Há mais de uma década se sabia que o futuro da computação estava nas nuvens. Este futuro chegou bem mais rapidamente do que se esperava: o mercado global de serviços na nuvem, estimado US$ 150 billhões, cresce cerca de 25% ao ano, segundo empresas de pesquisas. Mas isso não significa que ir para a nuvem – fazer a migração de dados e tarefas, de computadores locais para servidores terceirizados – seja um processo simples.
Há dois grandes fatores de atração para que as companhias decidam levar seus programas ou seus dados para uma nuvem gerenciada por uma empresa especializada: custo e versatilidade. No modelo de armazenamento local, a empresa precisa fazer um investimento prévio em equipamentos, tecnologia e pessoal. A nuvem muda a natureza da operação: a computação se torna uma utilidade, como a água ou a luz. Dessa forma, em vez de alugar uma estrutura, paga-se pela quantidade de espaço utilizada (ou pelos programas acionados) na rede de computadores que constitui a nuvem – e a empresa pode expandir ou contrair suas operações na hora que quiser.
Na teoria, esses benefícios são imbatíveis. Na prática, há várias dúvidas que retardam ou paralisam a mudança: como combinar os sistemas desenvolvidos internamente com os programas oferecidos no mercado? Qual a urgência em fazer a troca, se o sistema atual está funcionando a contento? Qual nuvem escolher? E, talvez mais importante, o que passar para a nuvem e o que manter em servidores da própria empresa?
Para responder a essas dúvidas, primeiro é preciso ter em mente que há vários tipos de nuvem. Também há vários tipos de fornecedores, cada um com sua força. E, finalmente, há inúmeros tipos de configuração de trabalho – o que podemos chamar de arquiteturas de informação, que variam de acordo com as necessidades e as condições específicas de cada empresa.
O pioneirismo da Amazon
Os principais provedores de serviços na nuvem são a Amazon, Microsoft, Google e IBM. Pioneira e líder do mercado, a Amazon Web Services (AWS) começou da necessidade interna da gigante de comércio online. Uma vez que ela tinha que investir constantemente em armazenamento e processamento de dados, surgiu a ideia de alugar o espaço excedente.
Isso se tornou um negócio tão atraente – receita de US$ 12,2, bilhões, lucro de US$ 3,1 bilhões em 2016 – que quase todas as gigantes de tecnologia com infraestrutura potente seguiram o caminho.
A vantagem inicial e uma política agressiva de corte de preços, a AWS mantém na liderança no que o mercado chama de Infraestrutura como serviço, IAAS, e plataforma como serviço, PAAS. Ela aluga processamento, armazenamento, bancos de dados e ferramentas de conectividade e oferece um ambiente para o desenvolvimento de aplicações. Empresas muito conhecidas, como Netflix e Instagram, armazenam e operam seus filmes e fotos pela AWS. Até a CIA, o serviço de inteligência dos Estados Unidos, usa a empresa para gerenciar parte de seus dados. Muitos dos apps que usamos diariamente rodam, sem que saibamos, nos servidores da Amazon.
A virada da Microsoft
Contra esse líder estabelecido lutam alguns concorrentes de peso. A Microsoft passou a investir fortemente no setor em 2010, com o lançamento do Azure, que, nos moldes da AWS, oferece plataforma e infraestrutura como serviço. Uma alavanca para seu crescimento é o fato de que grande parte das empresa já utiliza programas da Microsoft, o que supostamente torna a transição mais suave.
Foi nesse espírito que em 2011 a Microsoft transformou seu popular pacote corporativo Office em serviço. Pelo Office 365, em vez de comprar a caixa com a licença, consumidores podem usar os softwares para criar textos, planilhas e apresentações por uma assinatura anual.
Para ter uma ideia da força dos seus programas, basta olhar a configuração do mercado de nuvens. Segundo a consultoria Synergy Research Group, a AWS domina mais de 40% do setor de IAAS e PAAS, contra 23% de Microsoft, Google e IBM somados. Quando se misturam os softwares como serviço, como o Office 365, a Microsoft passa a ter uma operação equivalente à da Amazon, com praticamente a mesma receita anual.
Não à toa, o diretor da divisão de servidores da Microsoft, Satya Nadella, tornou-se em 2014 o executivo-chefe da companhia. Depois de perder a batalha dos smartphones para Apple e Google, ele sabe que tem de se preparar para disputar as futuras disputas em inteligência artificial, Big Data e realidade virtual. Para isso, a Microsoft precisará de um número muito maior de desenvolvedores no seu ecossistema. Além de trazer receita, o Azure foi lapidado para isso.
A aposta do Google
O Google segue um modelo semelhante ao da Microsoft. A aposta é tão séria que a empresa já afirmou que na próxima década espera que os rendimentos da nuvem ultrapassem o negócio de publicidade online, a base de sustentação da empresa hoje.
Investindo desde 2008 em serviços semelhantes aos lançados pela AWS, o Google já ocupa com folga a ponta da pirâmide de serviços da nuvem, o SaaS, graças à popularidade de serviços usados por centenas de milhões de pessoas, como a plataforma de produtividade Docs e o e-mail Gmail. Seu desafio é conquistar mais espaço no rentável mercado das empresas. Para isso, precisa ocupar o meio e a base da pirâmide, onde a Amazon tem uma vantagem enorme.
A tradição da IBM
A quarta grande concorrente nesse mercado é a IBM. De certa forma, a empresa foi uma pioneira: há décadas já vende espaço e gerenciamento de dados e programas em seus grandes servidores. No início, tentou resistir à computação em nuvem, mas teve de abraçar o modelo.
A transformação lhe rendeu alguns bons frutos. A IBM oferece uma experiência de “nuvem privada”, um serviço para rodar em servidores exclusivos. Mas isso não basta. Para oferecer espaço em seus próprios servidores (uma “nuvem pública”), a empresa comprou, em 2013, a Softlayer por US$ 2 bilhões. O negócio acelerou a transição dos inúmeros aplicativos da IBM para o modelo de venda por assinatura. Sua batalha é dupla: manter seus tradicionais grandes clientes e atrair as pequenas e médias empresas, não acostumadas a contratar seus serviços.
O apelo das locais
O mercado se completa com uma série de empresas menores. No Brasil, entre os players locais há provedores de conteúdo, como o UOL Diveo, operadoras de telecomunicações, como o Cloud Server One, da Vivo, e o Smart Cloud, da Oi, e empresas de hosting que adaptaram seus serviços à computação em nuvem, como a Locaweb.
Na oferta de infraestrutura e plataforma como serviço, porém, seus serviços são mais caros, há menos ferramentas e novidades e o número de engenheiros trabalhando é menor, assim como o dinheiro para sofisticar a infraestrutura. Tanto que, desde 2016, a Diveo hasteou bandeira branca e passou a revender pacotes da AWS.
No entanto, elas se beneficiam de uma característica do mercado nacional: a legislação brasileira exige que as empresas estrangeiras tenham servidores no Brasil. Como construir data centers envolve altos investimentos, surge então a oportunidade para companhias como Equinix, Ascenty e Sonda alugarem espaço em seus centros de dados para que AWS e Microsoft, por exemplo, instalem seus servidores no Brasil.
O corretor de nuvens
Frente a todas essas possibilidades, como escolher o destino para os dados e programas da sua empresa? O primeiro passo, claro, é avaliar se a transição será vantajosa. Para a maioria das empresas que tem alguma ambição de crescer, a resposta será sim. Mas não necessariamente será preciso migrar tudo o que já está funcionando para um ambiente novo. E aí entra mais um elemento: a possibilidade de construir nuvens híbridas – uma mistura entre a infraestrutura privada e uma pública.
Para tomar a melhor decisão sobre onde guardar os dados e programas, o ideal é entender como se quer usar esses dados. Não se trata de uma questão tecnológica. É uma questão estratégica.
As empresas, cada vez mais, precisam incorporar ao seu processo de tomada de decisões dados que pertencem a outros bancos de dados. Mesmo dentro da empresa, muitas vezes há sistemas que não conversam entre si: da folha de pagamentos com o CRM ou com cadastros para marketing, por exemplo.
Por isso está crescendo no mercado brasileiro a figura do broker de nuvem, uma espécie de corretor com características de consultor, que ajuda analisar o tamanho e o tipo de operação do cliente, para indicar a melhor configuração para contratação de serviços de nuvem.
No próximo artigo desta série, vamos analisar os principais aspectos de uma boa arquitetura de informações para a empresa.
Alessandro Cosin, CEO da Cosin Consulting Linked by Isobar.