A Neoprospecta, empresa de Florianópolis (SC), que desenvolveu uma tecnologia inovadora para fazer diagnóstico microbiológico em larga escala, utilizando sequenciamento de DNA, acaba de receber um aporte de R$ 4 milhões do fundo Cventures Primus, para investimentos em infraestrutura, área comercial, pesquisa e desenvolvimento. A empresa é a primeira a ocupar o InovaLife, incubadora voltada a empresas do segmento de ciências da vida (life sciences) localizada no Sapiens Parque e mantida pela Fundação CERTI.
A solução desenvolvida pela Neoprospecta permite que instituições de saúde (hospitais, clínicas, postos de saúde) façam um mapeamento completo de possíveis focos de infecção, com detalhes de cada bactéria encontrada e um resultado entregue em tempo recorde. A solução também pode ser aplicada na indústria alimentícia, em frigoríficos, nas estações de tratamento de água e outras áreas. Além da inovação tecnológica, outro grande diferencial é a escalabilidade: de uma só vez é possível fazer a análise de 512 amostras (em breve, poderá analisar até 1024), e cada amostra pode identificar dezenas de milhares de espécies de microrganismos. No método tradicional, com a utilização de uma placa de petri, as espécies são identificadas uma a uma, o que demandaria uma grande quantidade de placas e de tempo para chegar ao mesmo resultado.
No Brasil, segundo dados da Associação Nacional de Biossegurança (CNB), pelo menos 100 mil pessoas morrem ao ano devido a infecções hospitalares. "O que espanta é que este é um problema totalmente tratável, desde que seja utilizado um rigorosas análises microbiológicas nos ambientes dos hospitais, além de práticas simples como lavar as mãos. "Até o momento não existia uma solução para realizar as análises microbiológicas em ambientes de forma eficiente, lacuna que agora é suprida pela tecnologia que desenvolvemos", explica o diretor-presidente da Neoprospecta, Marcos Oliveira de Carvalho.
A empresa surgiu a partir de um projeto de inovação desenvolvido por Carvalho e seu sócio Luiz Felipe Valter de Oliveira durante seus respectivos doutorados em Genética e Biologia Molecular, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O projeto acabou vencendo o primeiro lugar no Prêmio Santander de 2010 e posteriormente o Prêmio Iberoamericano de Inovação e Empreendedorismo em 2011 e gerou parceria com um laboratório suíço, que possuía tecnologia de ponta em sequenciamento de DNA em larga escala, entre outras. Em 2013, a Neoprospecta recebeu aporte de R$ 500 mil de um investidor anjo e estabeleceu-se no Sapiens Parque, em Florianópolis (SC), onde passou por um processo de aceleração e desenvolvimento de tecnologia própria.
Com o investimento do Cventures Primus em 2014, que deverão ser utilizados em um prazo de 24 meses, a empresa espera até 2016 atingir um faturamento de R$ 30 milhões, com foco no setor de saúde (hospitais e clínicas), indústria de alimentos e em companhias que atuam com tratamento de recursos hídricos e minerais. Outro foco é a venda de kits para análise para pessoas físicas e pequenas empresas, popularizando um serviço de alta complexidade: "em breve, o usuário final poderá encomendar o material, fazer a coleta e receber a análise de forma digital, com os resultados disponíveis na nuvem – como já é comum em exames de sangue, porém com um sofisticado sistema de software que irá guiar o usuário nos resultados", adianta Carvalho.
Investidor
O Cventures Primus foi criado em 2013 e tem como investidores FINEP, Federação das Indústrias do Paraná (FIEP), BID, Banco Latinoamericano de Fomento (CAF), IFC (braço do Banco Mundial) e mais seis investidores pessoa física/empreendedores de diferentes segmentos.
"O foco é em empresas inovadoras da região sul e sudeste nas áreas de tecnologia da informação, telecomunicações, negócios digitais e ciências da vida. A Neoprospecta se encaixa exatamente no perfil que buscamos", ressalta Felipe Marcondes de Mattos, diretor de investimentos do Cventures Primus.
O fundo conta com R$ 83 milhões disponíveis para financiar até 16 empresas em um prazo de 5 anos, com possibilidade de aportes entre R$ 1 milhão a R$ 10 milhões por projeto.