Apesar de ter sido visto com certa desconfiança em um primeiro momento, o PIX é uma novidade que já caiu nas graças dos brasileiros por facilitar e tornar mais velozes as transações bancárias. Seguindo a mesma toada, outra mudança que promete trazer benefícios para a população e às instituições financeiras é o Open Banking, mais um símbolo do processo de transformação digital pelo qual empresas de todos os setores estão passando.
Esse método existe em outros países: no Reino Unido já é realidade e na Austrália está passando pelas fases iniciais de efetivação. De forma sucinta, o Open Banking nada mais é que um sistema que permite ao usuário autorizar que seus dados sejam compartilhados entre outras instituições além da qual ele é cliente.
Mas qual é a vantagem disso? Ora, as instituições financeiras não sabem como funciona exatamente o relacionamento de suas concorrentes com seus consumidores. Através do compartilhamento de dados cadastrais, extrato financeiro e produtos contratados, outros bancos poderão oferecer serviços em condições mais adequadas ao perfil do usuário. A tendência é que isso aumente a competitividade, algo que será bom para a população e para o mercado.
Estão autorizadas a implementar o Open Banking apenas as instituições financeiras e de pagamento, fintechs e outras organizações regulamentadas pelo Banco Central. No entanto, parte delas deverá fazer isso obrigatoriamente: as que possuem porte igual ou superior a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) e as com porte de 1% a 10% do PIB, chamadas de S1 e S2, respectivamente.
Mesmo não sendo obrigatório para as instituições de pequeno e médio porte, ninguém quer ficar de fora. Tanto que a lista dos participantes do Open Banking, disponível no site do Banco Central, já conta com mais de 150 nomes.
Esse processo não acontece todo de uma vez, foi dividido em quatro etapas. A primeira fase teve início em 1º de fevereiro de 2021, na qual os próprios bancos compartilharam entre eles mesmos – com supervisão do BC – apenas informações internas e públicas.
Na segunda etapa, as instituições poderão compartilhar umas com as outras os dados e informações de cadastro, conta corrente e tarifas de clientes – desde que eles autorizem. Essa fase começa em 15 de julho. Por isso, todas as instituições financeiras que quiserem participar do Open Banking terão até essa data para implementar as tecnologias necessárias para colocá-lo em prática.
APIs: o que as instituições de pequeno e médio porte precisam para participar do Open Banking
O recurso que permitirá o funcionamento do Open Banking são as APIs, sigla em inglês para Interface de Programação de Aplicativos. Mas essa não é uma tecnologia criada por causa do novo modelo. Na verdade, ela se refere às capacidades digitais de uma empresa que possibilitam a comunicação entre diferentes sistemas. Através das APIs, o software de um banco será capaz de ler e compreender as informações compartilhadas por outro.
Apesar de a proposta do Open Banking ser o aumento da competitividade de forma justa, os bancos maiores, em geral, já contam com a infraestrutura tecnológica e a mão de obra capacitada para implementar e manter o novo sistema.
Para não ficar para trás, as organizações de médio e pequeno porte podem contar com o auxílio de empresas que deem o amparo necessário. Há uma gama de soluções para realizar a implementação do Open Banking e empresas que têm expertise em atender clientes fora do Brasil possuem modelos de API e perfis de segurança em conformidade com os padrões globais. Com as ferramentas certas é possível também monetizar as APIs, trazendo ainda mais vantagens ao negócio.
Vale pontuar que não há uma única forma de obter lucro com as APIs. Essa estratégia já é utilizada por gigantes da internet, como Google, Facebook, Amazon, Netflix e Twitter, mas ainda é um campo a ser explorado no setor de finanças. Antes de mais nada, é necessário que elas possuam um bom funcionamento e sejam simples de entender para que o cliente escolha sua plataforma e tenha uma experiência digital satisfatória nela.
A empresa também precisa traçar um bom plano de monetização. Com o Open Banking, é possível fazer isso oferecendo ao cliente um novo produto: insights de negócio a partir dos dados compartilhados para orientá-lo a gerir melhor as finanças. Portanto, essa é uma oportunidade para que bancos gerem uma nova fonte importante de receitas. E as instituições menores precisarão de suporte para não perder o timing.
Hoje, 70% de todo o crédito de usuários de contas é oferecido pelos cinco maiores bancos do país. O Open Banking chega para democratizar essas operações, trazer benefícios a todas as partes envolvidas e fomentar a transformação digital. No entanto, as instituições de pequeno e médio porte precisam correr contra o tempo para implementar o novo serviço dentro do prazo, com a melhor capacidade de funcionamento e, quem sabe, gerando renda a partir dele. Esse é o futuro das finanças, mas precisamos nos preparar da melhor forma no presente.
Fernando Arditti, Vice-Presidente e Gerente Geral América Latina para a WSO2.