No momento em que a Anatel começa a pensar na implementação do 5G no Brasil, alguns executivos de telecomunicações mostram-se pessimistas em relação à tecnologia e perderam o entusiasmo quanto ao seu verdadeiro potencial. Uma pesquisa em recentes declarações públicas de executivos das 20 maiores operadoras de redes móveis em todo o mundo mostra que, enquanto alguns compartilham uma crença no potencial de longo prazo do 5G, mais da metade (53%) não prevê nenhum negócio no curto prazo.
No entanto, pesquisa feita pela Bain & Company defende que as operadoras de rede que não se moverem rapidamente correm o risco de ficar para trás em uma tecnologia que tem o poder de aumentar drasticamente a velocidade e a capacidade, além de dar aos primeiros usuários uma grande vantagem competitiva. Isso teria consequências significativas na participação de mercado e no fluxo de caixa das empresas, tendo em vista a qualidade de rede, que é o critério de compra mais importante para a maioria dos clientes.
Segundo Herbert Blum, líder da prática de Telecomunicações das Américas da Bain, "geração após geração, vimos operadoras investirem para atualizar a infraestrutura com a firme convicção de que esses investimentos resultariam em clientes mais satisfeitos, uma fonte de receita revigorada e lucros mais altos", afirma. "Dado o potencial da tecnologia 5G para trazer uma mudança radical no desempenho da rede e, com isso, gerar novas utilidades, a relutância de algumas operadoras em se comprometer com essa tecnologia é impressionante", diz Blum.
A Bain & Company acredita que concepções mal formuladas influenciaram o setor. Três falácias analíticas surgiram:
1. "Não existe um case de negócio convincente de curto prazo para o 5G."
Os céticos perguntam por que a indústria deveria investir agora, quando as tecnologias ainda estão longe de estar prontas (ex.: realidade aumentada, realidade virtual e direção autônoma). O raciocínio é falho, pois as operadoras não precisam de exemplos de grande sucesso para desenvolver um bom argumento comercial. É possível construir uma lógica convincente com base nas melhorias que ele trará para os casos e usos já existentes: diferenciação competitiva, alívio de congestionamento do 4G e substituição da linha fixa.
2. "A implementação do 5G exigirá investimentos de capital enormes e injustificáveis."
De acordo com uma previsão recente, uma grande operadora integrada europeia precisaria aumentar sua taxa de investimento para consumo (capex-to-revenue) de 13% para 22%, mesmo que implementasse o 5G apenas para áreas urbanas e de negócios densamente povoadas. A Bain & Company vê quatro falhas nessa lógica:
• Primeiro, a suposição de que uma cobertura ininterrupta de 5G é necessária. Na realidade, os dispositivos com capacidade 5G irão se conectar de forma simples e quase instantânea às células 4G, quando não conseguirem obter um sinal de qualidade superior.
• Segundo: a crença de que as operadoras de redes móveis precisarão construir um grande número de novas células 5G em suas redes. Na opinião da Bain & Company, a maioria das operadoras de telefonia móvel já possui suficiente densidade de nós em seus mercados urbanos para acomodar o 5G usando o espectro de 3,5 GHz, e até mesmo a onda milimétrica (mmWave).
• A terceira falha é a tendência de analisar os gastos com 5G isoladamente. Essa visão negligencia o benefício que o upgrade de algumas partes da rede terá sobre o restante dela.
• O quarto e último ponto é antecipar como a tecnologia evoluirá para permitir que o 4G e o 5G coexistam no mesmo espectro e com o mesmo equipamento de nó.
3. "A principal razão para investir é reduzir custos ou, pelo menos, melhorar a economia, mas não aumentar as receitas."
Algumas empresas do setor preveem que, com a combinação de transformações digitais e 5G, as operadoras de rede poderiam reduzir sua taxa de investimento para receita (capex-to-revenue) de 15% para menos de 10% em cinco anos. Embora não haja dúvida de que o 5G ajudará as operadoras a ter um desempenho mais eficiente, isso não significa que elas devam investir apenas para aumentar a eficiência. As operadoras mais bem-sucedidas criarão um ciclo virtuoso de reinvestimento na tecnologia.
As operadoras vencedoras serão aquelas que construírem redes 5G que façam pleno uso dos ativos físicos e espectrais existentes. As empresas líderes investem com prudência, evitando gastos desnecessários. Elas desenvolvem planos de vários anos, que podem ser adaptados à medida que a tecnologia 5G evolua. Além disso, essas operadoras concentram-se em investimentos que podem proporcionar economia de custos operacionais e crescimento de receita, com o objetivo de sustentar uma relação estável entre despesas de capital e receita de 9% a 12%.
"Como foi o caso das gerações de tecnologias anteriores, o 5G, junto com a transformação digital, vai proporcionar maior eficiência do capital", diz Darryn Lowe, sócio da área de Telecomunicações da Bain & Company. "As operadoras mais avançadas usarão essa economia para investir em novos projetos de 5G geradores de receita, desafiando assim os pessimistas e abraçando totalmente as promessas que ele possa oferecer", conclui Lowe.