IA Generativa precisa ser regulada e governada

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A Inteligência artificial tem sido utilizada para diferentes aplicações, ora com foco no atendimento ao cliente, ora para direcionar ofertas, por muitas vezes para classificar risco de crédito e fraude, entre outras situações.  Até poucos meses atrás, o tipo de IA que as empresas empregavam para essas finalidades era limitada a classificadores ou processamento de linguagem natural.

Neste momento, estamos talvez no máximo do "hype" (moda) da IA Generativa classe de modelos de IA cujo representante mais famoso é o ChatGPT. A IA Generativa não se limita à competência de criação de textos, mas pode assumir também a forma de geração de imagens, sons e vídeos, é capaz de "criar" conteúdos de forma mais ampla. Já é possível, por exemplo, gerar e apresentar todo um conteúdo jornalístico através de textos e vídeos criados 100% por IA Generativa, sem intervenção humana. Se o conteúdo é 100% confiável, ainda é uma questão, mas a inteligência permite essa produção.

O potencial de ganho de produtividade advindo da IA Generativa ainda não está totalmente entendido, mas há consenso de que haverá uma melhoria de muitas ordens de magnitude. As aplicações podem abranger inúmeros casos de uso, cito apenas alguns para efeito ilustrativo: melhora de experiência do cliente através de interações personalizadas, geração de códigos de programação, criação de roteiros e textos, vídeos e imagens – corporativos e de entretenimento -, auxílio em análise diagnóstica, geração de imagens para auxílio na criação de materiais e compostos, apoio ao trabalho de engenheiros e cientistas de dados, entre outras. Tal como as ondas tecnológicas anteriores, a IA Generativa combinará crescimento, benefícios colossais e oportunidades extraordinárias, mas com imensas ameaças e riscos.

O correto mapeamento dos riscos envolvidos, com a consequente geração de legislação e governança para mitigá-los, é crucial para um uso responsável e ético da IA Generativa. Há muitas nuances em questionamento, como a falta de transparência, acurácia, viés, propriedade intelectual, cibersegurança, fraudes, sustentabilidade – aos quais as empresas precisam estar atentas. Esses riscos podem trazer impactos sociais e humanitários ainda não totalmente mapeados. Além disso, é bastante provável que as consequências não intencionais do uso de IA ??Generativa criem mais problemas do que os cenários apocalípticos que algumas pessoas têm receio. As questões cruciais no momento são: as sociedades e governos estão preparados para criar o arcabouço regulatório capaz de governar o uso da IA Generativa? E caso não estejam, conseguirão fazê-lo em um ritmo que acompanhe o desenvolvimento desta tecnologia?

Organismos internacionais – G7, ONU – têm se posicionado pela urgência de coordenação transnacional para o desenvolvimento de governança sobre IA, incluindo a IA Generativa. China e Singapura já implementaram novas regulamentações relativas ao uso da ferramenta, enquanto os EUA, Canadá, Índia, Reino Unido e a União Europeia estão atualmente desenvolvendo seus ambientes regulatórios.

Talvez a iniciativa mais avançada seja o EU's AI Act, da Comissão Europeia, que provavelmente será aprovado ainda este ano. O AI Act é um documento de milhares de páginas e é quase impossível resumi-lo num artigo, mas talvez um conceito central que ele aborda mereça ser citado aqui, o enfoque baseado em risco, segundo o qual as aplicações de IA seriam tratadas e governadas de acordo com a ameaça imposta às sociedades.

Além de um enfoque segmentado, legisladores devem levar em consideração que os sistemas de IA são cada vez mais fáceis e baratos de desenvolver e copiar, são controlados por empresas privadas e não por governos, e se difundem mais rapidamente do que nunca. Esse dinamismo todo implica que a legislação deve ser tão inovadora e evolutiva quanto a tecnologia que pretende governar, partilhando algumas das características que tornam a IA uma força tão poderosa.

Qualquer tentativa de prever o caminho evolutivo exato desta classe de IA é, nesse momento, mero exercício de adivinhação. Podemos ter opiniões, estudos e dados que apontem certas direções, mas não conhecemos em todos os detalhes a nova tecnologia com a qual estamos lidando. O fato é que a evolução e a adoção da IA Generativa tem crescido de forma impressionantemente rápida, e é necessário mapear e criar mecanismos de forma coordenada para regular os profundos impactos para a sociedade, positivos e negativos, que essa nova tecnologia certamente trará.

Daniel Arraes,  Diretor de Desenvolvimento de Negócios da FICO para América Latina.

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