O Open Banking é um assunto que desafia a curiosidade de diversos profissionais do setor financeiro. Desde que entrou em vigor a regulamentação da PSD2 (ou Payments Services Directive 2), norma européia que exige a disponibilização de acesso aos dados dos clientes via APIs, cresce a quantidade de questionamentos a respeito de como será possível manter e ganhar novos clientes em meio a esse novo cenário. O fato é que este novo modelo deve facilitar a entrada de novos players e acirrar a disputa pelos consumidores.
Apesar de toda a transformação digital envolvida nesse momento, as melhores tecnologias e práticas têm de estar orientadas ao principal fator que vai trazer um grande saldo positivo para as instituições: entregar uma experiência encantadora aos seus clientes.
Nesse sentido, abrir APIs (ou Application Programming Interfaces) não trará desvantagem para grandes players de mercado. Muito pelo contrário: são a base para que instituições financeiras consolidadas sejam capazes de atuar em um ambiente de colaboração e de parceria com os novos players. Ao parceirizar com startups, fintechs e empresas terceiras, serão capazes de acelerar a inovação, acelerar a oferta de novos produtos e entregar a experiência excepcional que os consumidores tanto buscam.
Este é o Open Banking com o que buscamos trabalhar e que, pela nossa experiência, deve trazer resultados consolidados às instituições atuais.
Nem por isso implementá-lo é um processo simples. Está diretamente relacionado a uma mudança completa de paradigma em relação ao modo tradicional de operar, e que pode implicar em riscos. Para minimizá-los, é necessário adotar a abordagem correta para o tipo de objetivo que se pretende atingir – e claro para o papel que se pretende desempenhar em meio a esse novo cenário.
De acordo com a nossa experiência e de práticas de mercado, podemos afirmar que há quatro formas essenciais de instituições consolidadas adotarem o Open Banking atualmente: exercendo o papel de Integradora, de Produtora, de Distribuidora ou de Plataforma.
Na primeira opção, a instituição é responsável pela oferta e distribuição de seus próprios produtos, normalmente através de desenvolvimento interno. Nesse caso, o banco pode alavancar APIs internamente para acelerar a oferta de novos produtos e serviços, além de melhorar a governança interna. A experiência do cliente é completamente controlada pelo banco. O risco aqui é demorar pra lançar novos produtos e serviços, altos custos e perda do passo da inovação.
No segundo papel, de "Produtora", a instituição atua como uma "fábrica de produtos" financeiros, e permite que outros membros do ecossistema (um terceiro ou uma fintech, por exemplo) cuidem do relacionamento com o cliente e distribuam os produtos dela. A entidade externa (ou Fintech) neste caso além de distribuir o serviço, pode se tornar um agregador distribuindo produtos que agregam dados de diferentes instituições financeiras. E quais os Riscos neste caso? Risco de "comoditização", pois os bancos fornecem a infraestrutura e o receio aqui está em perder o relacionamento com o cliente.
No terceiro modelo, instituições podem considerar estender sua presença digital, distribuindo serviços e produtos de terceiros, através de seus próprios canais de distribuição. Neste modelo, o banco usa insights de clientes e ativos de distribuição para vender produtos originados do ecossistema. Um exemplo bem interessante aqui é da do HSBC do reino unido, que criou uma aplicação chamada de HSBC Connected Money, que agrega dados financeiros e informações de cerca de 21 instituições financeiras diferentes. E qual o risco neste modelo? De canibalização, quando os bancos começam a distribuir produtos que competem com as próprias ofertas existentes.
Na quarta estratégia, o banco se transforma em uma Plataforma digital, cujo objetivo é estreitar ainda mais o relacionamento com o cliente ao conectá-los a novos players. Para compreender o conceito de plataforma, basta olhar no mercado exemplos como Airbnb e Uber, que atuam como "facilitadores" entre os consumidores e os fornecedores dos serviços.
Aplicado ao mercado financeiro, esse conceito se traduz em um ambiente que facilita a troca de valor entre produtores e consumidores, um modelo que conecta bancos e fintechs e move toda uma indústria por meio de forte colaboração.
Neste caso, grandes instituições financeiras tornam-se um verdadeiro marketplace de serviços e, como plataformas, podem oferecer uma série de novos serviços adicionais, entre eles: verificação de identidades, Know Your Customer (KYC), identificação de fraudes, entre outros. E qual o risco neste último caso? De erosão de margens, já que os clientes podem optar por novos serviços com taxas mais competitivas.
É interessante observar que as instituições financeiras podem fazer definições estratégicas e atuar em qualquer um dos modelos, ou quem sabe, adotar os quatro modelos apresentados aqui ao mesmo tempo.
O fato é que o Open Banking e seu modelo baseado em APIs abertas representam uma oportunidade única para as instituições financeiras tornarem mais rápida a oferta de novos produtos e serviços, alavancando um ecossistema vibrante e permitindo às instituições financeiras retomar o controle da jornada do cliente, oferecendo novas experiências com extrema personalização.
Davi Cunha, head de Digital Banking da Sciensa.