Vivemos uma época de transformação profunda, baseada em uma maneira completamente nova de ver o mundo e na fusão entre o real e o virtual. Para o novo consumidor, o valor está mais na experiência de uso do que no produto em si. E isto muda completamente a forma como a indústria deve atuar, deixando de ser apenas um conjunto de meios de produção para se tornar uma rede de criação de valor.
Não se trata de aplicar os conceitos de Indústria 4.0 para automatizar e agregar inteligência aos processos industriais do século 20, mas de criar uma nova indústria capaz de lidar com os desafios do século 21. Mais do que a Quarta Revolução Industrial, estamos vivendo um momento de Renascimento Industrial.
Esse renascimento global traz novas maneiras de inventar, aprender, produzir e comercializar. Temos importantes empresas criando soluções nunca antes pensadas para consumidores com perfis completamente diferentes de alguns anos atrás.
O acesso livre às informações e o desenvolvimento de novas formas de interação entre indústrias e tecnologias estão criando a oportunidade para que ideias, produtos e soluções surjam diariamente. Ao potencializar experiências virtuais, realidade aumentada e simulação realista, a tecnologia revoluciona nossa relação com o conhecimento. Esse é o mesmo cenário que aconteceu em outros períodos da história da humanidade – a Renascença Italiana, por exemplo, só foi possível graças à evolução destes mesmos parâmetros.
Nos anos 80, o Vale do Silício estava desenvolvendo mecanismos de busca e sistemas operacionais. Atualmente, está inventando veículos autônomos e objetos conectados que mudam radicalmente a maneira como as pessoas interagem com as coisas. A materialidade e a virtualidade estão se tornando cada vez mais entrelaçadas.
A convergência de tecnologias dos mundos digital (Inteligência Artificial, Simulações, Realidade Aumentada etc.), físico (Robótica, Impressão 3D, Veículos Autônomos etc.) e biológico (Biomateriais, Design inspirado na Natureza, Engenharia Genética etc.) permite mais que nunca harmonizar produtos, natureza e vida, contribuindo para uma sociedade mais sustentável. Temos que entender que a inteligência artificial não substituirá o pensamento humano, mas facilitará o acesso ao conhecimento. Do mesmo modo, a assistência virtual aumentará nossa capacidade de inventar soluções que atendam aos desafios enfrentados pela humanidade.
Vivendo em uma economia global baseada em dados, temos que aprender a valorizar os fluxos de utilizações e os modelos virtuais tanto quanto valorizamos os fluxos de materiais e peças. A divisão tradicional do setor industrial é obsoleta e, por isso, precisa ser repensada para avançarmos na discussão sobre como será a indústria do amanhã. Temos que imaginar o futuro e não simplesmente digitalizar os setores existentes.
Como as pessoas aprendem cada vez mais no local de trabalho, é preciso levar o conhecimento para dentro das empresas. A formação profissional, que hoje é excessivamente segmentada e, em última análise, ineficaz, deve tornar-se multidisciplinar, oferecendo cursos para qualificação e envolvendo a contribuição de parceiros orientados para a inovação. O foco estará nas plataformas digitais, que combinam efetivamente o posto de trabalho e a bancada de laboratório, com a poderosa experiência virtual transformando o aprendizado e resultando em real valor competitivo.
Mas temos hoje um abismo entre as empresas que adotam transformação digital e aquelas que estão apenas começando a entender a ideia. Não se trata apenas de digitalizar dados. Abraçar a Era Digital significa aplicar tecnologias para desenvolver maneiras radicais de trabalhar em conjunto, projetando e produzindo.
Os divisores de águas do amanhã serão as organizações que compreenderem o real significado do Renascimento da Indústria e souberem alavancar conhecimento e know-how, estimulando ambientes de negócios preparados para a verdadeira criação de valor, revelando e capacitando a força de trabalho do futuro. O Brasil dispõe de material humano e competência para ser protagonista neste processo, e não um mero coadjuvante. Mas para realizar este potencial, precisamos nos preparar e agir agora. O que você e sua empresa estão fazendo a respeito?
Luiz Egreja, consultor sênior de Business Transformation da Dassault Systèmes.