Auditoria inteligente: evoluindo defesas organizacionais

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A transformação digital tem transformado todo tipo de atividade e a auditoria não é exceção. Com a auditoria inteligente, ou smart audit, esta área do negócio deixa de ser a função que tradicionalmente aponta os problemas e erros de outras áreas e assume um papel consultivo e proativo.

A auditoria tende a ocupar o que descrevemos como a terceira linha de defesa nas organizações, sendo que a segunda normalmente tem foco em risco e compliance e a primeira em vínculos e aspectos operacionais. Ao monitorar processos internos, a auditoria busca garantir conformidade e identificar riscos não observados – e com o conceito de smart audit, cria-se um novo paradigma, que transforma a forma como esta função opera.

Sob esta abordagem, áreas e processos de alto risco para a organização são identificados com base nos dados disponíveis, ao contrário da abordagem tradicional, que tende a focar em casos aleatórios. Com essa forma contínua de operar, a auditoria inteligente prioriza áreas e processos mais propensos a erro, facilitando a detecção proativa destas vulnerabilidades.

Para isso, se vale de técnicas de inteligência artificial (IA), que envolvem inteligência generativa, machine learning, deep learning e outras estratégias, como detecção de georreferenciamento. A integração de reconhecimento facial nos sistemas também está entre os exemplos que fortalecem a segurança ao evitar problemas transacionais e acessos não-autorizados dentro das empresas.

Ao usar estratégias de mineração de dados, possíveis problemas podem ser identificados mais rapidamente – o que é de suma importância quando se trata de reduzir a duração e impacto de fraudes, por exemplo.

Um ponto relevante na transição para um modelo de auditoria inteligente, no entanto, é a necessidade de fazer com que as linhas de defesa "se conversem" e adotem técnicas de análise avançada de dados de forma integrada. Isso é crucial pelo fato de que, quando a primeira e segunda linhas de defesa usam estas abordagens, a auditoria tem menos vulnerabilidades a identificar, o que resulta em um ambiente organizacional mais seguro.

Ainda com foco em prevenção a fraudes, sempre reforço que a IA neste cenário não é somente sobre regras de negócio, e sim sobre análise comportamental para a detecção de anomalias. Imagine, por exemplo, transações distintas que aparecem na linha do tempo de um cliente, sendo que a primeira aconteceu no centro financeiro de São Paulo, e a outra ocorreu no Rio de Janeiro, poucos minutos depois. Trata-se de uma anomalia temporal que, quando detectada, pode impedir prejuízos financeiros antes que eles ocorram.

Apesar dos ganhos em potencial, a adoção da auditoria inteligente não vem sem desafios. Mas é importante lembrar que a detecção precoce de fraudes usando IA pode economizar milhões para as empresas, além de melhorar a percepção da companhia perante seus clientes. Isso é especialmente relevante quando consideramos as preocupações do consumidor moderno: a maioria dos brasileiros (80%) diz ter sido vítima de fraudes, pelo menos uma vez, segundo um estudo global do SAS com 13.500 consumidores.

Neste cenário, consumidores pensarão duas vezes antes de se relacionar com empresas que apresentam riscos inerentes à perda de dados, perdas informacionais, fraudes que possam gerar dores de cabeça, trabalhos adicionais e até mesmo prejuízos financeiros. Portanto, instituições que  investem em proporcionar um ambiente mais seguro certamente estarão no top of mind do consumidor quando o momento de escolha chegar.

Mais do que o risco de perder clientes, organizações que escolherem não olhar para esta nova área da transformação digital correm o risco de sofrer prejuízos financeiros, além de enfrentar danos à reputação. Em tempos de foco em polícias relacionadas à tríade meio ambiente, social e governança (ESG), uma governança interna robusta, apoiada pela IA, é fundamental para a sustentabilidade e crescimento no cenário corporativo atual.

Impulsionada pela IA, a auditoria inteligente traz uma evolução significativa na forma como as empresas monitoram e garantem a conformidade interna. Ao adotar essas técnicas, organizações podem não apenas aprimorar sua eficiência operacional, mas também fortalecer sua reputação e confiança junto aos seus principais stakeholders.

Ricardo Saponara, líder da Prática de Prevenção à Fraudes, Abusos, Desperdícios e Crimes Financeiros para a região Américas do SAS.

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