Algo divertido de se ver nos principais eventos de tecnologia e telecomunicações são os chutes tentando prever a chegada do 5G. Enquanto nos países desenvolvidos, os testes já estão a pleno vapor e os especialistas apontam a inauguração da rede em 2019, no Brasil, a indústria de telecom é mais conservadora e trabalha entre os anos de 2021 e 2022. E uma das razões para esse atraso são as antenas parabólicas.
Isso porque, de acordo com Carlos Camardella, consultor de Engenharia de Telecom da Claro Brasil, a frequência de espectro que o 3GPP, órgão que desenvolve os padrões de banda larga móvel, é o 3,5 GHz, a mesma banda utilizada pelas antenas que recebem o sinal de TV aberta via satélite e que são utilizadas em áreas mais afastadas dos grandes centros, onde a transmissão dos canais não é da melhor qualidade.
Camardella, que participou de painel realizado nesta quinta-feira,14, sobre o 5G no CIAB FEBRABAN 2018, explica que os testes feitos atualmente no Brasil mostram que as antenas sofrem interferência de estações radio-base próximas. Para resolver o problema, há duas soluções: ou se usa outra frequência para o 5G ou se desenvolve uma tecnologia que mitigue a interferência.
A primeira opção não é viável, diz Camardella. "O 3GPP também indica o uso de frequências acima de 24,5 GHz, mas quanto mais alto, mais complexo fica para levar a conexão até o consumidor, pois há perda de dados no movimento." No 3,5 GHz, não há esse problema, já que ele está apenas um pouco acima do 4G.
Por isso, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e as operadoras trabalham para desenvolver um sistema de filtragem para colocar nas parabólicas. No cronograma do órgão, os testes com a tecnologia devem começar a partir desse ano e podem se alongar até 2019.
A situação se assemelha ao que ocorre com o 700 MHz, onde o governo trabalha para desligar o sinal analógico de televisão para liberar o espectro. "A tendência é que se crie um no fundo das operadoras para distribuir um futuro equipamento de filtragem para as antenas", diz o consultor.
A partir do desenvolvimento do filtro, Camardella acredita que será lançada uma consulta pública para licitar as frequências. "A partir da aquisição do espectro, as operadoras já poderão implementar o 5G, se já estiver disponível", diz.