A origem das falhas do Samsung Note 7 segue em aberto, sem um posicionamento claro da empresa sobre isso. Tudo indica, porém, que a ânsia desenfreada das empresas e seres humanos por criar histórias de sucesso baseadas em inovação é uma das hipóteses para este fiasco. Experts do mercado disseram que o novo projeto da Samsung era mais complexo e inovador do que qualquer outro smartphone jamais fabricado pela empresa coreana. O dispositivo móvel criado para vencer os concorrentes atuais – Apple, LG, Sony – e futuros – o Pixel, o lançamento da Google que deverá acontecer até o final deste mês – acabou, no entanto, derrubando as ações da Samsung e provocando grandes prejuízos.
Vejo este caso como um alerta para as empresas que buscam a evolução baseada em inovação tecnológica e têm a necessidade e o sonho do pioneirismo a qualquer custo.
O ônus destes projetos pode trazer danos irreparáveis às corporações e fazer desaparecer do mapa empresas e pessoas nascidas para o sucesso e a prosperidade. O susto causado pelo caso desta semana gerou um alerta amarelo em projetos tecnológicos que atropelaram as fases de desenho, planejamento e, principalmente, testes e provas de conceito.
Vivemos imersos na era da transformação digital baseada em mobilidade, cloud computing, BigData e redes sociais. Dentro desse contexto, as empresas em busca de inovação devem iniciar sua jornada ao mundo digital com a criação de um ambiente de trabalho adequado. Faz parte deste quadro a desmistificação das soluções inovadoras, fase seguida por um longo processo de planejamento e desenho do que será implementado. A inovação inclui, ainda, a realização de provas de conceito e testes de validação e adaptação.
Essa fórmula é o básico para um start maduro e com baixo risco de fracasso.
Temos acompanhado o avanço do mercado brasileiro em direção de projetos de IoT (Internet das Coisas), Realidade Virtual e Aumentada, Digital Signage, etc. Nosso envolvimento com a transformação dessas inovações em proposições de negócios nos trouxe muitos ensinamentos.
Notamos que em alguns casos ainda existe um gap de aceitação do novo entre as diversas áreas de uma empresa.
A inovação mais desafiadora é a que envolve projetos focados na melhoria da experiência do usuário – seja um cliente interno ou externo –, que integram o ambiente físico e digital, que reconhecem os usuários (clientes e prospects) em ambientes digitais como redes sociais e outros veículos. Essas ambiciosas empreitadas demandam um momento de planejamento, desenho e projeto que tem de agregar áreas e pessoas da empresa que vão além do domínio tecnológico. É fundamental integrar no processo de inovação os experts em vendas, marketing e produtos da corporação que se reinventa.
Quem seguir esse modelo irá minimizar os riscos de insucesso.
O oposto disso – a empresa que busca inovação sem ter a coesão interna necessária para isso – cria proposições indesejadas ou impraticáveis e situações de total falta de sinergia.
O desnivelamento da cultura de inovação de uma empresa pode ser o maior vilão para o fracasso total ou parcial de um projeto que foi concebido para melhorar a experiência de seus clientes. Neste contexto, o que deveria trazer ganhos para a empresa – a inovação que renova e reforça o valor da marca – acaba causando inesperados prejuízos.
Os projetos tecnológicos mais inovadores são ousados e disruptivos – se assim não fosse, não seriam novos. A empresa que busca desenvolver e entregar o produto inédito, pioneiro e arrojado pode ser bem-sucedida e encontrar um remédio para problemas reais que, sem a inovação, pareceriam eternos. Quem atinge essa marca muda o mundo, muda o mercado. Quem, no entanto, se perder em exageros ou excessos que extrapolem os limites do aceitável, pode ingerir um horroroso e vexaminoso veneno.
Paulo Henrique Pichini, CEO & President da Go2neXt Cloud Computing Builder & Integrator.