Desafios do novo mercado de trabalho em TI

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O mercado de trabalho para os profissionais de Tecnologia está passando por um momento único na história. A quantidade de vagas disponíveis comparada com a formação de novos profissionais está incompatível. O cenário é o mesmo para quem buscou uma formação em universidades, ou construiu conhecimento de forma autodidata, possível na carreira de Tecnologia, desenvolvendo skills técnicos por uma infinidade de conteúdo disponível na internet, ou através de centenas de opções de cursos disponíveis, por diferentes escolas. Mesmo assim, faltam profissionais para alocar nas tantas de vagas no mercado de trabalho. Atualmente, estima-se que haja um déficit de 408 mil postos de trabalho, com perdas se acumulando na casa dos R$ 167 bilhões, como apontou pesquisa da Softex, sobre o mercado brasileiro para grandes empresas. 

Todos os dias o profissional de Tecnologia é bombardeado por alguma nova oportunidade de mercado. Muitas vezes participa de diversos processos seletivos ao mesmo tempo. Cada oferta de trabalho, combinada com recheados pacotes financeiros, faz com que a cabeça do profissional de tecnologia balance a cada oferta, fazendo-se sentir valorizado financeiramente por outras empresas que desejam trazer o perfil escolhido a todo custo. 

Além disso, com o avanço da pandemia em 2020, muitos negócios até então voltados para o mundo físico tiveram que de se adaptar rapidamente ao mundo digital. As empresas que não tinham uma estratégia digital muito clara, ou sem prioridade frente às várias outras iniciativas estratégicas no seu planejamento, se viram na obrigação de adotar medidas para "pivotar" seu negócio para o mundo digital, fazendo com que a Tecnologia passasse a ser uma iniciativa estratégica crucial em seus planos. 

Nesse contexto todo, de crescente demanda por Tecnologia, começam a surgir dificuldades para atender a demanda e necessidades de negócio. A gestão da capacidade de criar soluções tecnológicas nas empresas exige novos modelos de operação. 

Com toda essa necessidade dos negócios em acelerar a transformação digital, as demandas para Tecnologia cresceram exponencialmente. Aliás, a Tecnologia dentro do negócio, e "como negócio", transborda sua atuação para muito além das fronteiras. As empresas tornam-se, cada vez mais, prestadoras de serviços aos seus clientes por meio de uma melhor experiência, com produtos que atendem um público cada vez mais exigente. Tudo isso gera um contexto de contínua mudança, em que a capacidade de se adaptar passa a ser uma característica vital para as empresas. O senso de urgência para projetos de Tecnologia é ainda outro, pelo uso de diversos modelos ágeis e escaláveis, em que o consumo por Data Analytics aumenta ainda mais, pressionando os alicerces tecnológicos a buscarem novas arquiteturas. Transformar o core da empresa, e ao mesmo tempo buscar inovação não é mais uma questão de escolha, mas sim de executar estratégicas paralelas e conjuntas. 

Além disso, lidar com pessoas no ambiente corporativo passa a exigir ainda mais de profissionais de TI competências e capacidades emocionais (soft skills), muito além do universo técnico. Decepções no caminho surgem e colocam à prova a baixa resiliência nas dificuldades no dia a dia. Em uma primeira dificuldade ou decepção, há profissionais de Tecnologia que optam por desistir de seguir em frente e, ao mesmo tempo, passam a olhar para as diversas oportunidades no mercado, com ofertas financeiras generosas, e tomam a decisão por uma nova troca de empresa para assumir um outro desafio. Ao chegar na nova empresa, com o passar do tempo, encontra as mesmas dificuldades, ou até mesmo novas situações que colocam à prova novamente sua resiliência, fazendo pensar em trocar novamente de trabalho, iniciando assim um ciclo vicioso de trocas de empresas empregadoras. 

Gosto de um trecho do livro Sobre a Brevidade da Vida, dos escritos de Sêneca, onde diz: "O maior obstáculo à vida é a expectativa, que fica na dependência do amanhã e perde o momento presente", e ainda complementa: "Cada um apressa sua vida e sofre a ânsia do futuro e o tédio do presente. Mas aquele que emprega todo tempo em seu proveito, que dispõe cada dia como se fosse o último, nem anseia pelo dia seguinte nem o teme". Portanto, para essas situações a que somos expostos no nosso dia a dia, se dispusermos de bons princípios para lidar com elas, então seremos capazes de tomar as decisões de forma adequada, tendo com resultado uma melhora não apenas na trajetória profissional, mas em nossa qualidade de vida. 

Rodrigo Ribeiro, CIO / CTO/ Diretor de TI do Banco ABC Brasil. 

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