maior de ataques de hackers é para instituições financeiras, varejistas e empresas de energia, devido ao fato de o roubo de dados de seus servidores estarem se tornando mais sofisticados.
A perspectiva, de acordo com o relatório, é que as perdas aumentem, embora em ritmo mais lento. "O cibercrime chegou para ficar", disse Stewart Baker à Bloomberg, um dos principais autores do estudo e ex-conselheiro geral da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) na década de 1990 e, posteriormente, secretário-assistente do Departamento de Segurança Interna.
Ainda segundo o documento da CSIS, no ano passado, cerca de 40 milhões de pessoas nos EUA tiveram suas informações pessoais roubadas e uma empresa de petróleo — cujo nome não é revelado —perdeu centenas de milhões de dólares em oportunidades de negócios em razão de hackers terem obtido dados sobre a exploração de campos de petróleo.
Perdas de emprego
Cálculos feitos pela CSIS mostram que os crimes online podem resultar na perda de 200 mil empregos nos EUA e 150 mil postos de trabalho na Europa, o que elevaria o prejuízo total gerado pelo cibercrime para até US$ 575 bilhões. "O cibercrime é um imposto sobre a inovação e diminui o ritmo de inovação global, reduzindo a taxa de retorno para empresas inovadoras e os investidores", diz o relatório.
O estudo da CSIS tem como objetivo fornecer uma estimativa de custos gerados por ataques globais de hackers a governos e empresas e que podem ter consequências catastróficas.
Um exemplo de perda citado no relatório é o indiciamento pelo Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) de cinco oficiais do Exército chinês, acusados de roubo de segredos industriais e comerciais de empresas americanas que seriam úteis para concorrentes na China. "O maior custo é o roubo de propriedade intelectual", diz Tom Gann, vice-presidente de relações governamentais da McAfee, que recentemente foi adquirida pela fabricante de chips, Intel.
Segredos comerciais são roubados online por governos, organizações criminosas e empresas concorrentes, que contratam seus próprios hackers, observa Gann. "Os ataques são possibilitados pelo crescimento de uma economia subterrânea sofisticada, em hackers e ferramentas de exploração podem ser comprados usando moedas digitais, como bitcoins."
O pior é que as empresas, muitas vezes, desconhecem que foram roubadas e só se dão conta disso muito tempo depois. "A pessoa cuja bicicleta é roubada sabe exatamente o que perdeu na manhã seguinte. Já o dono da fábrica de bicicletas roubada não sabe que perdeu até que uma bicicleta de seu concorrente chega ao mercado", diz o relatório. Além disso, hackers podem invadir redes corporativas ou computadores de advogados e contadores de empresas para roubar informações, desde aquisições que estão sendo negociadas até estratégias de negócios, conclui o relatório.
Manipulação do mercado
"É cada vez mais provável que os hackers percebam que também podem ganhar dinheiro com a informação, por exemplo, sobre a negociação de uma fusão", diz o conselheiro Baker.
O presidente do comitê de inteligência da Câmara dos Deputados do EUA, Mike Rogers, diz que também está preocupado com a manipulação do mercado financeiro. "Temos visto Estados-nação em nossas redes de comércio e nós não respondemos plenamente a pergunta sobre o que eles fazem lá", questiona o deputado Republicano. "Claramente, eles não estão lá para roubar e fugir. Mas estão lá para usar isso e manipular os mercados."
O relatório da CSIS coloca o cibercrime no contexto de outras atividades maliciosas, como a pirataria marítima e o crime organizado transnacional. A conclusão do documento é que o cibercrime custa cerca de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) global, na comparação com 0,02% da pirataria marítima e 1,2% para o crime transnacional.
"Até certo ponto empresas e os governos aceitam o cibercrime como um custo para fazer negócios no mundo digital", diz Baker, acerscentando que isso não deve mudar até que os custos subam acima de 2% do PIB.
Para tentar mostrar o custo gerado por ataques de hackers, Keith Alexander, ex-diretor da NSA, diz que em 2012 as empresas americanas perderam US$ 250 bilhões com o roubo de propriedade intelectual. Segundo ele, espionagem cibernética constitui a "maior transferência de riqueza da história".