Anúncio da Foxconn pode ser 'jogada' para barrar medida de defesa comercial, diz Abinee

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Por trás do anúncio feito na terça-feira, 12, pela Foxconn de que pretende investir US$ 12 bilhões no Brasil para a construção de uma fábrica de displays digitais utilizados em tablets, celulares, TVs e laptops, pode estar a tentativa dos chineses de inibir uma possível medida de defesa comercial, já que a quantidade de produtos importados da China que entram no país de forma desleal é elevada.
A avaliação é de Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), ao dizer que o exagero dos números acaba dando margem a essa interpretação. Ele acha difícil acreditar que a empresa taiwanesa vá, de fato, investir uma cifra tão vultuosa no país. Mas diz que um anúncio dessa magnitude inibe qualquer tentativa do governo de adotar uma medida de defesa comercial.
Na véspera da viagem da presidente Dilma Rousseff à China, por exemplo, o governo voltou a aplicar essa medida para combater as importações brasileiras de produtos provenientes do país asiático. O alvo foram as malhas de viscose produzidas pelos chineses. Esta foi a segunda resolução aplicada pelo governo Dilma contra a China. O pedido de investigação foi feito por empresas brasileiras do setor de confecção e comandada pelo Decom (Departamento de Defesa Comercial) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Além da exuberância da cifra, o anúncio de que quando a fábrica da Foxconn estiver pronta vai criar 100 mil empregos diretos, dos quais 20 mil vagas para engenheiros, é contestado por Barbato. "Como isso é possível se no ano passado todo o setor eletroeletrônico empregou 175 mil trabalhadores. Se considerarmos que num ano tido como bom a indústria gera entre 3 mil e 4 mil empregos, vamos perceber que os números estão superestimados. Onde eles vão arrumar 20 mil engenheiros", questiona ele, numa referência ao fato de o Brasil hoje enfrentar uma escassez de engenheiros. Além disso, ele ressalta que a Foxconn não deve produzir componentes, mas apenas fazer a montagem de produtos semiacabados.
O dirigente da entidade setorial disse estranhar a informação divulgada pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante. "Até porque a prioridade do governo, expressa pelo ministro, é que o Brasil precisa atrair indústrias de componentes, tendo em vista os elevados custos de importação. "O próprio ministro Mercadante deu uma declaração na TV na qual diz que o Brasil precisa deixar de ser apenas exportador de commodities e importador de componentes", observa Barbato.
De acordo com ele, no ano passado, o setor eletroeletrônico importou um total de US$ 34,8 bilhões, sendo que somente da China foram adquiridos US$ 12 bilhões, dos quais US$ 6,6 bilhões foram gastos com a importação de componentes. Isso, frisa o dirigente, é o que entrou oficialmente, já que os componentes para o chamado mercado cinza não aparecem nesses números.
Barbato diz que foi convidado a fazer parte da comitiva de empresários que acompanhou a presidente Dilma em sua visita a China, mas que declinou do convite por não se sentir confortável em razão dos problemas com as empresas daquele país. Apesar de nutrir séria desconfiança em relação ao anúncio feito pela Foxxconn, ele diz que caso o projeto, de fato, se concretize vai causar um enorme desequilíbrio no mercado e acarretar problemas para a indústria do setor. Em razão da repercussão das críticas que tem feito ao acordo com os chineses, Barbato diz que o secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, Luiz Antonio Elias, fez chegar até ele um recado do ministro Mercadante de que está interessado em prestar todos os esclarecimentos a respeito do acordo para sanar qualquer dúvida, assim que ele retornar ao Brasil. "O ministro e o secretário disseram reconhecer que um anúncio como esse cria um grande impacto."

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